Público, Domingo, 31 de Maio, “Escrito
na Pedra”: “A inconstância deita tudo a perder, na medida em que não
deixa germinar nenhuma semente” (Henri Frédéric Amiel , 1821-1881, escritor e
filósofo suíço):
Serve a citação da epígrafe do
Público para corroborar a mensagem de Vasco Pulido Valente do seu artigo saído
na mesma página final do Público: “Salvadores”. Com efeito, tanta é a
crispação opiniática neste país, tanto o bombardeio sobre um Governo - que,
apesar das asneiras que lhe apontam, pretende ir singrando dentro de critérios
ponderosos, os quais, se causaram danos fortes, não deixam de ser os necessários
para um semear de grãos indispensáveis a uma colheita cada vez mais possível –
que, contra o seu propósito que ele pretende certo, os ventos da vozearia e do
obstáculo soprando em fúria, impedem o
germinar da semente.
Vasco Pulido Valente faz o seu
retrato duro e certeiro sobre todos eles, incluindo os da governação, revelando
a multiplicidade dos palradores e dos candidatos a um desempenho salvador,
todos eles franco-atiradores - não é só Passos Coelho - todos eles ansiosos por
mergulhar no saco do prestígio pessoal, nenhum deles interessado num
comportamento de entreajuda para salvação da pátria, todos eles ditando
sentenças de uma miséria intelectual tristemente inócua, “Eolos” da
inconstância, dispersando as sementinhas que os que estão agora vão pretendendo
fazer germinar…
Salvadores
Público, 31/05/2015
O PS prestou um grande
serviço aos portugueses quando varreu o Rato do bando de pretendentes que no
tempo de Seguro andavam por toda a parte. Agora ficou António Costa sozinho ou,
pelo menos, com uma chusma de conselheiros que publicamente não contam nada,
nem incomodam a cabeça das pessoas. Claro que António Costa recua e avança,
conforme lhe dá na gana, e já ninguém sabe o que ele quer ou para onde vai. Mas
tem o benefício de ser o último abencerragem e de comandar um exército com
alguma disciplina e um certo senso do disparate. O PS é mais fácil de seguir e
de perceber, embora haja demais para seguir e perceber. Basta comparar com a
canzoada, que enche a televisão e os jornais com a sua cuisine d’auteur e o seu
fervor.
A coligação, à parte a querela de origem entre Passos
Coelho e Paulo Portas, não passa de um grupo de franco-atiradores, que ataca
quando lhe apetece e se cala quando não lhe apetece, desdiz na terça o que
disse na segunda e precisa sempre de um pronto-socorro para os desastres do
dia-a-dia. Passos Coelho está sempre de mangueira na mão para apagar o último
fogo, que muitas vezes foi ele próprio que ateou. O contorcionismo a que isto
obriga deixa invariavelmente o público entontecido e desconfiado. Junto aos
vários candidatos à presidência do partido e do Estado cria uma embrulhada que
ninguém consegue desatar. Com Marcelo, Rui Rio e Santana Lopes, olhando
gulosamente para Belém ou para o PSD, não há maneira de prever um futuro claro
e razoável, ou “estratégia” (eles gostam de usar a palavra) que anule a
“estratégia” do lado.
Mesmo o CDS, uma agremiação de hábitos mais brandos,
resolveu recentemente produzir uma ninhada de substitutos de Paulo Portas, para
o caso de ele perder: Assunção Cristas (suponho que pelo novo acordo
ortográfico), Mota Soares, João Almeida, Cecília Meireles e Nuno Melo. O que
estas personagens pretendem permanece um mistério. Nas franjas da
extrema-esquerda, além das caras do costume (do Bloco e do PC), emergiram de
repente, sob o patrocínio do Livre, uma dezena de messias (acabados de comprar
ou recauchutados) cujo destino é obscuro: Ana Drago, Ricardo Sá Fernandes,
Isabel do Carmo, Rui Tavares, André Nóvoa (filho do outro), São José Lapa e
criaturas semelhantes. Vêm por um quarto de hora de celebridade ou suspiram de
facto por salvar a Pátria. Uma conclusão não deixa dúvidas: com tantos
salvadores, a Pátria irá fatalmente ao fundo.
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