sexta-feira, 12 de junho de 2015

Ventos de todos os quadrantes



Público, Domingo, 31 de Maio, “Escrito na Pedra”: “A inconstância deita tudo a perder, na medida em que não deixa germinar nenhuma semente” (Henri Frédéric Amiel , 1821-1881, escritor e filósofo suíço):
Serve a citação da epígrafe do Público para corroborar a mensagem de Vasco Pulido Valente do seu artigo saído na mesma página final do Público: “Salvadores”. Com efeito, tanta é a crispação opiniática neste país, tanto o bombardeio sobre um Governo - que, apesar das asneiras que lhe apontam, pretende ir singrando dentro de critérios ponderosos, os quais, se causaram danos fortes, não deixam de ser os necessários para um semear de grãos indispensáveis a uma colheita cada vez mais possível – que, contra o seu propósito que ele pretende certo, os ventos da vozearia e do obstáculo  soprando em fúria, impedem o germinar da semente.
Vasco Pulido Valente faz o seu retrato duro e certeiro sobre todos eles, incluindo os da governação, revelando a multiplicidade dos palradores e dos candidatos a um desempenho salvador, todos eles franco-atiradores - não é só Passos Coelho - todos eles ansiosos por mergulhar no saco do prestígio pessoal, nenhum deles interessado num comportamento de entreajuda para salvação da pátria, todos eles ditando sentenças de uma miséria intelectual tristemente inócua, “Eolos” da inconstância, dispersando as sementinhas que os que estão agora vão pretendendo fazer germinar…

Salvadores
Público, 31/05/2015
O PS prestou um grande serviço aos portugueses quando varreu o Rato do bando de pretendentes que no tempo de Seguro andavam por toda a parte. Agora ficou António Costa sozinho ou, pelo menos, com uma chusma de conselheiros que publicamente não contam nada, nem incomodam a cabeça das pessoas. Claro que António Costa recua e avança, conforme lhe dá na gana, e já ninguém sabe o que ele quer ou para onde vai. Mas tem o benefício de ser o último abencerragem e de comandar um exército com alguma disciplina e um certo senso do disparate. O PS é mais fácil de seguir e de perceber, embora haja demais para seguir e perceber. Basta comparar com a canzoada, que enche a televisão e os jornais com a sua cuisine d’auteur e o seu fervor.
A coligação, à parte a querela de origem entre Passos Coelho e Paulo Portas, não passa de um grupo de franco-atiradores, que ataca quando lhe apetece e se cala quando não lhe apetece, desdiz na terça o que disse na segunda e precisa sempre de um pronto-socorro para os desastres do dia-a-dia. Passos Coelho está sempre de mangueira na mão para apagar o último fogo, que muitas vezes foi ele próprio que ateou. O contorcionismo a que isto obriga deixa invariavelmente o público entontecido e desconfiado. Junto aos vários candidatos à presidência do partido e do Estado cria uma embrulhada que ninguém consegue desatar. Com Marcelo, Rui Rio e Santana Lopes, olhando gulosamente para Belém ou para o PSD, não há maneira de prever um futuro claro e razoável, ou “estratégia” (eles gostam de usar a palavra) que anule a “estratégia” do lado.
Mesmo o CDS, uma agremiação de hábitos mais brandos, resolveu recentemente produzir uma ninhada de substitutos de Paulo Portas, para o caso de ele perder: Assunção Cristas (suponho que pelo novo acordo ortográfico), Mota Soares, João Almeida, Cecília Meireles e Nuno Melo. O que estas personagens pretendem permanece um mistério. Nas franjas da extrema-esquerda, além das caras do costume (do Bloco e do PC), emergiram de repente, sob o patrocínio do Livre, uma dezena de messias (acabados de comprar ou recauchutados) cujo destino é obscuro: Ana Drago, Ricardo Sá Fernandes, Isabel do Carmo, Rui Tavares, André Nóvoa (filho do outro), São José Lapa e criaturas semelhantes. Vêm por um quarto de hora de celebridade ou suspiram de facto por salvar a Pátria. Uma conclusão não deixa dúvidas: com tantos salvadores, a Pátria irá fatalmente ao fundo.

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