quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

«Chiu»


Um título a glosar e a apoiar o artigo – «Sem Barulho» -
de Vasco Pulido Valente,
que dará o brado que merece,
tão justas e certeiras são as observações
neste seu quase diário mergulho
próprio de um espírito
extremamente clarividente,
como é
o de Pulido Valente,
sobre o que se passa com a gente:
Saiu no “Público” do dia 20,
décimo segundo mês,
deste ano do Senhor, 2013,
que para o ano será melhor
- se for.
É sobre mais um partido a formar,
neste nosso país de aquém mar
com algumas ilhas muito belas em redor,
por isso 2014 deverá ser
melhor:
um partido de mais uns tantos
Vencidos da Vida
que é o mesmo que dizer
de “barões assinalados”
que se propõem salvar
a pátria dos seus antepassados,
certamente que com graves almoçaradas
próprias do vencidismo e das mais patacoadas
a que nos habituámos
neste nosso reino lusitano
bacano.
Leiamos
para que saibamos,
na esperança de nos safarmos
com esse novo partido convencido
de que nos vai dar o paraíso,
embora de ambição semelhante
à dos fundadores de antigamente
- desde o 25 de Abril primaveril:

 «Sem barulho»

O Dr.Manuel Carvalho da Silva, depois de ter garantido na Rádio Renascença que não tencionava fundar um novo movimento político, assinou um papel em que se comprometia a fundar um “amplo” movimento político que apoiasse uma candidatura ao Parlamento Europeu. O Dr. Carvalho da Silva não é, evidentemente, obrigado a pensar hoje o que pensou ontem; e de toda a evidência nada lhe garantia ser o nº 1 de uma lista eventual do “Partido Livre”. Apareceu, assim, um manifesto, o “manifesto 3 D”, que oferece uma espécie de partido aos portugueses, desde “erradicar a pobreza” a “pôr fim aos resgates”, com esse ou outro nome. Não falta nesse caderno de encargos nada que um adolescente analfabeto não pudesse querer, excepto a ideia um pouco obsoleta de ressuscitar os mortos.

Os 3D do Partido Socialista em 1974 eram “descolonizar, democratizar e desenvolver”. Os 3D de hoje são “a dignidade, a democracia e o desenvolvimento”. Aparentemente, 40 anos não chegaram para o trivial, apesar dos fundos da “Europa” e muita parlapatice. Como os promotores do “movimento” dizem, e dizem bem, “é tempo” de tratar seriamente do caso. Infelizmente, a grande maioria desses promotores já tentou e já falhou na missão urgente de salvar a pátria. Vieram do PC, do Bloco, do PS, do vaporoso “Partido Livre”, mesmo do lúgubre PRD do general Eanes. Ou seja, arrastam atrás de si uma carreira de tristeza e fracasso, de inutilidade e arrependimento. Muitos estão, de resto, reformados e não se deviam meter em aventuras liceais, deviam ficar em casa a beber chá e a ler os livros que não leram.

O actual modo de vida dos “promotores” também não inspira uma especial confiança. Há dúzias de professores de Lisboa e de Coimbra, artistas de vária pena e pinta, um doutorando em “estudos de cinema” e um humorista. Mas ninguém, ou quase ninguém, ligado a uma empresa, ou a uma câmara, ou a qualquer serviço da administração central. O “programa” do “manifesto” mostra esta ignorância essencial. Parece que os “promotores” imaginam que a sua vontade só por si, reunida, por exemplo, num hotel ou no Teatro Trindade, basta para mudar o mundo e o país. Não basta, como é óbvio. Bastará talvez para eleger Manuel Carvalho da Silva (ou um anónimo solitário) deputado ao Parlamento Europeu, onde o mandarão calar como ele merece. A esquerda “sem filiação” devia arranjar outra maneira de se entreter. Sem barulho.

 Eis uma lição magistral -
mais uma - que nos ensina,
- tal como o fado fatal -
histórias da nossa sina.
Só duvido do “arrependimento
dos promotores do tal movimento.
“Se bem me lembro”,
nunca ninguém o afirmou,
nem se enforcou
na figueira da sua penitência,
como o Judas da outra pendência.
Paciência!
Mas concordo com o “chá
e com os livros nunca lidos
pelos falsos arrependidos
e mais etc. e tal.
Peço perdão pela escolha
do verso da minha sina,
duma rima pequenina,
risonha e livre
de arabescos belos.
Usei-o como um brinquedo, afinal,
Trazido pelo Pai Natal
só para mandar o meu "chiu"
a tanto piu piu.

 

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