quinta-feira, 15 de maio de 2014

Aos baldões



Mais dois estudos de  Vasco Pulido Valente sobre o que por cá se passa, ao nível do Governo e ao nível do PS. O do dia 10/5/14, do Público,  - «25 de Maio: o destino do Governo» - misturando sabiamente o seu pensamento crítico elaborado, com o consenso crítico da vociferação geral, prevendo o desastre do Governo nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, no ódio sabiamente incutido pelos habituais instiladores do descontentamento nas massas, altruístas tartufianos, desordeiros, como forma vingativa de fazerem sentir diferenças, apontando aos do Governo as maldades e irregularidades que, aliás, eles próprios também cometeriam se fossem os donos do mando, o que só aconteceu nos idos de 74/75, como Pulido Valente já explicou, exprobando a violência criminosa desses tempos, sabendo que os tais estão no terreno do ataque que a democracia lhes confere, porque não conseguem chegar ao terreno do poder, pois que o povo do seu altruísmo, tirando os do costume, não vai na sua conversa de enfiada... fiada.
Ao pôr-se do lado dos que achincalham e só põem defeitos, Pulido Valente quer mostrar também as suas incompatibilidades, colaborando para a expulsão desses partidos que ele devia convir, como já o fez, que talvez não pudessem fazer outra coisa, no aperto  económico que lhes foi imposto. Esta argumentação de “uma no cravo outra na ferradura”, que nos vai criando espectativas de diferente cariz, incomoda quem deseja encontrar valores portugueses que contribuam para nos endireitar a alma aos solavancos, com tais vaidades opiniosas de diferente dimensão e ferocidade, para contentar, de momento, os da mó de cima, que voltam a opinar, nos caprichos da senilidade embora, e ele sabe-o bem.
Eis o seu artigo, de 10/5:

«25 de Maio: o destino do Governo »
«Faltam quinze dias para as eleições de 25 de Maio e o Governo já inaugurou a campanha eleitoral com um Conselho de Ministros “aberto”, absurdo e congratulatório. Mas não é agora que pode corrigir os erros do passado. O primeiro erro foi a maneira como se apresentou ao país em 2011. Não penso aqui nas promessas que não cumpriu, na catastrófica situação que tranquilamente ignorou e nas muitas mentiras que disse. Penso que, nessas semanas, definiu por uma vez os seus fins e o seu carácter. Apareceu como um Governo de “salvação” e não como um Governo de resistência, indispensável para evitar uma calamidade maior. Isto as pessoas perceberiam, sobretudo se os seus fins tivessem sido definidos e estabelecido um calendário cumprível. As oscilações internas do princípio, a insuportável arrogância dos senhores da economia e das finanças e o silêncio que se fez sobre as responsabilidades de Sócrates deixaram o CDS e o PSD no único papel de espremer os portugueses.
Ainda por cima, as constantes querelas e contradições entre Portas e Passos Coelho, e entre os próprios ministros, criaram um clima de indisciplina, e uma suspeita de hipocrisia (e dolo, insinuam alguns), que não se recomendava a ninguém e que, pouco a pouco, carregaram o Governo com uma triste imagem de incompetência e desorientação, que não passou e não passará tão cedo. A saída da troika não consola ou alivia os portugueses, que assistiram a estes três anos e se sentiram constantemente vítimas da improvisação, do oportunismo e da intriga, mesmo quando reconheciam a necessidade de pôr as contas em ordem (ou, pelo menos, de não continuar a viver da dívida) e estavam dispostos aos inevitáveis sacrifícios dessa brutal empresa.
Mas, para lá destas razões, que chegam e sobram, fica o sacrifício real que o país teve de “aguentar” (uma palavra que antigamente se usava para as cavalgaduras). Desde a maior miséria à pobreza envergonhada da classe média, que persiste em se agarrar a uns restos do seu antigo estatuto, não houve praticamente português que se não sentisse humilhado e vexado. Estas coisas não se esquecem e não se desculpam. As pessoas, por mais que ouçam a retórica optimista do Governo, não irão votar nele. Nenhum argumento as convencerá que Portugal está bem ou está melhor. Doídos e desconfiados, não querem tornar a ver a gente que os levou ao extremo a que chegámos. A libertação para eles não é a falsa abstracção da “saída limpa”. É a “saída” pura e simples do Governo e, se calhar, dos partidos que o sustentaram.»

