Já é antigo o artigo de José Pacheco Pereira - A consagração dos mortos pela hipocrisia dos vivos – do Público de 4/4/15 – com, em epígrafe, a frase do
último parágrafo: «Querem comemorar os nossos mortos consagrados? Ajudem
os vivos a percebê-los» que imediatamente orienta para a solução
pedagógica de um homem culto, naturalmente, mas cuja cultura não nasceu de
jacto, e foi sendo burilada ao longo da vida, tem de o reconhecer.
Não sei se José Pacheco Pereira tem razão na sua
diatribe sobre a pedagogia do ensino, que lança sobre a leitura d´”Os Maias”
alunos que nunca leram um livro, falseando, naturalmente, a verdade, com o “nunca
“ da generalização drástica da sua asserção, só parcialmente verdadeira, como
em todo o sempre. Muitos alunos há hoje
que se informam e preocupam, como no tempo de Pacheco Pereira, quer ajudados
pela família, quer por interesse e inteligência próprios, que o tempo faz
evoluir. Pacheco Pereira, com uma arrogância de exclusividade cultural,
despreza in limine o ensino na escola, que tem que ser gradual e
obedecendo a parâmetros de aprendizagem progressiva, para se chegar à
contemplação estética e científica do quadro, do poema, do trecho musical ou da
filmografia arrastada de um génio - Manuel de Oliveira – toscamente endeusado na
sua longevidade pela maioria saloia, como é a nossa, mesmo que o não endeusemos.
Para além do mais, na sua arrogância ilimitada, Pacheco
Pereira não perde a ocasião de achincalhar Passos Coelho ou Paulo Portas, não
lhes desculpando a ignorância, patente no discurso convencionalmente
louvaminheiro das cerimónias fúnebres de grande envergadura social. Como se
fosse exclusivo desses o artifício, e não tivessem outras funções na vida que
essas de serem tão bem falantes ou cultos como José Pacheco Pereira, que, tal
como a brisa de Fernando Pessoa, “como tem tempo não tem pressa”,
deslizando suavemente pelas estantes do seu saber.
Eu até gosto a valer do discurso inteligentemente
rítmico de Paulo Portas e do discurso aberto e objectivo de Passos Coelho e
julgo que não lhes resta muito tempo para se ilustrarem com os poetas e os
cineastas da nossa extraordinária propensão para o preciosismo retórico ou de
pensamento, que provavelmente o tempo deixará de consagrar. É o caso,
parece-me, de Herberto Hélder, como exemplifico com um seu longo, repetitivo e
desconexo poema de uma consciência repleta de visões e sentimentos, fazendo-nos
ansiar pela visão poderosa do quadro do pintor expressionista norueguês, Edvard Munch, “O Grito”, que nos mantém a ele
colados (e aos outros da sequência), ou mesmo por qualquer poesia de Torga, leve
e subtil, com que termino, apenas para me refrescar do primeiro, que associo em
intenção narcisística e pedante a Manoel de Oliveira:
A consagração dos
mortos pela hipocrisia dos vivos
Não
há tão bom revelador do que é a elite portuguesa do que a maneira como trata os
mortos que entende serem “seus”. O festival de hipocrisia que avassala Portugal
sempre que morre um consagrado “consensual” revela as nossas enormes
fragilidades no espaço público, e uma mistura de reverência oca, de ignorância,
de imenso provincianismo e de uma ritualização pobre e subdesenvolvida. E aqui
os media e o poder político vivem em simbiose total.
Merecem
Eusébio, Herberto Helder, Manoel de Oliveira, José Silva Lopes, as homenagens
dos portugueses? Merecem sem dúvida, mesmo do “país” se o houvesse. Só que não
merecem estas “homenagens” político-mediáticas que tornam cada uma destas
figuras peças de cera de um museu morto, que se empacotam numa prateleira logo
que termina a exploração da sua morte e venha o esquecimento.
Deixemos
Eusébio que tem características especiais, uma das quais ser, nesta lista, o
único conhecido pelo povo e o mais “sentido” pelo povo, em Portugal, mas
principalmente em Moçambique. Aceitem esta simples dicotomia povo-elites que
uso apenas por comodidade de expressão e para não pesar sobre a economia do
texto.
Todos
os outros são praticamente desconhecidos pela maioria dos portugueses, e se
formosa falar da sua obra, então são tão remotos ao comum do povo como
Xenófanes de Cólofon. Só que o povo não se põe a falar destes homens como se os
conhecesse de intimidade, tivesse estudado a sua obra e por isso pudesse fazer
juízo de valor. Essa presunção não tem.
