É de Salles da Fonseca, do
seu blog “A Bem da Nação”:
«O 25»
«Foi
já depois de 25 de Novembro de 1975 que o Dr. Álvaro Cunhal foi condecorado
como Herói Soviético com isso significando Moscovo que o «trabalho» estava
feito e que havia que agradecer a «obra».
Como
assim, se nesse 25 de Novembro os comunistas tinham sido apeados do poder que
haviam usurpado em Portugal?
A
resposta só pode ser uma: a URSS interessava-se mais pelo ex-Império Português
do que por este pequeno canto europeu. E, de facto, todas as nossas antigas
colónias africanas estavam então na mão dos soviéticos.
E
tudo começara uns anos antes quando Moscovo constatou que não conseguia vencer
os conflitos militares que durante tantos anos instigara. Então, se não
conseguia vencer no terreno das guerras, havia que ir à retaguarda derrubando o
regime político vigente em Portugal. E, de facto, foi no Largo do Carmo que em
25 de Abril de 1974 Portugal perdeu o Império.
Quando
assentei praça em Mafra para o Curso de Oficiais Milicianos de Abril de 1970,
uma parte significativa do meu pelotão era composta por homens que regressavam
a Portugal depois de terem estado algures na Europa mas deixando uma nebulosa
quanto aos locais exactos de que provinham. Seria do lado de cá ou do lado de
lá? Nunca, aos inocentes, nos passou pela cabeça fazer a pergunta. Mas lembro-me
de que cantarolavam amiúde melodias e letras do Zeca Afonso e de que, por
vezes, se «esqueciam» aqui e ali de um ou outro livro que nós, os outros, não
conhecíamos. Não eram graficamente apelativos e nunca lhes peguei e é por isso
que continuo hoje, passados mais de 40 anos, sem saber se se tratava de
literatura revolucionária ou se eram contos de fadas para amenizar as insónias.
Mas como soldado recruta só pensa em dormir, não dou grande cabimento à
hipótese do soporífero literário.
Vendo
o filme ao contrário, não me restam hoje dúvidas de que o Partido Comunista
Português deve ter então dado ordem aos seus militantes na diáspora com a idade
apropriada para regressarem a Portugal, ingressarem no Serviço Militar
Obrigatório e de seguida destabilizarem por dentro o nosso Exército.
E
nós, os não politizados, sem percebermos nada do que se passava à nossa volta.
Foi
então que comecei a ouvir falar de uma certa contestação à ideia de quererem
que nós, os milicianos licenciados, fizéssemos o Curso de Comandantes de
Companhia para de seguida nos mandarem desempenhar as funções de Capitães de
Infantaria. Que isso era um absurdo, que para isso estavam lá os subalternos do
Quadro que deveriam ser promovidos em vez de serem ultrapassados por milicianos
mal amanhados, etc.
Nós,
os economistas, safámo-nos dessa pois foi-nos dado escolher se queríamos ser
Alferes de Administração Militar ou Capitães de Infantaria. E todos optámos
pela caneta em vez da G3.
Já
estava em Moçambique quando ouvi pela primeira vez falar do Movimento dos
Capitães mas não liguei muita importância pois me parecia que se tratava de
problema corporativo com solução administrativa. Já estava na disponibilidade –
e novamente em Moçambique como civil – quando ouvi falar do Movimento das
Forças Armadas e conclui que, afinal, a solução administrativa para o problema
corporativo não tinha resultado (ou talvez nem sequer tivesse sido aplicada) e
que a «bola de neve» estava a crescer.
Sempre
me pareceu que o «problema» do Império tinha que ter uma solução política e que
o empenhamento militar era uma forma de «aguentar» a situação enquanto a
solução política era discutida, aprovada e implementada. Mas o radicalismo
ultra do Estado Novo em nada ajudou Marcello Caetano e tudo deu para o torto. E
teria que dar para o torto porque uma solução politicamente negociada não
interessava a Moscovo. Havia que precipitar os acontecimentos e isso só se
conseguiria a partir de dentro das Forças Armadas Portuguesas. Aí estava o MFA.
Muitos
militares que alinharam nesse movimento foram inconscientemente manipulados e
outros, admito que poucos, agiram conscientemente em consonância com as
determinações do inimigo. Isto significou uma maioria de inconscientes e uma
minoria de traidores.
Então,
hoje comemoramos o quê? Eu espero por Novembro.»
Lisboa,
25 de Abril de 2015
Comentário:
Como um Sherlock Holmes descobrindo num humor de boas
células cinzentas o fautor do crime, o Dr. Salles assim nos leva na sua tese
bem urdida e corajosa pelos caminhos ínvios e obscuros desse passado, que
apanhou desprevenidos os que continuavam na marcha antiga, sem cuidar numa
semente sub-reptícia de uma mudança, para todos os efeitos irreversível,
segundo as conveniências generalizadas e indiferentes aos males que geraram.
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