quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pergaminhos

- Os nossos vizinhos espanhóis estão a dar uma lição. Convidam todos os portugueses doentes de Valença a deslocarem-se a Tui, onde os Serviços Sociais os atenderão a todos.
Foi a minha amiga, que não perde pitada para se sensibilizar com os gestos nobres, que se saiu com a frase da sua sensibilidade. Eu ainda achei que ela talvez exagerasse no seu entusiasmo, e que os nossos vizinhos espanhóis estariam era a angariar mais divisas para si, mas não, tratava-se de atendimento à borla, o que me encheu as medidas de gratidão. Até tive pena por não ser de Valença, onde os nossos Portugueses fecharam a porta na cara à coordenadora do Centro de Serviço de Atendimento Permanente, principal responsável pelo seu encerramento. Tudo na maior compostura e educação, não é cá como os arruaceiros do Sul, lá em Valença puseram-se à porta do SAP, sem gritos e impediram que a coordenadora entrasse, o que a fez dar meia volta de regresso ao seu automóvel, tudo com absoluto mutismo seu, apesar de um cavalheiro atrás dela tentar explicar-lhe as razões das decisões que haviam tomado os de Valença, que já são cidade e não querem ir ao centros de de Monção nas urgências, ciosos dos seus pergaminhos, com muita razão, que pergaminho sempre é pergaminho, não deve deixar os seus créditos por pergaminhos alheios.
A minha Mãe quando partiu o fémur, numa segunda feira, foi às urgências de Cascais onde esteve umas poucas de horas para fazer a radiografia, dali partiu – após mais horas de espera pela ambulância, para o hospital S. Francisco Xavier, no Restelo, e finalmente tomar o caminho do hospital de Santana, na Parede, pelas tantas da madrugada, para ser operada na sexta-feira seguinte. Andou em bolandas a carregar as suas dores numa perna de 102 anos. São os nossos serviços, sem pergaminhos, carregam-se os doentes, ou abandonam-se nas macas, indiferentes aos seus protestos contra o mal-estar ou o frio, mal os deixando acompanhar por um familiar atento, embora impotente no seu desejo de protecção. Horas fantasmagóricas, de desconforto na espera, com ambulâncias a chegar e a despejar continuamente pessoas com dores.
Mas tivemos sorte, porque a operação foi um êxito, às vezes não é. Hoje soube de uma senhora que foi operada há cinco anos ao fémur também. Mas o nervo ciático foi atingido, há cinco anos que está acamada, deixou de andar, bastante mais nova que a minha Mãe. E outros casos conheço, de desastre em operação aos ossos, no hospital Egas Monis, num hospital de Trancoso... Graças a Deus que existem os hospitais franceses para a remediação com êxito.
Mais do que os pergaminhos, o que se deveria defender sempre era a competência. Felizmente há cá as “Novas Oportunidades” da nossa fé.

Nenhum comentário: