Mais dois estudos
de Vasco Pulido Valente sobre o que por
cá se passa, ao nível do Governo e ao nível do PS. O do dia 10/5/14, do
Público, - «25 de Maio: o destino do
Governo» - misturando sabiamente o seu pensamento crítico elaborado, com o
consenso crítico da vociferação geral, prevendo o desastre do Governo nas
próximas eleições para o Parlamento Europeu, no ódio sabiamente incutido pelos
habituais instiladores do descontentamento nas massas, altruístas tartufianos, desordeiros,
como forma vingativa de fazerem sentir diferenças, apontando aos do Governo as
maldades e irregularidades que, aliás, eles próprios também cometeriam se
fossem os donos do mando, o que só aconteceu nos idos de 74/75, como Pulido
Valente já explicou, exprobando a violência criminosa desses tempos, sabendo que
os tais estão no terreno do ataque que a democracia lhes confere, porque não
conseguem chegar ao terreno do poder, pois que o povo do seu altruísmo,
tirando os do costume, não vai na sua conversa de enfiada... fiada.
Ao pôr-se do
lado dos que achincalham e só põem defeitos, Pulido Valente quer mostrar também
as suas incompatibilidades, colaborando para a expulsão desses partidos que ele
devia convir, como já o fez, que talvez não pudessem fazer outra coisa, no
aperto económico que lhes foi imposto.
Esta argumentação de “uma no cravo outra na ferradura”, que nos vai criando
espectativas de diferente cariz, incomoda quem deseja encontrar valores
portugueses que contribuam para nos endireitar a alma aos solavancos, com tais
vaidades opiniosas de diferente dimensão e ferocidade, para contentar, de
momento, os da mó de cima, que voltam a opinar, nos caprichos da senilidade
embora, e ele sabe-o bem.
Eis o seu
artigo, de 10/5:
«25 de Maio:
o destino do Governo »
«Faltam quinze dias para as eleições de 25 de Maio e o
Governo já inaugurou a campanha eleitoral com um Conselho de Ministros
“aberto”, absurdo e congratulatório. Mas não é agora que pode corrigir os erros
do passado. O primeiro erro foi a maneira como se apresentou ao país em 2011.
Não penso aqui nas promessas que não cumpriu, na catastrófica situação que
tranquilamente ignorou e nas muitas mentiras que disse. Penso que, nessas
semanas, definiu por uma vez os seus fins e o seu carácter. Apareceu como um Governo
de “salvação” e não como um Governo de resistência, indispensável para evitar
uma calamidade maior. Isto as pessoas perceberiam, sobretudo se os seus fins
tivessem sido definidos e estabelecido um calendário cumprível. As oscilações
internas do princípio, a insuportável arrogância dos senhores da economia e das
finanças e o silêncio que se fez sobre as responsabilidades de Sócrates
deixaram o CDS e o PSD no único papel de espremer os portugueses.
Ainda por cima, as constantes querelas e contradições entre
Portas e Passos Coelho, e entre os próprios ministros, criaram um clima de
indisciplina, e uma suspeita de hipocrisia (e dolo, insinuam alguns), que não
se recomendava a ninguém e que, pouco a pouco, carregaram o Governo com uma
triste imagem de incompetência e desorientação, que não passou e não passará
tão cedo. A saída da troika não consola ou alivia os portugueses, que
assistiram a estes três anos e se sentiram constantemente vítimas da
improvisação, do oportunismo e da intriga, mesmo quando reconheciam a
necessidade de pôr as contas em ordem (ou, pelo menos, de não continuar a viver
da dívida) e estavam dispostos aos inevitáveis sacrifícios dessa brutal
empresa.
Mas, para lá destas razões, que chegam e sobram, fica o sacrifício
real que o país teve de “aguentar” (uma palavra que antigamente se usava para
as cavalgaduras). Desde a maior miséria à pobreza envergonhada da classe
média, que persiste em se agarrar a uns restos do seu antigo estatuto, não
houve praticamente português que se não sentisse humilhado e vexado. Estas
coisas não se esquecem e não se desculpam. As pessoas, por mais que ouçam a
retórica optimista do Governo, não irão votar nele. Nenhum argumento as
convencerá que Portugal está bem ou está melhor. Doídos e desconfiados, não
querem tornar a ver a gente que os levou ao extremo a que chegámos. A
libertação para eles não é a falsa abstracção da “saída limpa”. É a “saída”
pura e simples do Governo e, se calhar, dos partidos que o sustentaram.»
Quanto ao artigo de 11/5/14 – “O desapontamento” – é mais um excelente retrato de uma personagem
que vai suceder às que actualmente lideram a Nação, o que a ninguém causa conforto,
na imperícia dos seus discursos de empáfia grotesca, aflitivamente vazios de
substância e orientação política capaz.
