Os filhos, a gente cria-os com amor e
o zelo necessários para tentar preservá-los das dores que ao longo da vida
verificámos naqueles que amávamos, provenientes também da sua má cabeça – o
caso do meu pai, cujos três maços diários foram causa de um final de vida de
grande sofrimento, apesar de ter deixado de fumar alguns anos antes. Mas os
filhos crescem rebeldes a conselhos, com o direito a seguir as suas próprias
alternativas, num mundo que inesperadamente desabou sobre todos nós, que
tentámos seguir, a recriar a vida e a recompor os danos. Tal como o avô, os
meus filhos fumam, apesar das ameaças dos enfizemas assustadores que um bom
tratamento hospitalar provisoriamente ultrapassa. Mas o meu filho mais velho,
sobretudo, e a minha filha segunda,
exteriorizam os seus argumentos pelo tom de brincadeira e humor, quando
disso se fala, e as promessas de renúncia ao tabaco nunca passam disso, eles
próprios joguetes de um vício superior a qualquer argumento de razão.
E os emails que o Ricardo me envia
destinam-se geralmente a ficarmos de bem com a vida, em sorriso aberto ou mesmo
em gargalhada franca, providos que são daquele humor sensato mas retorcido de
quem tudo relativiza, porque em nada crê com a segurança de um absoluto de
firmeza, no fundo como meio de ultrapassar, pela ironia, a consciência da própria
incompreensão do absurdo que a todos fere.
Assim, mandou-me o Ricardo mais um
email, este “A propósito do EXERCÍCIO FÍSICO”, provido de imagens
em movimento, acompanhando cada item, que, com muita pena, não consigo reproduzir:
«Está provado que por cada hora de exercício,
aumenta o nosso tempo de vida em um minuto. Isso permite-nos que, aos 85
anos, possamos ficar mais 5 meses num lar de terceira idade pagando 1000
euros por mês.
A minha avó começou a andar cinco
quilómetros por dia quando tinha 60 anos. Agora tem 97 anos e não sabemos onde está.
A única razão por que voltei a fazer
exercício foi para voltar a ouvir respiração ofegante.
Inscrevi-me num ginásio o ano passado.
Não perdi nem um quilo. Só depois é que me explicaram: - É preciso ir lá.
Eu tenho que me exercitar logo de manhã,
antes que o meu cérebro perceba o que eu estou a fazer.
Gosto de longos passeios, especialmente
quando são dados por outro.
Tenho ancas flácidas, mas felizmente o
meu estômago esconde-as.
A vantagem de nos exercitarmos
diariamente é que se morre mais saudável.
Se vai percorrer um país a pé, escolha
um país pequeno.
E por último:
Podia ir a correr entregar isto aos
amigos, mas... é mais cómodo enviar por email!»
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