sábado, 21 de março de 2015

Prosa em poema



Em resposta a uma proposta da Chiado Editora para colaborar na sua Antologia Poética deste ano de 2015, enviando um “poema” que não excedesse 30 versos, entretive-me a compor um “poema” na minha prosa destemida, que parece que foi selecionado. Foi hoje, 21/3/15 o lançamento da Antologia, a que faltei, no receio de que algum verdadeiro poeta se indispusesse contra poemas do tipo do meu, pura prosa em versos maus, que o não pretendiam ser, no seu significado de mero entretenimento de resposta a um desafio, espécie de palavras cruzadas do meu carpe diem possível, para a pacificação interior. Fica no meu blog, todavia, e se o Dr. Salles achar que não destoa no seu, por não ter pretensões a antologia, talvez também no “A Bem da Nação”:
«Entre o sono e o sonho»
Sono de apatia, sonho esperançoso
Que logo se desfaz em desespero,
Assim vivemos o nosso dia-a-dia
Na penúria de um constante matutar,
A ilusão perdidamente a descambar
Sem calçada de Carriche onde lancemos
Passadas de trupe-trupe ruidoso
E firme na rotina de um trabalho
Agora inexistente em muito lar,
Onde se dormita sem futuro à vista.
Ambições perdidas de um tempo incerto
Em que se mata a descoberto,
Crime contínuo de torpeza impune,
O mundo estrebuchando na loucura
Dum falso fanatismo de pretexto
Que esconde só maldade e muito medo,
Terra descomandada que virou tortura
De autofagia, de mitomania,
De melancolia sem lugar ao sonho,
Na sonolência que dão as vozes
Investigando, acusando, algozes,
Neste desconcerto sem acerto
Neste rodopiar de um destino incerto,
Nesta maldição de tropelia
Sem magia
Em que vivemos e nos debatemos,
Sem ar,
Quais peixes contorcendo-se fora da água
Prestes a morrer
Sem o saber.

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