Quanto ao artigo de 11/5/14 – “O desapontamento” –  é mais um excelente retrato de uma personagem que vai suceder às que actualmente lideram a Nação, o que a ninguém causa conforto, na imperícia dos seus discursos de empáfia grotesca, aflitivamente vazios de substância e orientação política capaz.
Assim condenados ao desastre, no derrotismo do nosso descontentamento, resta-nos a oração.  Estamos em Maio, o mês de Fátima, oremos a Fátima.

Mas horrorizemo-nos, de passagem, com o que contou o mesmo Público de 11/5 - «Ex-conselheiro de Durão diz que empréstimos a Portugal e Grécia foram resgates à banca alemã» - cuja síntese extraio da Internet, depois de ler a longa entrevista de Isabel Arriaga e Cunha, em Bruxelas, a Philippe Legrain - embora com o nosso pensamento desconfiado e ignorante, de que talvez também haja no conselheiro francês alguma pedra no sapato escondida, quer para acentuar que a honestidade do Governo no resgate da dívida não passou de provincianismo parolo e subserviente, e desvalorizando, pelo ridículo, os sacrifícios impostos e sofridos, quer para condenar as políticas da srª Merkel, que estão prestes a desabar sobre a economia francesa, quer, enfim, para deitar mais uma acha no incêndio de uma Europa a desfazer-se em vagalhões de fumos ... :
«As ajudas externas a Portugal e à Grécia foram um resgate aos bancos franceses e alemães. Esta é a opinião é de Phillippe Legrain, ex-conselheiro de Durão Barroso na Comissão Europeia.
Em entrevista publicada pelo jornal «Público», Legrain diz que o sector bancário dominou o poder político dos países da União Europeia, que preferiu salvar os bancos com consequências muito graves para as finanças públicas.
O ex-conselheiro de Durão Barroso entende que os cortes salariais no sul da Europa foi uma medida errada e que só agravou a recessão e provocou o aumento da dívida.
Legrain dá o exemplo dos fabricantes portugueses de calçado, que contrariaram a política de cortes e salários baixos e conseguiram chegar ao topo do mercado mundial.»

Eis o artigo de Vasco Pulido Valente, de 11/5:
«O desapontamento»
«O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.
Nunca percebi bem como Seguro foi parar a secretário-geral do PS, na ressaca da derrota de 2011. Provavelmente, os bandos da casa, que Sócrates cuidadosamente desfizera, ainda se não tinham redefinido e armado e preferiram escolher por um tempo uma personagem inócua, incapaz de tomar sozinha conta do partido.
Mas, para seu mal há uma espécie de mediocridade tenaz que não se remove com facilidade. Seguro repetiu até agora os lugares-comuns que se esperavam dele, sem se enganar catastroficamente, apesar de algumas mudanças de estratégia que as circunstâncias pediam. Claro que, com o seu ar de menino de escola papagueando a lição, Seguro não entusiasma ninguém e muitos militantes desconfiam que ele não vai conseguir esmagar o CDS e o PSD, como acto preparatório para as legislativas.
Só que Seguro já despachou para a “Europa” os rivais que eram para ele um verdadeiro perigo (excepto António Costa), para evitar sarilhos no caso de um (sempre relativo) fracasso e para dividir as responsabilidades desse fracasso, se ele, por azar, acontecer. De qualquer maneira, o PS vive num dilema de que é difícil sair. Por um lado, precisa de evitar um radicalismo que o faça perder a confiança dos mercados e dos donos da “Europa”, porque sem eles não governará dois dias. E, por outro, precisa de amansar a opinião radical, desde o dr. Mário Soares, ainda uma grande influência, a umas centenas de “socráticos”, fracos mas persistentes, que esperam a sua hora. Daí que Seguro balance entre uma atitude às vezes razoável e uma ocasional brutalidade contra o governo, sem objecto, nem consequência.
Sucede que o cidadão comum vê as coisas como elas são. Percebe, por exemplo, que o PS, se chegar ao governo, não lhe vai trazer nenhum alívio e que seguirá em grosso a política de Passos Coelho e Paulo Portas. Percebe que a esquerda do partido só serve para irritar os credores e para perder os votos de um eleitorado pacífico e, principalmente, farto de aventuras e de aventureiros. E percebe o perigo de confiar as finanças do Estado e uma economia exangue a um partido que vocifera contra os mercados e contra o que ele chama “neo-liberalismo”. Quem tem dinheiro debaixo da almofada não o arriscará um tostão (um voto) nos socialistas, notoriamente inclinados para trapalhadas de dinheiro e maus negócios. O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.»

Nenhum comentário: