terça-feira, 9 de junho de 2015

As desculpas do bom fumador



Os filhos, a gente cria-os com amor e o zelo necessários para tentar preservá-los das dores que ao longo da vida verificámos naqueles que amávamos, provenientes também da sua má cabeça – o caso do meu pai, cujos três maços diários foram causa de um final de vida de grande sofrimento, apesar de ter deixado de fumar alguns anos antes. Mas os filhos crescem rebeldes a conselhos, com o direito a seguir as suas próprias alternativas, num mundo que inesperadamente desabou sobre todos nós, que tentámos seguir, a recriar a vida e a recompor os danos. Tal como o avô, os meus filhos fumam, apesar das ameaças dos enfizemas assustadores que um bom tratamento hospitalar provisoriamente ultrapassa. Mas o meu filho mais velho, sobretudo, e a minha filha segunda,  exteriorizam os seus argumentos pelo tom de brincadeira e humor, quando disso se fala, e as promessas de renúncia ao tabaco nunca passam disso, eles próprios joguetes de um vício superior a qualquer argumento de razão.
E os emails que o Ricardo me envia destinam-se geralmente a ficarmos de bem com a vida, em sorriso aberto ou mesmo em gargalhada franca, providos que são daquele humor sensato mas retorcido de quem tudo relativiza, porque em nada crê com a segurança de um absoluto de firmeza, no fundo como meio de ultrapassar, pela ironia, a consciência da própria incompreensão do absurdo que a todos fere.
Assim, mandou-me o Ricardo mais um email, este “A propósito do EXERCÍCIO FÍSICO”, provido de imagens em movimento, acompanhando cada item, que, com muita pena, não consigo  reproduzir:

«Está provado que por cada hora de exercício, aumenta o nosso tempo de vida em um minuto. Isso permite-nos que, aos 85 anos, possamos ficar mais 5 meses num lar de terceira idade pagando 1000 euros por mês.
A minha avó começou a andar cinco quilómetros por dia quando tinha 60 anos. Agora tem 97 anos e não sabemos onde está.
A única razão por que voltei a fazer exercício foi para voltar a ouvir respiração ofegante.
Inscrevi-me num ginásio o ano passado. Não perdi nem um quilo. Só depois é que me explicaram: - É preciso ir lá.
Eu tenho que me exercitar logo de manhã, antes que o meu cérebro perceba o que eu estou a fazer.
Gosto de longos passeios, especialmente quando são dados por outro.
Tenho ancas flácidas, mas felizmente o meu estômago esconde-as.
A vantagem de nos exercitarmos diariamente é que se morre mais saudável.
Se vai percorrer um país a pé, escolha um país pequeno.
E por último:
Podia ir a correr entregar isto aos amigos, mas... é mais cómodo enviar por email!»



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