domingo, 1 de dezembro de 2013

Se queres conhecer o vilão…

“Segundo fordes poderoso ou mísero…”

Eis uma máxima que La Fontaine
Coloca em subtítulo adaptável
À sua fábula “O Poderoso e o Miserável
Com que termina outra fábula -
Os animais doentes da peste” -
Na qual, por causa da peste que grassara
Na sua Corte, o Rei Leão reunira
Os vários animais para que se acusassem
Dos seus pecados,
A fim de que o mais pecador
Servisse, como danado,
Para ser sacrificado
A Júpiter, e este assim amansasse
E da peste os libertasse.
Todos foram declarando, com mais ou menos razão,
Os seus pecados, a começar pelo Rei Leão
Que a Raposa logo defendeu
Com a astúcia habitual
Que os mais animais imediatamente,
- O Tigre, o Urso, o Chacal -
Apoiaram com subserviência animal
Que é, afinal,
A de toda a gente.
Surgiu o Burro que, inocentemente,
Referiu a erva que roera,
Por estar muito esfomeado
Num prado que pertencia
A uma Confraria
De frades. Grande pecado!
E foi este o sacrificado,
O pobre do Burro enfezado.
E termina deste modo
A tal fábula do burro paspalhão:

“Segundo fordes poderoso ou mísero,
Os julgamentos da corte de vós farão
Ou branco ou preto”.

Muito certo.
É claro que não se trata
De nenhuma afirmação racista
Esta do branco e do preto,
Mas pura metáfora simplista
Do tratamento diverso
Social
Entre a gente animal.

Mas vejamos então
A fábula “O Poderoso e o Miserável
Que tem como introdução
A frase com reticências
Que serve de conclusão
À fábula citada antes,
Mas concluída,
E de diferente moral:

 «O Poderoso e o Miserável”

“Segundo fordes poderoso ou mísero…
 «… Deste famoso adágio de fábula
Não rebatamos a razão,
Ela será sempre uma boa razão!
Quanto a esta outra fábula,
 Foi todavia ao mais forte
Que um fraco venceu desta sorte:

Assim, de maneira fortuita
Quando o Senhor vinha de visita
Ao seu povo, um indigente
Diante do seu Senhor se encontrou,
E o olhou ocasionalmente,
Para o qual era proibido olhar.
Ao baixá-lo, e cedo demais erguê-lo
Sobre sua Senhoria,
Logo este afirmaria
Dum modo muito irado:
«Eis que é inesperado!
Diz-me se a loucura teus olhos guia
Para improváveis Deuses?”
Não julgando tão bem falar,
O Vilão responde ao seu Senhor:
“- Santidade, eu sei-me, relativamente a vós,
De bem pequeno poder;
Todavia,
Contemplando dos Céus a extensão,
Receio que vós não igualeis
Nenhuma das suas parcelas, nem sequer
O seu Rei Sol de cuja maravilha                    
Vos enfeitais!»

Crime de lesa-majestade?
Sem dúvida… segundo a máxima cimeira;
Mas aqui, para muitas altas cabeças
É verdade bem certeira.»

Também Victor Hugo lembraria
A singularidade de tratamento
Com que a Justiça pune os homens
Conforme matam a fome
Da sua miséria ou da sua ambição.
E não há meio de alterar
Tal condição.
Se queres conhecer o vilão
Põe-lhe a vara na mão,
É o que  se diz
Neste nosso país.
E a vara do dinheiro
É poderoso instrumento
Que torna vilão
O homem mais bento.
Vemo-lo a cada passo
Neste nosso mundo crasso.

 

 

 

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