Tal como o algodão. Não na detecção da sujidade, mas na
detecção da cor. Para ele é sempre o vermelho que convém atacar, sem meias
medidas. Mas o toureiro corta-lhe as vazas, nos seus malabarismos gingões -
tirando os casos de excepção, que até originam o remate das touradas, pelo
menos as reais. Mas só em Salvaterra, na opinião de Rebelo da Silva, parece que
bastante romanceada, secundada modernamente por Rodrigo, em melancólico fado,
que não chega a explicitar a barbaridade do desporto de matança na arena, e por
isso ele – esse nosso desporto – que já Voltaire condenava, num iluminismo de
difícil adequação entre nós, até porque já o nosso Eça o defendia (contra as
corridas de cavalos (defendidas pelo ponto de vista chique de Dâmaso Salcede), pela
opinião abalizada de Afonso da Maia, secundado pelo marquês de Souselas e
sobretudo pela formidável anuência do inglês Craft: «O quê, o toiro? Está claro!
O toiro devia ser neste país como o ensino é lá fora: gratuito e
obrigatório.» - esse desporto peninsular continua com adeptos, apesar das
leis promulgadas no tempo de D. Maria II, como se explica num texto que extraio
do blog “De Rerum Natura” de Carlos Fiolhais
(27/3/2009):
«D.
José pode não ter proibido as corridas de touros, mas D. Maria II fê-lo em todo
o território nacional. Em 1836, doze anos antes de Rebelo da Silva publicar o
seu conto, o ministro do Reino Passos Manuel promulgou um decreto proibindo as
touradas:
“Considerando que as corridas de touros são um divertimento
bárbaro e impróprio de Nações civilizadas, bem assim que semelhantes
espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade,
e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o
aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em
diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros.”
Serve todo este introito para
justificar o novo espaço aguerrido das nossas touradas, e as aparentes cores das
suas preferências – a Assembleia da República, onde, ao contrário dos touros,
os homens se enganam, por vezes, nas cores que adoptaram para se distinguirem
segundo os seus partidos. Com efeito, leio no texto “Parlamento” de Sofia
Rodrigues e Rita Brandão Guerra (Público, 10/5/14), com, em epígrafe, a
síntese «Passos admite nova subida de
impostos, caso haja chumbo do Constitucional» - que resume mais uma tragédia pendente sobre “os
portugueses e as portuguesas”, como os nossos políticos gostam de nos
designar, quer por simpatia envolvente quer por machismo distanciador.
Ora, no dito texto, afirma-se também que Seguro ironizou sobre o
discurso de Passos Coelho – outro Passos
a desejar erguer o país, mas com pouca margem de manobra, o que o levará,
talvez, um dia, a recitar o “tudo passei” com as implicações etimológicas e semânticas
que o nosso Camões também deu ao seu soneto “Erros meus, má fortuna…” .
Referiu Seguro o “país cor de rosa” que Passos estaria a
descrever e a impingir no seu discurso pós-troika e foi aqui que me admirei na atribuição
dessa cor. Com efeito, tivesse ele usado a designação laranja e eu não me
lembraria de contestar, pela imediata adaptação à realidade do partido,
reservando para o seu caso, de PS, a expressão colorida que apontou no rival.
Por isso me lembrei do touro que nunca ataca senão o vermelho e por aí se fica.
Esse facto leva-me a caracterizar Seguro com o epíteto “troca-tintas”, tal como
fez Cesário Verde, em resposta a um brincalhão daltónico que o cumprimentava
sempre trocando o Verde por outra cor: «Adeus, ó troca-tintas».
Não sei se assim foi com
Seguro - uma questão de daltonismo ou de falta de originalidade. O certo é que
Luís Montenegro respondeu a Seguro convenientemente, segundo o artigo do
Público:
«Luís Montenegro, líder do grupo parlamentar do PSD,
aproveitou mais tarde a ocasião para reagir ao “país cor-de-rosa” de
Seguro. E atacou a governação socialista de José Sócrates: “O país cor-de-rosa
era o país da dívida, do défice, da Parque Escolar, das PPP, do TGV, do novo
aeroporto (…). Esse era o país cor-de-rosa que nós tínhamos. Mas foi um país
que acabou mal.”
Montenegro quis depois saber qual é a estratégia orçamental
do PS para assegurar um Estado social mais eficiente, deixando um desafio aos
socialistas: “Ao menos em campanha eleitoral digam quais são as vossas ideias.”
Tudo isto é bastante enfastiante. Mas digam lá, sim, o que farão
e como farão.
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