“Normalmente os maridos matam as
mulheres, neste país, um país deste tamanho”, saiu-se a minha amiga mansamente a
dizer, em corolário das histórias que estávamos a referir. E traçou no ar uma linha muito sumida, a
confirmar, o que deveras me chocou, habituada que estava às áreas no caso dos
mapas, pois éramos confrontadas na infância com essa questão das áreas, a de
Portugal Continental, de 89.000 km2, mais coisa menos coisa, a de Moçambique
sete vezes maior e a de Angola catorze. Fora as ilhas atlânticas e índicas, que
também contribuíam para o efeito espácio-temporal enobrecedor da nossa história
antiga. Não contando com o Brasil dos tempos de outrora que tinha uma batelada de
vezes mais de área, mas era lá com ele, embora se divirta agora a impor regras
de escrita a nós que as perdemos por sujeição de atribulação e falta de brio. Leio
na internet que por enquanto temos 92.212 km2 de área, mas sujeitos a modificações,
a erosão e as alterações climáticas, com os gelos derretidos no Ártico, em cada
ano trazendo correcções ao tamanho, engolindo terreno. Mas de facto ainda não
chegámos a tão despicienda linha como a que a minha amiga traçou no ar, o que até me enervou,
embora a sua mão seja maior do que a minha para preservar uma maior dignidade,
a lembrar “As mãos” esguias do Rodin.
Contava a minha Paula histórias de
provocação de alunos da sua escola, para corolário daquelas que ultimamente servem
de abertura aos telejornais e foi então que a minha amiga lançou a sua frase bombástica
que nos fez rir mas a mim me sensibilizou negativamente na questão da linha
traçada no ar.
O que predominou no nosso café de
domingo foi, pois, a violência até por cá, que costumávamos ser tranquilos, e
eu nem pude contar o prazer de um espectáculo que vira na véspera, na TV5, com
o Patrick Sébastien, de uma energia e arte na efectivação dos seus shows
musicais que põem toda a gente a rir ou a cantar, enquanto as pessoas de que se
vai rodeando, na sua mesa, colaboram em vivacidade e colorido.
Foi a Patrick Sébastien que escutei
ontem a seguinte frase, dita com a exuberância e a simpatia de sempre:
«La vie… c’est pas quelque chose qui s’arrête. C’est
quelque chose qu’on refait…»
E nós aqui estamos indo, refazendo a
nossa, com as informações introdutórias dos telejornais, quais rosas colorindo os caminhos da nossa
bem-aventurança, sempre a refazer-se, sem parança: "La vie c'est pas quelque chose qui s'arrête".
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