De Maria Eduarda Fagundes, médica ginecologista em Minas Gerais, naturalizada brasileira, mas portuguesa nascida no Faial, publica várias vezes o Dr. Salles, no seu blog “A Bem da Nação”, pequenos textos caracterizados por fluência e elegância de escrita, sentido de humor, sentido crítico, na suavidade de um discurso ora de evocação da sua terra, ora dos costumes brasileiros, ora de crítica serena aos condicionalismos da política brasileira, como o deste texto - «EDUCAÇÃO EM BAIXA» – que transcrevo, pela pertinência de uma argumentação aplicável ao caso brasileiro mas não exclusiva dele. Com efeito, a lógica dos seus dizeres está de tal forma implícita numa norma de sensatez conceptual, que parece que não há outra via de encarar a questão do ensino senão a que implica esforço e prática e que inclui a consulta do dicionário. E isso faz-se, os manuais escolares impõem um trabalho orientado, com questionários acompanhantes das matérias que vão transmitindo, que, a serem criteriosamente seguidos, deveriam obter melhores resultados no ensino. Creio que depende em grande parte das famílias, que deverão acompanhar os filhos, nos primeiros anos da sua formação, até estes criarem a sua própria autonomia.
Mas julgo que o que habitualmente se aponta sobre a ignorância juvenil, resulta do excesso de matérias que cada disciplina impõe e que não permite a memorização que outrora se fazia, em sabatinas para fixação, quer de tabuadas quer de verbos ou de advérbios, ou de dados históricos, como ponto de partida para o desenvolvimento da percepção. Desde que a memorização foi condenada pelas pedagogias com altivo desprezo, e o ensino se encaminhou por inteligentes charadas de cruzinhas em exercícios de resposta múltipla, o aluno não precisou mais de escrever, chegando aos anos finais mal sabendo ler e escrever, como provam os falhanços nos exames e os erros na vida pública.
Desviei-me da questão que é focada no artigo de Maria Eduarda Fagundes, sobre o projecto brasileiro de expansão livresca pela recriação dos textos de autores consagrados através da adulteração dos mesmos, no facilitismo da sua compreensão. É justo o apelo da escritora, justos os dizeres da sua condenação. Numa sociedade a crescer desenfreadamente, ao pretender nivelar-se todos pelo mesmo ensino, a massificação não permite que seja o mais elevado a impor o estatuto. Daí a tendência para o nivelamento por baixo…
O texto de Marias Eduarda Fagundes:
«EDUCAÇÃO EM BAIXA»
« VAMOS APRENDER A LER E A ESCREVER
CORRECTAMENTE
SEU FUTURO DEPENDE DISSO»
«Foi
notícia, e poucos se manifestaram; o Ministério da Cultura patrocina um
projecto para reescrever obras de autores clássicos brasileiros, de forma
“facilitada”, para que os alunos compreendam o que lêem e se interessem...
Agora não são os alunos que crescem, aprendendo novos termos, são os livros,
alterados, reeditados com outros vocábulos infantilizados, para atingir os
estudantes funcionalmente semi-alfabetizados. No meu tempo de escola
secundária, quando não conhecíamos os novos termos consultávamos o dicionário.
Era assim que nos instruíamos.
Depois
das cotas para negros, índios, alunos de escolas públicas, os concursos
públicos passaram a menosprezar o mérito e a exaltar as diferenças
sócio-raciais. Depois de escolas que não reprovam, tratando da mesma maneira
quem estuda e quem vagabundeia, depois da distribuição na rede pública de
livros e apostilhas com erros crassos de português, depois do desprestígio
salarial com que o governo contempla o magistério, depois da proliferação
politiqueira de escolas superiores, deficientes, que lançam todos os anos no
mercado de trabalho profissionais muitas vezes incompetentes, me pergunto:
Que
pretende um governo que promove e nivela a educação da juventude tão por baixo? »
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