terça-feira, 7 de julho de 2015

Gago Coutinho



É a minha irmã que me fornece os “Públicos” das minhas leituras semanais, de textos por vezes por ela sublinhados segundo as suas concordâncias com os referenciados. Foi o caso deste infracitado de J. Martins Pereira Coutinho, sobre a mudança de nome do aeroporto da Portela para o de Aeroporto Gago Coutinho, bastamente por ela sublinhado. Creio que, para além do que aprendêramos na história da primeira travessia aérea do Atlântico Sul,  se lembrou, tal como eu, do meu Pai , que costumava referir a modéstia e simpatia de Gago Coutinho, quando desembarcara em Lourenço Marques e pusera os funcionários da Alfândega à vontade para lhe verem as bagagens, que continham roupas e pouco mais, “os senhores podem ver”… E os alfandegários, entre os quais o meu pai, escusavam-se, deslumbrados com a figura de um tal herói tão simples: “Oh! Senhor Almirante!” E o meu Pai tecia louvores a Gago Coutinho, que estão igualmente contidos no texto de J. Martins Pereira Coutinho, especialista em transporte aéreo.
A sua proposta de mudança do nome de Portela já vem de 2002, retomada  em 2008 e 2013, não será a de 2015 que fará peso determinante para a mudança, afinal só 13 anos se passaram e as coisas por cá processam-se na candura dos ripanços indiferentes, salvo quando partem das esquerdas da arruaça, pelos seus próprios motivos arruaceiros. Também o AO tem tido opositores de tempos a tempos e não é por isso que se pondera mais e melhor sobre os efeitos destrutivos dele a fim de o eliminar. A língua é coisa muito alterável, a razão das grafias já pouca relevância tem, a pronúncia acompanhando a escrita que perdeu a sua base racional de apoio. Aeroporto Gago Coutinho, em homenagem a um  tal herói como descreve Pereira Coutinho, deixa indiferentes os anti-heróis da actualidade. A mim, serviu para recordar as conversas do meu Pai, os valores que defendia, as experiências que vivera, a educação que transmitia, as curiosidades que despertava. E, hoje, a nossa consonância com a proposta de J. Martins Pereira Coutinho:


«Gago Coutinho e o aeroporto de Lisboa»
J. Martins Pereira Coutinho
Público 03/07/2015 -
«Em 2002, no jornal Correio da Manhã e na Revista CARGO, defendemos a mudança de nome do Aeroporto da Portela em Lisboa para Aeroporto Gago Coutinho. Em 2008 e 2013, voltámos ao assunto em livros que publicámos sobre transporte aéreo. O poder político ignorou a sugestão, que tinha como objectivo homenagear um grande Português, talvez o nosso último herói.
O Almirante Gago Coutinho nasceu no Bairro da Madragoa, em Lisboa, em 17 de Fevereiro de 1869. Em 1886, alistou-se na Escola Naval. Aos 24 anos, na Corveta Mindelo, fez a sua primeira viagem ao Brasil, onde assistiu à revolta da Armada Brasileira e à epidemia de febre-amarela, que grassava no Rio de Janeiro.
Como oficial de veleiro, Gago Coutinho correu mundo. Percorreu a África e viveu no mato, em convívio com os indígenas. O seu nome está indissociavelmente ligado ao ordenamento do antigo Império Português, onde demarcou mais de dois mil quilómetros de fronteiras e calcorreou mais de cinco mil quilómetros. Nestes trabalhos de geodesia, teve como companheiro Sacadura Cabral.
O Almirante Gago Coutinho, além de ilustre marinheiro, astrónomo, matemático, cartógrafo e historiador, foi um dos precursores da navegação aérea a nível mundial, que muito honrou e prestigiou Portugal.
Gago Coutinho criou instrumentos e métodos para a navegação aérea e estabeleceu princípios para a navegação aérea de longo curso, através do seu sextante com horizonte artificial, um desenvolvimento científico que ficou conhecido como o “Sextante System Admiral Gago Coutinho.” Foi também o primeiro navegador aéreo no mundo que se orientou, no ar, por intermédio de navegação astronómica.
Entre outros feitos, Portugal deve a Gago Coutinho e a Sacadura Cabral, a gloriosa Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, realizada em 1922, entre Lisboa e Rio de Janeiro. Uma viagem histórica e memorável, com muitas dificuldades e contratempos, que só os heróis e destemidos conseguem superar e vencer. O regime da 1.ª República encheu-o de honrarias.
O Almirante Gago Coutinho foi ainda o autor do “Relatório Secreto de Gago Coutinho sobre as Ilhas Selvagens, de 1929”, um documento de quatro páginas, onde é revelada a tentativa espanhola de se apoderar deste conjunto de Ilhas Portuguesas, próximo das Canárias. Devido a esse relatório, Portugal colocou um farol naquelas ilhas, que assim continuaram Portuguesas.
Como todos os homens invulgares, Gago Coutinho era uma pessoa muito modesta e simples, o que o levava a não fazer uso das numerosas condecorações nacionais e estrangeiras que recebeu. Também não dava importância aos elogios públicos, apesar de ter recebido muitos. Júlio Dantas, por exemplo, escreveu: “Gago Coutinho foi o último Herói, o nauta sobrevivente dos Descobrimentos e navegações, que o génio henriquino inspirou.”
O ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, aproveitando uma negra efeméride, também decidiu propor a mudança de nome do Aeroporto da Portela. Porém, o nome que propôs, fruto de algum oportunismo político, em ano de eleições, é pouco consensual na sociedade Portuguesa e não tem, nem de perto nem de longe, o currículo glorioso e patriótico de Gago Coutinho.
Esperemos, agora, que o Governo preste a merecida homenagem ao Almirante Gago Coutinho, o maior vulto da Aviação Portuguesa que honrou Portugal, a Marinha Portuguesa e a Aviação Mundial, e concretize a mudança de nome do Aeroporto da Portela para Aeroporto Gago Coutinho.
Uma mudança de nome que não tem custos para o Estado, como aconteceu nos aeroportos de Pedras Rubras e Ponta Delgada, quando mudaram de nome para Aeroporto Francisco Sá Carneiro e Aeroporto João Paulo II.
Tal como ainda recentemente aconteceu com a Amália e o Eusébio, nunca é tarde para Portugal reconhecer e homenagear um dos seus maiores, o Almirante Gago Coutinho.»

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