A minha amiga devolveu o livro do João Magueixo – «Bifes
mal passados» - e considerou que
não achava justa a crítica aos Ingleses, por muito que se tivesse rido das
azougadas experiências de adaptação aos costumes britânicos, desse homem do
sul, de uma pátria de sol e de água com fartura. Também falámos na incoerência
da sua crítica, que não deixa de salientar alguns valores civilizacionais desse
povo de um rigor educacional que nós não possuímos. Inglaterra é Inglaterra,
para alguma coisa serve a característica fleumática britânica, para os definir
num conceito de nobreza que já vem das histórias do Rei Artur.
Nem de propósito, mandou-me ontem a minha filha Paula
o email seguinte:
«Assunto: A ESTRANHA
JUSTIÇA INGLESA...»
Quando é que a Justiça em Portugal é capaz de fazer um trabalho destes ?
Em 2003, o deputado inglês Chris Huhne foi apanhado num radar em alta
velocidade.
Na época, a então mulher dele, Vicky Price, assumiu a culpa.
O tempo passou e
aquele deputado passou a Ministro da Energia, só que
o seu casamento acabou.
o seu casamento acabou.
Price decide vingar-se e conta a história à
imprensa.
Como é na
Inglaterra, Chris Huhne, Ministro, demite-se primeiro do ministério e depois do
Parlamento.
ACABOU A
HISTORIA?
Qual quê!
Estamos em Inglaterra...
... E em
Inglaterra é crime mentir à Justiça.
Assim, essa mesma Justiça funcionou e
sentenciou o casal envolvido na fraude do radar em 8 meses de cadeia para cada
um e uma multa de 120 mil libras.
Segredo de Justiça? Nem pensar, julgamento aberto ao público e à imprensa.
Quem quis, viu e ouviu.
Segredo de Justiça? Nem pensar, julgamento aberto ao público e à imprensa.
Quem quis, viu e ouviu.
Segurança
nacional? Nem pensar, infrator é infrator.
Privilégio
porque é político? Nada!
E o que disse o
Primeiro Ministro David Cameron quando soube da
condenação do seu ex-ministro?
condenação do seu ex-ministro?
'É uma
conspiração dos media para denegrir a imagem do meu governo?"
ou
"É um atentado contra o meu bom nome e dos meus Ministros"?
Errado. Esqueçam, nada disso!
ou
"É um atentado contra o meu bom nome e dos meus Ministros"?
Errado. Esqueçam, nada disso!
O que disse o
Primeiro Ministro David Cameron, não foi acerca do
seu ex-ministro, foi sobre o funcionamento da Justiça.
seu ex-ministro, foi sobre o funcionamento da Justiça.
E o que disse
foi:
'É bom que todos
saibam que ninguém, por mais alto e poderoso que seja, está fora do braço da
Lei.'
Estes ingleses
são mesmo um bando de atrasados, não são...???»
É claro que, num
sistema destes, não deve haver cadeias VIP como nós temos por cá para os casos
da prevaricação superior. Mas talvez o sistema prisional britânico na sua exigência
de recuperação dos prevaricadores, os trate a todos como seres humanos,
exigindo que trabalhem para se dignificarem e aprenderem a não prevaricar,
proporcionando-lhes a todos condições de habitabilidade prisional.
Nas “Cartas
da Inglaterra” Eça de Queirós descreve os Ingleses como extremamente
racistas, as classes nobres pairando acima do resto dos mortais, o que é
deprimente para o resto dos mortais. Mas se o são, também são suficientemente humanos
para respeitarem todo o indivíduo na sua condição de ser humano,
proporcionando-lhe um sistema educacional, de saúde e de condições de vida
relativamente justos. Conto o caso, a propósito, do Pedro, amigo e companheiro
dos meus filhos mais velhos, que se deu mal por cá e foi com o filhito para
Inglaterra, onde alguns familiares lhe estenderam, inicialmente, a mão. Em
Londres encontrou trabalho e casa para si e para o filho, que é excelente aluno
na sua escola, com promessa de poder vir a ser subsidiado para estudos superiores.
Houve, contudo, na sua confissão, quando cá veio, uma informação que me deixou
interdita. O Pedro não pode ter bebidas alcoólicas em casa. Caso contrário,
perde tudo o que alcançou em termos de apoio social. Achei que tão drástica
norma era uma intromissão na liberdade de cada um, que eu nunca me adaptaria a
um sistema de big brother investigando e impondo. Mas talvez o Pedro aceite bem
essas regras que lhe dão a possibilidade de viver bem, com uma compostura
imposta, mas salvadora.
Nós aqui
desdobramo-nos em dedicação – os que são bons e disponíveis – por gente que
desistiu de viver condignamente, alguns por má sorte, é certo, mas outros
porque se sentem bem vivendo parasitariamente à espera das sopas que outros
fabricam e ainda outros distribuem, tentando livrá-los, numa rede em que todos
colaboramos, nos peditórios da nossa caridadezinha não responsabilizadora.
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