Herberto
Helder é um completo desconhecido, pelo povo e pela maioria das nossas elites,
que agora aparecem todas como íntimas de um poeta singular e difícil, que nunca
leram e sobre o qual disseram não só as maiores banalidades, como enormidades.
Manoel de Oliveira, que chegava ao povo mais por ter 106 anos do que pela sua
obra, era “conhecido” por ser autor de filmes intragáveis, que ninguém via até
o fim, ou sequer até ao principio, e gozado por filmar horas de filme em que
nada acontecia ou por fazer fotografia e não cinema. Fazia parte de um certo
anedotário que servia para mostrar desprezo pela cultura e pelos intelectuais,
ou então, no extremo oposto, como um génio intocável, que em tudo o que mexia
produzia arte intangível na sua grandeza absoluta. Estas duas atitudes são
aliás mais próximas do que se imagina, porque criam um ecrã sobre a obra que
dificulta um julgamento equilibrado e o exercício crítico.
A
ignorância sobre Herberto Helder manifestou-se também por este mesmo
desequilíbrio, reduzindo a história da poesia portuguesa do século XX a dois
“génios”, Pessoa e Helder. Pelo caminho, já esquecidas, estão idênticas
apreciações sobre, por exemplo, Eugénio de Andrade, Sophia e outros.
Por
ironia destas coisas, o menos comemorado, em parte porque todas as televisões,
rádios e jornais já tinham há muito preparado as peças necrológicas para Manoel
de Oliveira, e de Helder não havia muitas imagens, foi José Silva Lopes, o
único que as nossas elites políticas conheciam, tal como os espectadores
habituais do cabo, porque já não tinha mérito para ocupar os preciosos minutos
da televisão generalista. Silva Lopes também teve até agora a singularidade de
não ter tido internacionalmente as necrologias habituais, mas um pequeno
artigo de opinião no New York Times
online, nem
mais nem menos do que do Nobel da Economia Paul Krugman. Por isso, está tudo
trocado, e uma coisa é a repercussão pública oficial, com direito a mensagem
televisionada do Presidente no caso de Oliveira, e vários dias de luto
nacional, outra é a realidade da relação entre estas personalidades e a
consciência colectiva portuguesa, quer a do povo, quer a das elites.
Tudo
isto se passa num dos momentos em que a nossa elite política no poder mais
afastada está de qualquer preocupação intelectual e, com algumas raras
excepções, com elevados níveis de ignorância sobre qualquer matéria desta
natureza. Por isso é que se agarram ao discurso pomposo da comemoração
necrológica, que lhes dá uma espécie de álibi cultural que, de outra maneira,
não poderiam ter. Quanto mais ignorantes, mais comemorativos, podia ser um
axioma dos nossos dias.
O
problema não está apenas na parte do dinheiro que vai para a “cultura”, questão
que nunca considerei ser uma questão de cultura mas de “política de espírito”,
ou seja, a propaganda moderna que os Estados e os governos fazem usando a
intangibilidade das artes e da literatura para se promoverem ou aos seus
chefes. O melhor exemplo é a longa continuidade da política de Malraux, depois
de Lang, e no nosso caso de Manuel Maria Carrilho. Entre os seus cultores
nacionais estão políticos como Santana Lopes, que aliás mereceu elogios de
muita gente que hoje quer certamente esquecer-se de que foi “santanista” na
altura útil. Aliás, muita gente que se proclama liberal e de direita é
francamente a favor da subsidiação dos “criadores” e das “bolsas de escritores”
e outras perversidades.
Mas,
pelo contrário, entendo que o melhor que se pode fazer é tratar da cultura como
uma questão patrimonial, de educação, e mesmo de “indústria”, e aí há muita
coisa a fazer que os nossos homens do poder não fazem, e não querem fazer.
Temos muito património a esboroar-se, muito património a vender-se mais ou
menos às claras no estrangeiro, muita educação para as artes, quando existe, no
mesmo estado degradado do Conservatório, e mesmo uma “indústria cultural” muito
para além da Joana Vasconcelos, que se “vende” bem.
Se
se quer ajudar as pessoas a compreender o valor de Oliveira ou Herberto Helder,
ou melhor ainda, a serem “tocados” pelas suas obras, naquilo em que a criação
nos muda, troco dias de mensagens, votos de pesar, funerais nacionais (e agora
até a obrigação de colocar os corpos no Panteão...) e luto oficial, por medidas
minimalistas que ajudem a que se conheça a poesia portuguesa ou o cinema
nacional.
