terça-feira, 16 de junho de 2015

“A Bem Nascida Segurança”



A professora de História do Bruno, a propósito do Estado Novo, penúltima matéria temática neste sexto ano de História, propôs aos seus alunos que pusessem aos seus avós as seguintes questões, que eles copiariam e leriam na turma:
As Perguntas:
1ª - Que pensa do regime de Salazar?
-Como era a vida no tempo de Salazar?
- Como era a Escola?
4ª - Alguma vez foi chamada à PIDE?
- Andou na Mocidade Portuguesa? O que fez lá?
6ª -  A Guerra Colonial: Esteve lá? Como foi?
O Bruno apresentou as perguntas e dispusemo-nos a trabalhar, naquela tarde de 5ª Feira, ele a copiar, eu a escrever.
As Respostas:
- Penso  que foi um regime de dureza necessário, porque salvou o nosso país por várias vezes de crises que Portugal atravessou. A primeira, foi como Ministro das Finanças, de 1928 a 1932. Portugal estava à beira da bancarrota, graças à instabilidade política, social e económica da 1ª República, e Salazar, com a sua política de contenção de despesas, conseguiu vencer o défice, embora com muito sacrifício do povo. Outro grande problema foi o da participação – ou não – na 2ª Grande Guerra, de 1939 a 1945. Salazar conseguiu seguir uma política de neutralidade e os portugueses não entraram na guerra, não lhe sofrendo os horrores. Por outro lado, com a sua política de Obras Públicas, Salazar contribuiu grandemente para o desenvolvimento do país. Mas discordo da sua ditadura, que não dava liberdade de pensamento aos portugueses. 
2ª -  A vida, durante a época de Salazar, era difícil, sobretudo nas classes mais pobres. Havia muita miséria, o povo andava descalço, havia muitos analfabetos. Mas o analfabetismo foi uma espécie de “doença” crónica no nosso país. Por outro lado, a classe média vivia melhor e podia educar os filhos nos liceus, escolas técnicas e nas universidades que havia em Coimbra, Lisboa e Porto. A classe mais rica tinha maiores prerrogativas, é claro, mais automóveis e casas melhores, com jardins e até piscinas.  
– A escola era um encanto. Havia ordem e disciplina, aprendiam-se os hinos da nação – a “Portuguesa” e o “Hino da Mocidade Portuguesa” – e outros , como o da “Restauração”. Os professores eram dum modo geral competentes, porque tinham tempo para prepararem as suas aulas, e nos intervalos brincávamos que era um regalo – à bola, ao paulito, ao berlinde… Também se praticava desporto, hóquei, vólei, basquetebol. 
- Quando andava no meu 7º ano do Liceu  (11º hoje), tive colegas que foram chamados à PIDE para informarem sobre as suas actividades e sobretudo leituras. Houve um colega que esteve preso uns dias e, quando apareceu na nossa turma, foi uma festa e ele chorou, mas nunca nos contou o que lhe aconteceu. Era o Fernando Gil, que foi professor e filósofo. 
- Não fiz parte da Mocidade Portuguesa, mas lembro-me do “Lá vamos cantando e rindo” que cantávamos, e de espectáculos de ginástica em que participávamos, todas vestidas de branco. Mas nunca nos impingiram as orientações nacionalistas que os da organização “Mocidade Portuguesa” deveriam receber. Eu sempre me considerei uma pessoa livre, mas cumpridora, e os livros que lia sobre a miséria dos povos – livros de escritores russos, brasileiros, portugueses – não me transmitiam revoltas contra o regime do Estado Novo, porque me limitei a estudar, quando estudante, e a trabalhar o melhor que pude, quando adulta. 
- Quando eclodiu a guerra  – em 1961 – eu estava em Moçambique, onde nasceram três dos meus filhos. Lembro-me das preocupações que vivemos, mas de repente o mundo abriu-se, Salazar enviou tropas portuguesas para Angola, Guiné e Moçambique, que se juntavam às tropas das respectivas colónias, chamadas posteriormente de províncias ultramarinas. Tive um cunhado que foi enviado como médico para o norte de Moçambique, mas levou a  mulher, deixando a filha entregue aos avós, que viviam numa fazenda perto de Quelimane. O meu primeiro marido também foi chamado para combater o terrorismo no norte de Moçambique, mas eu estava grávida do meu terceiro filho e fui ao Governo Geral suplicar que o não mandassem para lá, e continuou no seu Quartel de Boane, perto de Lourenço Marques, por mais algum tempo.  Anos depois, ainda em Moçambique, conheci o meu segundo marido, que fizera a tropa em Angola. Apesar de tudo, tanto Angola como Moçambique, desenvolveram-se extraordinariamente antes das descolonizações perpetradas pelos revolucionários de Abril de 1974. Nunca nos passara pela ideia que Portugal ia desfazer-se delas. Mas Salazar morrera e ele fora o grande esteio da Nação.

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