É sempre uma questão de cobrança. Já a destruição de
Tróia o foi, a pretexto de um rapto, aliás tramado pelas manigâncias dos
deuses, a matança dos próprios filhos por Medeia foi retaliação pelo seu abandono
por Jasão, que ela tanto amava e que lhe devia tantos favores e em vez de o
reconhecer foi casar com outra, o ingrato…
Trata-se, pois, de um velho hábito grego, retaliar,
invadir, usar artimanhas para penetrar nas Tróias, como o “sábio grego” o fizera,
com o engendramento de um cavalo de pau de bojo oco, coisa que não lembraria ao
diabo. Por isso Tsipras e Varoufakis se sentem em casa para cobrar. O Primeiro
Ministro sorridente e bom menino, o das Finanças, de sorriso crispado, galo
emproado que também deve ter aprendido nos Aquiles dos amuos prolongadores da
guerra.
E esta guerra assim se vai prolongando, no velho
hábito das histórias miríficas com que poetas e génios de tantos horizontes,
criaram uma civilização clássica, primeira num Ocidente que alargou fronteiras
pelo mundo.
Eles vão-se queixando dos Alemães, em largo débito das
duas Guerras, e sobretudo a Segunda, em que esfacelaram e arruinaram o pobre
povo grego, mas isso, é certo, também aconteceu com outros povos das invasões
alemãs. Até lembro, a propósito, as destruições causadas pelos franceses no
nosso país no tempo das Invasões, mesmo ao nível do património artístico, mas,
paga por paga, quem ressarcirá os estragos dos vestígios arquitectónicos de
eras passadas, que os homens do terror islâmico desvairadamente destroem, como
feras assanhadas?
Mas o sorridente Tsipras e o de sorriso crispado
Varoufakis fazem parte de um pequeno país cujos mitos e ensinamentos são
património universal. Merece o leite da vaca europeia.Como disse Fernando Pessoa na "Mensagem":
A Europa jaz,
posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando. (in "O dos Brasões").
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando. (in "O dos Brasões").
Comentário ao
artigo de António da Cunha Duarte Justo (em “A Bem da Nação):
«GRÉCIA NÃO QUER A VACA MAS QUER FICAR COM O LEITE»
«O GOVERNO GREGO ENERVA A
EUROPA GOVERNANTE E ESPECULA EM SEGREDO SOBRE ELEIÇÕES
A Grécia parece não ter
curral para a vaca da UE mas quer continuar a receber o seu leite sem se
preocupar com os problemas que a vaca custa a manter. O governo de Tsipras não
tem futuro porque quer governar e ao mesmo tempo ocupar o lugar de uma oposição
que geralmente vive de exigências e de reclamações. Governar implica
compromisso e assumir responsabilidade, implica reconhecer que pertencer ao
sistema euro, e à moda globalista em voga, tem como consequência o respeito
pelas regras do grupo ou então a tentativa de mudá-las sem fugir a elas.
O governo de Tsipras
continua em curso de confrontação numa táctica dupla de falar no próprio
parlamento contra os credores e contra a Comissão Europeia e cá fora adiar
propostas de solução, expondo-se com palavras bonitas para insuflar as asas da
ideologia e colher o aplauso de uma claque internacional propensa a ideologias.
“Com papas e bolos se enganam os tolos”, reconhece a sabedoria popular que
apesar disso se deixa enganar. Até o seu amigo Juncker já perde a paciência ao
constatar o contínuo adiar da problemática. Tsipras e o seu partido Syriza
esperam um corte de dívidas, à custa dos outros países e de instituições
bancárias (seus credores; Portugal já perdoou 600 milhões de euros à Grécia
(1).
Com o adiamento da proposta
de soluções, Atenas ganha tempo para surpresas que depois acontecerão de uma só
vez. O governo não está interessado em compromisso (por isso não permite
visão nos seus dados e estatísticas), porque o jogo é ideológico e compromisso
(aquilo com que se faz política) cheira a traição. Tsipras está interessado nos
votos e nos votantes e como tal quer um povo a viver do Estado ou de vacas
leiteiras que se nega a manter.