Seja
fazer com que nas livrarias e nas bibliotecas das escolas haja os clássicos
portugueses em edições límpidas e seguras, baratas e agradáveis (experimentem
procurar o Crisfal ou a Menina e Moça), que nas escolas os
professores possam fazer clubes de recitação, haja concursos nacionais de recitação
(com o “serviço público de televisão” ao lado); se forneça material de vídeo e
se ensine a filmar, a montar um filme, a ir para além dos vídeos do YouTube,
depois de se saber fazer vídeos para o YouTube; se forneçam os laboratórios das
escolas para se poderem fazer experiências de física e química; se ensine a
“ler” um quadro ou uma escultura, e, acima de tudo, que se ajude a curiosidade,
mais do que as abstractas “metas” das disciplinas escolares.
Estas
atiram alunos, que nunca leram um livro, para os Maias do Eça, cujo vocabulário,
metáforas, histórias mitológicas ou bíblicas desconhecem de todo, ou a aprender
nomenclaturas gramaticais que são decoradas e esquecidas no dia seguinte, ou a
atirar estudantes para Descartes e Kant (imaginem!) sem qualquer cultura geral
seja do que for.
Querem
comemorar os nossos mortos consagrados? Ajudem os vivos a percebê-los e não a
colocá-los numa prateleira, receando que o que haja de subversivo na sua
criação saia de lá e chegue à rua. O poder precisa de múmias e não de arte ou
cultura, e, nestes dias, a indústria de mumificação está em pleno.
A Bicicleta pela Lua Dentro - Mãe,
Mãe
A bicicleta pela lua dentro - mãe, mãe -
ouvi dizer toda a neve.
As árvores crescem nos satélites.
Que hei-de fazer senão sonhar
ao contrário quando novembro empunha -
mãe, mãe - as telhas dos seus frutos?
As nuvens, aviões, mercúrio.
Novembro - mãe - com as suas praças
descascadas.
A neve sobre os frutos - filho, filho.
Janeiro com outono sonha então.
Canta nesse espanto - meu filho - os satélites
sonham pela lua dentro na sua bicicleta.
Ouvi dizer novembro.
ouvi dizer toda a neve.
As árvores crescem nos satélites.
Que hei-de fazer senão sonhar
ao contrário quando novembro empunha -
mãe, mãe - as telhas dos seus frutos?
As nuvens, aviões, mercúrio.
Novembro - mãe - com as suas praças
descascadas.
A neve sobre os frutos - filho, filho.
Janeiro com outono sonha então.
Canta nesse espanto - meu filho - os satélites
sonham pela lua dentro na sua bicicleta.
Ouvi dizer novembro.
As praças estão resplendentes.
As grandes letras descascadas: é novo o alfabeto.
Aviões passam no teu nome -
minha mãe, minha máquina -
mercúrio (ouvi dizer) está cheio de neve.
Avança, memória, com a tua bicicleta.
Sonhando, as árvores crescem ao contrário.
Apresento-te novembro: avião
limpo como um alfabeto. E as praças
dão a sua neve descascada.
Mãe, mãe — como janeiro resplende
nos satélites. Filho — é a tua memória.
E as letras estão em ti, abertas
pela neve dentro. Como árvores, aviões
sonham ao contrário.
As estátuas, de polvos na cabeça,
florescem com mercúrio.
Mãe — é o teu enxofre do mês de novembro,
é a neve avançando na sua bicicleta.
O alfabeto, a lua.
Começo a lembrar-me: eu peguei na paisagem.
Era pesada, ao colo, cheia de neve.
la dizendo o teu nome de janeiro.
Enxofre — mãe — era o teu nome.
As letras cresciam em torno da terra,
as telhas vergavam ao peso
do que me lembro. Começo a lembrar-me:
era o atum negro do teu nome,
nos meus braços como neve de janeiro.
Novembro — meu filho — quando se atira a flecha,
e as praças se descascam,
e os satélites avançam,
e na lua floresce o enxofre. Pegaste na paisagem
(eu vi): era pesada.
O meu nome, o alfabeto, enchia-a de laranjas.
Laranjas de pedra - mãe. Resplendentes,
estátuas negras no teu nome,
no meu colo.
Era a neve que nunca mais acabava.
Começo a lembrar-me: a bicicleta
vergava ao peso desse grande atum negro.
A praça descascava-se.
E eis o teu nome resplendente com as letras
ao contrário, sonhando
dentro de mim sem nunca mais acabar.
Eu vi. Os aviões abriam-se quando a lua
batia pelo ar fora.
