É a minha irmã que me fornece os
“Públicos” das minhas leituras semanais, de textos por vezes por ela
sublinhados segundo as suas concordâncias com os referenciados. Foi o caso
deste infracitado de J. Martins Pereira Coutinho, sobre a mudança de nome do
aeroporto da Portela para o de Aeroporto Gago Coutinho, bastamente por
ela sublinhado. Creio que, para além do que aprendêramos na história da
primeira travessia aérea do Atlântico Sul, se lembrou, tal como eu, do meu Pai , que costumava
referir a modéstia e simpatia de Gago Coutinho, quando desembarcara em Lourenço
Marques e pusera os funcionários da Alfândega à vontade para lhe verem as
bagagens, que continham roupas e pouco mais, “os senhores podem ver”… E os
alfandegários, entre os quais o meu pai, escusavam-se, deslumbrados com a
figura de um tal herói tão simples: “Oh! Senhor Almirante!” E o meu Pai tecia
louvores a Gago Coutinho, que estão igualmente contidos no texto de J. Martins
Pereira Coutinho, especialista em transporte aéreo.
A sua proposta de mudança do
nome de Portela já vem de 2002, retomada
em 2008 e 2013, não será a de 2015 que fará peso determinante para a
mudança, afinal só 13 anos se passaram e as coisas por cá processam-se na
candura dos ripanços indiferentes, salvo quando partem das esquerdas da
arruaça, pelos seus próprios motivos arruaceiros. Também o AO tem tido
opositores de tempos a tempos e não é por isso que se pondera mais e melhor sobre
os efeitos destrutivos dele a fim de o eliminar. A língua é coisa muito
alterável, a razão das grafias já pouca relevância tem, a pronúncia acompanhando
a escrita que perdeu a sua base racional de apoio. Aeroporto Gago Coutinho,
em homenagem a um tal herói como
descreve Pereira Coutinho, deixa indiferentes os anti-heróis da actualidade. A
mim, serviu para recordar as conversas do meu Pai, os valores que defendia, as
experiências que vivera, a educação que transmitia, as curiosidades que
despertava. E, hoje, a nossa consonância com a proposta de J. Martins
Pereira Coutinho:
«Gago Coutinho e o aeroporto de Lisboa»
J. Martins Pereira
Coutinho
Público 03/07/2015 -
«Em 2002, no jornal Correio
da Manhã e na Revista CARGO, defendemos a mudança de nome do Aeroporto da Portela em Lisboa
para Aeroporto Gago Coutinho. Em 2008 e 2013, voltámos ao
assunto em livros que publicámos sobre transporte aéreo. O poder político
ignorou a sugestão, que tinha como objectivo homenagear um grande Português,
talvez o nosso último herói.
O
Almirante Gago Coutinho nasceu no Bairro da Madragoa, em Lisboa, em 17 de
Fevereiro de 1869. Em 1886, alistou-se na Escola Naval. Aos 24 anos, na Corveta
Mindelo, fez a sua primeira viagem ao Brasil, onde assistiu à revolta da Armada
Brasileira e à epidemia de febre-amarela, que grassava no Rio de Janeiro.
Como
oficial de veleiro, Gago Coutinho correu mundo. Percorreu a África e viveu no
mato, em convívio com os indígenas. O seu nome está indissociavelmente
ligado ao ordenamento do antigo Império Português, onde demarcou mais de dois
mil quilómetros de fronteiras e calcorreou mais de cinco mil quilómetros.
Nestes trabalhos de geodesia, teve como companheiro Sacadura Cabral.
O
Almirante Gago Coutinho, além de ilustre marinheiro, astrónomo, matemático,
cartógrafo e historiador, foi um dos precursores da navegação aérea a nível
mundial, que muito honrou e prestigiou Portugal.
Gago
Coutinho criou instrumentos e métodos para a navegação aérea e estabeleceu
princípios para a navegação aérea de longo curso, através do seu sextante com
horizonte artificial, um desenvolvimento científico que ficou conhecido como o
“Sextante System Admiral Gago Coutinho.” Foi também o primeiro navegador aéreo
no mundo que se orientou, no ar, por intermédio de navegação astronómica.
Entre
outros feitos, Portugal deve a Gago Coutinho e a Sacadura Cabral, a gloriosa
Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, realizada em 1922, entre Lisboa e
Rio de Janeiro. Uma viagem histórica e memorável, com muitas dificuldades e
contratempos, que só os heróis e destemidos conseguem superar e vencer. O
regime da 1.ª República encheu-o de honrarias.
O
Almirante Gago Coutinho foi ainda o autor do “Relatório Secreto de Gago
Coutinho sobre as Ilhas Selvagens, de 1929”, um documento de quatro páginas,
onde é revelada a tentativa espanhola de se apoderar deste conjunto de Ilhas
Portuguesas, próximo das Canárias. Devido a esse relatório, Portugal
colocou um farol naquelas ilhas, que assim continuaram Portuguesas.
Como
todos os homens invulgares, Gago Coutinho era uma pessoa muito modesta e
simples, o que o levava a não fazer uso das numerosas condecorações nacionais e
estrangeiras que recebeu. Também não dava importância aos elogios públicos,
apesar de ter recebido muitos. Júlio Dantas, por exemplo, escreveu: “Gago
Coutinho foi o último Herói, o nauta sobrevivente dos Descobrimentos e
navegações, que o génio henriquino inspirou.”
O
ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, aproveitando uma
negra efeméride, também decidiu propor a mudança de nome do Aeroporto da
Portela. Porém, o nome que propôs, fruto de algum oportunismo político, em ano
de eleições, é pouco consensual na sociedade Portuguesa e não tem, nem de perto
nem de longe, o currículo glorioso e patriótico de Gago Coutinho.
Esperemos,
agora, que o Governo preste a merecida homenagem ao Almirante Gago Coutinho, o
maior vulto da Aviação Portuguesa que honrou Portugal, a Marinha Portuguesa e a
Aviação Mundial, e concretize a mudança de nome do Aeroporto da Portela para
Aeroporto Gago Coutinho.
Uma
mudança de nome que não tem custos para o Estado, como aconteceu nos aeroportos
de Pedras Rubras e Ponta Delgada, quando mudaram de nome para Aeroporto
Francisco Sá Carneiro e Aeroporto João Paulo II.
Tal
como ainda recentemente aconteceu com a Amália e o Eusébio, nunca é tarde para
Portugal reconhecer e homenagear um dos seus maiores, o Almirante Gago
Coutinho.»
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