Confesso que gostei dos discursos deles. O de Paulo
Portas, mais literato, mas cheio de verdades e de frases desafiantes, com a necessária clareza e elegância, o de Passos
Coelho no realismo caseiro da sua experiência já longa, feita da “estreiteza” (para
muitos) tacanha de um pensamento “honesto”
(para poucos), cujo fito foi, desde sempre, o de salvar a nação de um desastre
económico. Mas, é claro, os programas
televisivos de ajuizamento desses discursos já estavam de antemão artilhados e explodiram de
imediato, sem darem tempo a reflexão, aliás, também desnecessária, já de
antemão fabricados segundo a fórmula de sempre e obedecendo aos critérios do
partido de que dependiam, indiferentes aos condicionalismos financeiros impostos ao Governo, na adopção das políticas
de austeridade, e aos êxitos ainda mínimos mas reais do novo status.
António Costa foi o primeiro entrevistado, e nada
trouxe de novo, no seu ataque de melodrama
inflamado segundo os parâmetros usuais da inflamação. Jerónimo de Sousa também
foi entrevistado a sós e introduziu um dado novo, o da saída da NATO, que ele disse
estar subentendida na Constituição de 76 que, ao que parece, isenta o Estado
Português de intervencionismos militares do foro mundial, já industriados os
que a produziram – a Constituição de 76 - pela isenção autodeterminada de
intervencionismo militar nacional em tempos, embora tal norma não estivesse contida
na Constituição de 33. A jornalista que
o entrevistou, creio que a mesma Clara de Sousa que entrevistou Costa e Passos,
ainda falou da queda do muro como determinante de um menor relevo do comunismo
actual, mas Jerónimo de Sousa garantiu que o nosso comunismo é todo ele feito
de normas seguidoras do cristianismo exigente do pão de cada dia para as
classes trabalhadoras, sobretudo, embora
me pareça isso uma falsidade, ao aperceber-me de que os concertos musicais e
outros eventos culturais específicos da nossa cultura continuam a produzir
espaços cheios, com bilhetes caros, o que comprova um certo bem estar material,
apesar do que se clama por aí de pobreza, para a qual, de resto, várias
organizações caritativas acorrem, como
foi sempre regra entre nós.
Mas, ao ouvir hoje, na Opinião Pública da SIC a
iracúndia dos que ligaram para dar o seu parecer sobre os discursos de
ontem, perguntei ao meu marido o que
pensava de tanta violência oral e respondeu:
- Se aqueles que têm dados, que sabem que o país está
mal são contra, porque o que querem é o poleiro, o que se pode pensar das
pessoas que apenas sentem quando se lhes toca no bolso? Destes não há que
esperar outra coisa, é o seu imediato, não sabem outra coisa além de o dizerem
de uma maneira pouco educada, usando a palavra gatuno para qualificar o 1º Ministro,
como se estivessem no arraial. O que deviam perguntar é como é que este país
pôde fazer tanta construção sem dinheiro.
Concordei, é claro.
Mas lamentarei sempre que seja
assim.
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