Falávamos baixo. Os teus braços estavam cheios
do meu nome negro, e nunca mais
acabava de nevar.
Era novembro.
Janeiro: começo a lembrar-me. O mercúrio
crescendo com toda a força em volta
da terra. Mãe - se morreste, porque fazes
tanta força com os pés contra o teu nome,
no meu colo?
Eu ia lembrar-me: os satélites todos
resplendentes na praça. Era a neve.
Era o tempo descascado
sonhando com tanto peso no meu colo.
Ó mãe, atum negro —
ao contrário, ao contrário, com tanta força.
Era tudo uma máquina com as letras
lá dentro. E eu vinha cantando
com a minha paisagem negra pela neve.
E isso não acabava nunca mais pelo tempo
fora. Começo a lembrar-me.
Esqueci-te as barbatanas, teus olhos
de peixe, tua coluna
vertebral de peixe, tuas escamas. E vinha
cantando na neve que nunca mais
acabava.
O teu nome negro com tanta força —
minha mãe.
Os satélites e as praças. E novembro
avançando em janeiro com seus frutos
destelhados ao colo. As
estátuas, e eu sonhando, sonhando.
Ao contrário tão morta — minha mãe —
com tanta força, e nunca
— mãe — nunca mais acabava pelo tempo fora.
Herberto Helder, in 'Poemas Completos'
As grandes letras descascadas: é novo o alfabeto.
Aviões passam no teu nome -
minha mãe, minha máquina -
mercúrio (ouvi dizer) está cheio de neve.
Avança, memória, com a tua bicicleta.
Sonhando, as árvores crescem ao contrário.
Apresento-te novembro: avião
limpo como um alfabeto. E as praças
dão a sua neve descascada.
Mãe, mãe — como janeiro resplende
nos satélites. Filho — é a tua memória.
E as letras estão em ti, abertas
pela neve dentro. Como árvores, aviões
sonham ao contrário.
As estátuas, de polvos na cabeça,
florescem com mercúrio.
Mãe — é o teu enxofre do mês de novembro,
é a neve avançando na sua bicicleta.
O alfabeto, a lua.
Começo a lembrar-me: eu peguei na paisagem.
Era pesada, ao colo, cheia de neve.
la dizendo o teu nome de janeiro.
Enxofre — mãe — era o teu nome.
As letras cresciam em torno da terra,
as telhas vergavam ao peso
do que me lembro. Começo a lembrar-me:
era o atum negro do teu nome,
nos meus braços como neve de janeiro.
Novembro — meu filho — quando se atira a flecha,
e as praças se descascam,
e os satélites avançam,
e na lua floresce o enxofre. Pegaste na paisagem
(eu vi): era pesada.
O meu nome, o alfabeto, enchia-a de laranjas.
Laranjas de pedra - mãe. Resplendentes,
estátuas negras no teu nome,
no meu colo.
Era a neve que nunca mais acabava.
Começo a lembrar-me: a bicicleta
vergava ao peso desse grande atum negro.
A praça descascava-se.
E eis o teu nome resplendente com as letras
ao contrário, sonhando
dentro de mim sem nunca mais acabar.
Eu vi. Os aviões abriam-se quando a lua
batia pelo ar fora.
Falávamos baixo. Os teus braços estavam cheios
do meu nome negro, e nunca mais
acabava de nevar.
Era novembro.
Janeiro: começo a lembrar-me. O mercúrio
crescendo com toda a força em volta
da terra. Mãe - se morreste, porque fazes
tanta força com os pés contra o teu nome,
no meu colo?
Eu ia lembrar-me: os satélites todos
resplendentes na praça. Era a neve.
Era o tempo descascado
sonhando com tanto peso no meu colo.
Ó mãe, atum negro —
ao contrário, ao contrário, com tanta força.
Era tudo uma máquina com as letras
lá dentro. E eu vinha cantando
com a minha paisagem negra pela neve.
E isso não acabava nunca mais pelo tempo
fora. Começo a lembrar-me.
Esqueci-te as barbatanas, teus olhos
de peixe, tua coluna
vertebral de peixe, tuas escamas. E vinha
cantando na neve que nunca mais
acabava.
O teu nome negro com tanta força —
minha mãe.
Os satélites e as praças. E novembro
avançando em janeiro com seus frutos
destelhados ao colo. As
estátuas, e eu sonhando, sonhando.
Ao contrário tão morta — minha mãe —
com tanta força, e nunca
— mãe — nunca mais acabava pelo tempo fora.
Herberto Helder, in 'Poemas Completos'
De Miguel Torga:
Fábula da fábula
Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
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