Uma Revista Expresso, de 1 de Maio de 2015, plena
de informação e crítica, a começar na “Pluma Caprichosa” de tanto saber
e sabor, sobre os casos dramáticos da África e do ocidente asiático, entregues
aos bichos, que é como quem diz aos peixes mediterrânicos, depois dos
traficantes “negreiros” lhes terem marcado a rota e bebido o sangue do moderno
auxílio humanitário contra a demais barbárie perpetrada entre os seus povos,
com a conivência do mundo ocidental que, depois da liberdade que magnanimamente
lhes concedeu – no caso africano - em vez de os amparar, semeando entre eles os
instrumentos e a educação para o progresso, os abandona à selvajaria dos seus
novos ditadores – não mais exploradores, como foram os primitivos colonizadores
– aos quais fornecem as armas – e, nos casos de mais esplendor e cultura, a modernidade
e o luxo asiático de cortar a respiração. E sempre em benefício próprio, a
troco do “ouro negro” necessário à manutenção do seu poderio no mundo. Um
cinismo efectivo nas relações do Ocidente ou do Norte, com esses povos - as
ajudas humanitárias por um lado, o fornecimento de armas cauteloso, por outro –
e, como resultado, as hordas de desgraçados em busca de sossego, milhares deles
encontrando-o nos pélagos profundos do “mare nostrum”, para horror universal.
Outro texto de uma “literatura” sombria, porque eivada
de preconceito antigovernamental, é o do comendador Marques Correia, uma cena
de auto “vicentino”, com o Anjo Santana tentando proteger os dois governantes
Passos e Portas, caídos de borco em devassidão etílica, humor destrutivo, de
mensagem não superior à dos homens e mulheres que na “Opinião Pública” da Sic
Notícias exprimem os seus saberes e as suas iras, industriados pelo verbo altissonante
dos seus chefes do discurso unilateral.
“Atrás das Grades” fez-me ler o texto sobre Carlos
Cruz, as informações sobre a forma como ele passa os dias, sobretudo escrevendo
e longe da filha, no impasse de ganhar a liberdade se reconhecer a culpa,
sujeito a tratamento hospitalar, ou continuar preso. Como a não reconhece, ali se
mantém, na sua prisão, quem sabe se em auto expiação cujo mérito aceita. A
extraordinária vida de um homem inteligente, sardónico, talvez devasso, que nos
habituámos a admirar, antes do “escândalo” que ensombrou este país, e a que
seguiriam tantos mais de calibre vário!
E novamente os “Migrantes”, em
reportagem de Cristina Pombo e Luís Barra, plenos de informações e de revolta
piedosa.
E “Os últimos dias de Hitler”, de vastos dados
sobre as monstruosidades vividas na altura.
Retomo, a
propósito, Vasco Pulido Valente, no Público, resumindo o tema (em
efeméride de suicídio que não possibilitou a punição vingativa dos homens), no
artigo “A morte de Hitler”, com a dimensão esclarecedora de sempre:
A morte de Hitler
3 de Maio de 2015
Hitler não morreu em Maio; morreu no dia 30 de Abril,
antes da rendição. Não o mataram, ele próprio se matou com um tiro na cabeça e,
para segurança, com uma cápsula de cianeto.
O último ano da guerra, quando o Reich já não tinha
salvação, foi o ano da guerra em que mais pessoas morreram e foram expulsas
mais pessoas dos sítios onde tinham nascido e vivido durante séculos. À volta
de 5000 maiorais do nazismo também se mataram para escapar às mãos do exército
aliado, que sabiam determinado a fazer alguma justiça. Os “notáveis”
conseguiram escapar e uma dúzia acabou em Nuremberga, onde a julgaram e
acabaram por enforcar. Entretanto, e para bem da humanidade inteira, desabava
um mundo, que felizmente jamais será possível reconstituir.
Em 1943, em Kursk, os russos liquidaram a força e a
organização da maioria dos corpos blindados de Hitler e começou a ofensiva
aérea da América e da Inglaterra que iria destruir a aviação alemã (e não
simplesmente, como hoje às vezes se alega, bombardear civis). No meio desta
radical revolta, Hitler resolveu passar à ofensiva contra a opinião maciça do
Estado-Maior. Não queria esperar passivamente a sua derrota e não lhe
interessava poupar a Alemanha a mais sofrimentos. Já sem a mais ténue ligação com
a realidade, desguarneceu a frente oriental para atacar Eisenhower e Montgomery
no preciso ponto em que ganhara em 1940. Mas perdeu, e perdendo, desperdiçou
também o resto do seu melhor armamento e o resto dos militares ainda capazes de
lutar.
Daí em diante, a guerra passou a ser uma carnificina,
em que a Hitler assassinou sistematicamente qualquer homem ou criança a que
arranjou maneira de deitar a mão. Cercado em Berlim, no “bunker” da
Chancelaria, não deixou por isso de dirigir exércitos que só existiam na sua
imaginação e executar as personagens por quem ele se achava traído. Milhares
morreram assim, dentro e fora dos campos de concentração, enquanto o Exército
Vermelho entregava a Prússia Oriental e uma parte da Silésia aos polacos e a
Checoslováquia expulsava os “sudetas” para a Alemanha: 11 milhões de alemães
apareceram subitamente nas zonas de ocupação inglesa e americana. Deste
apocalipse Hitler concluiu, num testamento sentimental e mentiroso, que a culpa
era da conjuração judeu-bolchevique, que nunca existira, excepto como pretexto
para ele matar 55 milhões de pessoas. A presunção de progresso e o primado da
vida humana acabaram assim e, mesmo hoje, tremem a cada assalto.
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