Com o adiamento, agora
conseguido, do pagamento do troço de 300 milhões de euros às instituições
credoras o Governo grego impediu o colapso financeiro no pagamento de salários
e vencimentos dos empregados de Estado. O adiamento dos compromissos assumidos
para 30 de Junho, alcança um valor conjunto de 1,6 mil milhões de euros a terem
então de ser pagos. O Pacote de resgate da Troika que se daria a 30 de Junho no
valor de 7,2 mil milhões está dependente de reformas a propor pelo governo
grego jogando com o interesse que a zona euro tem em manter a Grécia como
membro.
Á táctica de adiamento dos
problemas pelo governo grego tem certamente a ver com a incompetência de um
governo de visão ideológico-partidária que especula certamente sobre novas
eleições e a saída do Euro. Com elas poderá lavar as mãos perante o povo como
partido e desresponsabilizar-se perante os fiadores e a UE. Um governo que só sabe
dizer não é impróprio para a governação e prejudica os interesses do seu país e
do seu povo.
Na política e em
governação, tal como na vida de um povo é de ter presente a história da cigarra
e da formiga. A cigarra quer viver da cantoria e da conversa pública mas à
custa da alimentação da formiga. Para uma sociedade futura, sem pretender
que se acabe com a rica diversidade política e social de formigas e cigarras,
precisar-se-ia de criar mais um ser cívico que integre em si os genes da
cigarra e da formiga e de uma nova raça política transparente desinteresseira
comprometida com o povo e o país.
Atenas perdeu a
oportunidade e a credibilidade de se tornar num elemento corrector da política
da UE. O governo de esquerda nacionalista teima em não processar os grandes
capitalistas gregos que transferiram centenas de milhares de milhões para fora
do país (Suíça, etc.) fugidos ao fisco grego mas, por outro lado, combate o
capitalismo da Troika. Até é lógico que queiram defender os grandes oligarcas
gregos mas nas suas exigências em relação ao estrangeiro perdem toda a razão
institucional pretendendo apenas continuar a ser, com as suas piruetas, a azia
estomacal da UE dos fortes sem entender nada do Euro-Esperanto.
De momento, só a saída do
euro seria uma medida lógica e coerente com a ideologia que Tsipras defende; o
seu jogo das escondidas torna-se vergonhoso para ele e uma desilusão para a
esquerda europeia que projectava nele muitas esperanças e desejos escondidos.
Tem sido triste a figura que têm feito pedinchando com uma mão e dizendo que
não com a outra. Este é o dilema de uma esquerda ainda retrógrada e velha
que além de oportunista se tornou corrupta. Ao assumir a governação tem
calcando os ideais de justiça, da hombridade e da transparência. Já não nos
encontramos no tempo dos heróis e dos exemplos. Cada um serve-se como pode.
Não se vai longe enquanto
a UE só se preocupar com poder e dinheiro e a Grécia se interessar pela mistura
de dinheiro e ideologia.
O facto de descrever ou
tentar prever o que vai acontecer em relação à Grécia não quer dizer que seja
por um sistema ou por outro.
O facto de o governo
grego, tal como Portugal, Irlanda e outros países terem razão nas reclamações
no que respeita a imposições de poupanças e privatizações em benefício da
avalanche agressiva do turbo-capitalismo liberalista das grandes potências, um
comportamento de adolescentes só serve para enganar o povo e não alcança nada
contra a injustiça institucionalizada. O que a Grécia e Portugal devem
contestar e renegociar é a vantagem que a Alemanha e os países fortes da zona
euro têm em relação ao mercado mundial, vantagem adquirida, em grande parte, à
custa da destruição das economias dos países da periferia da zona euro que viram
o seu poder de concorrência na Europa destruído pela abertura ao mercado
chinês. Aqui é necessária a negociação de contratos de compensações estruturais
económicas e não a luta ideológica.
António da Cunha Duarte
Justo
(1) Não aceita o curso
político de poupança ao contrário do que fez Portugal, que abnegado e
respeitado consegue, por força própria, sair da dependência da Troika (Portugal
vai agora fazer mais um reembolso antecipado, de cerca de 2 mil milhões.
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