Assim condenados ao desastre, no
derrotismo do nosso descontentamento, resta-nos a oração. Estamos em Maio, o mês de Fátima, oremos a Fátima.
Mas horrorizemo-nos, de passagem,
com o que contou o mesmo Público de 11/5 - «Ex-conselheiro de Durão diz que empréstimos a Portugal e Grécia foram
resgates à banca alemã» - cuja
síntese extraio da Internet, depois de ler a longa entrevista de Isabel Arriaga
e Cunha, em Bruxelas, a Philippe Legrain - embora com o nosso pensamento desconfiado e ignorante, de que talvez também haja no conselheiro francês alguma pedra no sapato escondida, quer para acentuar que a honestidade do Governo no resgate da dívida não passou de provincianismo parolo e subserviente, e desvalorizando, pelo ridículo, os sacrifícios impostos e sofridos, quer para condenar as políticas da srª Merkel, que estão prestes a desabar sobre a economia francesa, quer, enfim, para deitar mais uma acha no incêndio de uma Europa a desfazer-se em vagalhões de fumos ... :
«As
ajudas externas a Portugal e à Grécia foram um resgate aos bancos franceses e
alemães. Esta é a opinião é de Phillippe Legrain, ex-conselheiro de
Durão Barroso na Comissão Europeia.
Em
entrevista publicada pelo jornal «Público», Legrain diz que o sector bancário
dominou o poder político dos países da União Europeia, que preferiu salvar os
bancos com consequências muito graves para as finanças públicas.
O
ex-conselheiro de Durão Barroso entende que os cortes salariais no sul da
Europa foi uma medida errada e que só agravou a recessão e provocou o aumento
da dívida.
Legrain
dá o exemplo dos fabricantes portugueses de calçado, que contrariaram a
política de cortes e salários baixos e conseguiram chegar ao topo do mercado
mundial.»
Eis o artigo de Vasco Pulido Valente, de 11/5:
«O
desapontamento»
«O
25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de um
desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de resto.
Nunca percebi bem como Seguro foi
parar a secretário-geral do PS, na ressaca da derrota de 2011. Provavelmente,
os bandos da casa, que Sócrates cuidadosamente desfizera, ainda se não tinham
redefinido e armado e preferiram escolher por um tempo uma personagem inócua,
incapaz de tomar sozinha conta do partido.
Mas,
para seu mal há uma espécie de mediocridade tenaz que não se remove com
facilidade. Seguro repetiu até agora os
lugares-comuns que se esperavam dele, sem se enganar catastroficamente, apesar
de algumas mudanças de estratégia que as circunstâncias pediam. Claro que, com
o seu ar de menino de escola papagueando a lição, Seguro não entusiasma ninguém
e muitos militantes desconfiam que ele não vai conseguir esmagar o CDS e o PSD,
como acto preparatório para as legislativas.
Só
que Seguro já despachou para a “Europa” os rivais que eram para ele um
verdadeiro perigo (excepto António Costa), para evitar sarilhos no caso de um
(sempre relativo) fracasso e para dividir as responsabilidades desse fracasso,
se ele, por azar, acontecer. De qualquer maneira, o PS vive num
dilema de que é difícil sair. Por um lado, precisa de evitar um radicalismo que
o faça perder a confiança dos mercados e dos donos da “Europa”, porque sem eles
não governará dois dias. E, por outro, precisa de amansar a opinião radical,
desde o dr. Mário Soares, ainda uma grande influência, a umas centenas de
“socráticos”, fracos mas persistentes, que esperam a sua hora. Daí que
Seguro balance entre uma atitude às vezes razoável e uma ocasional brutalidade
contra o governo, sem objecto, nem consequência.
Sucede
que o cidadão comum vê as coisas como elas são. Percebe, por exemplo, que o PS,
se chegar ao governo, não lhe vai trazer nenhum alívio e que seguirá em grosso
a política de Passos Coelho e Paulo Portas. Percebe que a esquerda do partido
só serve para irritar os credores e para perder os votos de um eleitorado
pacífico e, principalmente, farto de aventuras e de aventureiros. E percebe o
perigo de confiar as finanças do Estado e uma economia exangue a um partido que
vocifera contra os mercados e contra o que ele chama “neo-liberalismo”. Quem
tem dinheiro debaixo da almofada não o arriscará um tostão (um voto) nos
socialistas, notoriamente inclinados para trapalhadas de dinheiro e maus
negócios. O 25 de Maio, de que tanto se fala, não passará provavelmente de
um desapontamento tanto para a esquerda como para a direita. Merecido, de
resto.»
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