É Alberto
Gonçalves que o dá a entender ao analisar os princípios do candidato Sampaio da
Nóvoa para Presidente da República segundo o ponto de vista de muitos seus (de
S. N.) proponentes, tais como Ramalho Eanes, que o define como “espírito superior”,
como já se definia no tempo do Eça da Queirós da nossa memória, embora “talento”
fosse a moda na época dele, até mesmo na opinião do banqueiro Cohen - já nessa
altura um caso de sucesso na questão bancária - o qual achava - contra a
opinião exagerada de Ega, no Jantar do Hotel Central, tratando “de grotescos, de bestas, os
homens de ordem que fazem prosperar os Bancos” - que havia neles talento e
saber : -«Há talento, há saber, dizia ele com um tom de experiência. Você
deve reconhecê-lo, Ega... Você é muito exagerado! Não senhor, há talento, há
saber.»
No
encalço, pois, dessa opinião tão positiva de Ramalho Eanes - Alberto Gonçalves, por carência
de comprovativos académicos, foi procurar dados ao discurso de Nóvoa às
massas, e contámos nove os verbos da sua actuação futura (de Sampaio da
Nóvoa) que o ajudaram (a Alberto Gonçalves) nessa tarefa, tarefa que concluiu (A.
G.) “fascinado”.
Assim: o
professor Nóvoa promete, exigirá, não aceitará, deseja,
prestará, propõe, defende, assume, admite.
Estes os verbos.
Seguem-se
os complementos directos (alguns indirectos ou puramente oblíquos, seguidos de
uns modificadorzitos verbais esclarecedores), dos grupos verbais respectivos: “abraçar
o legado dos predecessores”, “à Europa, o fim da austeridade”, “da
Europa, falta de respeito pela soberania portuguesa”, “amplo debate
sobre a Europa”, “atenção especial à corrupção e à promiscuidade”, “um compromisso
contra pobreza e desigualdades”, “caminhar ao lado das pessoas”, “ser poeta e
não comerciante”, “impedir a emigração da juventude bem formada”, “incomodar,
enfim, muita gente”, tal como o elefante em progressão de cadeia.
Eis, pois, os motivos do fascínio de Alberto Gonçalves
– e do nosso, por acréscimo - captados nas provas discursivas do professor
Nóvoa, por falta dos comprovativos académicos que levaram à definição do
general Eanes e o obrigaram - (A. G.) - a tirar as respectivas ilações, que
fazemos igualmente nossas, em analogia de parecer:
O homem que caminha ao
lado das pessoas
por ALBERTO GONÇALVES, DN,
31 maio 2015
Ramalho
Eanes apurou que Sampaio da Nóvoa é uma "inteligência superior". Sem
acesso aos estudos científicos que decerto fundamentaram a opinião do general,
analisei com cuidado os princípios da candidatura presidencial do citado génio,
apresentados há dias no Porto. Terminei fascinado.
O
prof. da Nóvoa promete abraçar o "legado" dos ex-presidentes que o
apoiam, na medida em que um chefe de Estado "não deve agir nem contra nem
a favor dos governos ou oposições". É bem visto: Jorge Sampaio usou
Santana para sossegar o PS e patrocinar a ascensão do lendário Sócrates. Soares
passou o segundo mandato em campanha contra Cavaco. Eanes cozinhou um partido
privativo.
O
prof. da Nóvoa exigirá que a Europa abandone as "políticas de
austeridade". Embora pareça impossível, há mesmo indivíduos convencidos de
que a abundância se estabelece por decreto.
O
prof. da Nóvoa não aceitará sem referendo "mais medidas que retirem
soberania a Portugal". A ideia subjacente é a de que temos escolha, ou uma
escolha que não conduz à bancarrota num ápice.
O
prof. da Nóvoa deseja que os portugueses travem "um amplo debate"
sobre a Europa. É igual a discutir a FIFA na assembleia geral do Olhanense: não
se espera que a Europa trema.
O
prof. da Nóvoa prestará "atenção especial ao combate à corrupção e à
promiscuidade entre a política e os negócios". Presumivelmente, ainda não
acredita que será o candidato do PS.
O
prof. da Nóvoa propõe um "compromisso claro na luta contra a pobreza e
contra o aumento das desigualdades". É o modelo grego ou, na versão
tropical, "bolivariano", que em geral acaba com a classe média de
rastos e a igualdade obtida na partilha da miséria.
O
prof. da Nóvoa defende que "um presidente pode ser muito mais do que tem
sido, (...) pode ser alguém que junta, que une, que abre o futuro quando
caminha ao lado das pessoas". Curioso: se alinharmos umas palavras a
seguir às outras forma-se qualquer coisa semelhante a uma frase.
O
prof. da Nóvoa assume que "ser poeta também é essa inabilidade para o
mundo do lucro". Tradução: de lirismo em lirismo até ao prejuízo final.
O
prof. da Nóvoa acha que "não podemos continuar a forçar a emigração dos
nossos jovens mais qualificados". Evidentemente, muitos dos idosos sem
qualificação perceptível ficaram por cá.
O
prof. da Nóvoa admite ser um candidato que "incomoda muita gente". O
termo adequado é embaraça. Embaraça.
A
conclusão a que cheguei é que o prof. da Nóvoa é de facto uma inteligência
superior. A quem? No mínimo, aos espécimes que o levam a sério -os que fingem
levá-lo a sério por estratégia ou gozo não contam.
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