Foi o caso de, em conversa com a
minha colega Alice, termos falado do jeito de alguém com manifesta tendência
para o exagero, talvez do queixume, talvez do trabalho, talvez da resistência
ao bom senso. E para concluir, usei uma expressão que a minha mãe muito utilizava,
quando queria evitar que se fizesse uma coisa de que ela discordava. Eu, por
exemplo, fui bastante vítima dessa expressão, já desde a infância: “É a tua
desseina!”, mas fartei-me de a ouvir em vários contextos, aplicada a muitas
outras pessoas. Nunca tinha posto em causa a existência do termo, quando o
escutava, e que hoje me saiu espontaneamente, de cambulhada, ao falarmos desse
alguém exagerado, talvez no queixume, talvez na resistência ao bom senso:
- Se fosse a minha mãe logo diria:
“É a sua desseina”. Olha! Donde virá esta palavra? É capaz de vir de “odisseia”!
E a Alice, na sua voz ponderada,
depois de estranhar o termo, concordou risonhamente que talvez viesse, sim, de
odisseia, caso de etimologia popular.
Fiquei contente com a descoberta, e
intimamente enviei o meu beijo de carinho à minha mãe, a quem nunca mais
ouvirei, na referência, por exemplo, ao tempo perdido a escrevinhar inutilmente
– por ser uma escrita não lucrativa, como ela sabia muito bem que outras havia
que o eram – a palavra que espontaneamente usei, talvez pela primeira vez, na
conversa com a minha sabedora colega Alice: “É a sua desseina!” cujo étimo me
acudiu no mesmo momento.
Agora, que escrevo e vou reflectindo,
penso também em “desígnio” (em francês “dessein”, que poderia ser deturpado em “desseina”,
se não fosse masculino.
Decididamente, escolho a “odisseia”
para étimo do termo usado nesse Carregal do concelho de Oliveira de Frades,
onde provavelmente estiveram Fenícios, Gregos e mais tarde os Cartagineses, antes
de os Romanos se fixarem, fazendo pontes e contando histórias que eles próprios
imitaram dos Gregos que os precederam…
Um étimo que me chegou, num pensamento
de ternura. Como se viesse do Além.
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