Vasco Pulido Valente escreve a sua última página no
Público – 28 de Junho – até Setembro. Grande prejuízo para os leitores
seus fãs que contam com os seus textos como hóstia sagrada de missa dominical
para pacificação interior, que nos dá o trajecto dos seus escritos pela
actualidade, em analogia com os caminhos do passado, segundo a fórmula
queirosiana “A história é uma velhota que se repete sem cessar”, lugar
comum do século XVIII segundo Eça afirma em Cartas de Inglaterra, a
propósito da intervenção da Inglaterra nos destinos do Afganistão e da Irlanda,
esta última referência ajudando à decifração do extraordinário filme «A filha
de Ryan», no seu contexto histórico.
Mas Vasco Pulido Valente anda
cada vez mais sombrio, no tocante à esperança num mundo liberto de pesadelo e o
seu humor perde o sabor picante da mordacidade anterior, a favor de uma visão
assustadora de um presente cada vez mais soterrado nos desastres de um mundo em
que o futuro parece irremediavelmente condenado.
Este último artigo – «Pelo deserto»
- é sobre António Costa e o seu provável governo próximo. Eu concordo com Vasco
Pulido Valente sobre o deserto das suas passeatas, viradas exclusivamente
contra o Governo, no atamancamento de receitas sem doutrinação que preste, nem
justificação das mezinhas que poderão resultar antes em retorno aos males
anteriores.
Só tenho pena que Vasco Pulido
Valente não assuma, quando critica o PS, um honesto reconhecimento pelo
trabalho do Governo e pelo discurso sóbrio e certeiro de Passos Coelho, a sua
educação e coragem no arrostar das provocações maldosas dos seus opositores, a
sua inteligência no desmascarar das suas intenções e frustrações. Não sabemos
se, quando condena António Costa, afinal deseja o retorno de Passos Coelho,
pois quando sobre ele se pronuncia é para o denegrir também.
Mas eu desejo umas boas férias
a Vasco Pulido Valente, um intelectual de prestígio e humor bem nosso, como já
o fora o Padre António Vieira, de diferente estilo mas com desconcertante e
paradoxal conceito, por vezes, o que, aliás, só demonstra uma grande fantasia
criativa, nem sempre abonada com a impecabilidade da demonstração.
“Pelo deserto”, intitulou Vasco Pulido
Valente o seu artigo, referindo as passeatas obtentoras de votos de António
Costa.
Mas Portugal é, antes, um lindo
país, já o disse Mário Gil. E é nesse sentido – e não no metafórico de
Pulido Valente – que o transcrevo enquanto o vou escutando na Internet, no
desejo de amenizar as angústias de António Costa, caso lesse o que aqui vai
escrito. E, afinal, também as férias de Vasco Pulido Valente, no mesmo
pressuposto – modestamente céptico, evidentemente:
Pelo
deserto
Imaginem
que um dia António Costa tem mesmo de formar governo: ou seja, escolher 15
pessoas para sentar à volta de uma mesa e governar o país.
Há
primeiro o problema político. A esquerda e a extrema-esquerda nunca aceitarão
dar a cara, sem concessões que inevitavelmente só podem arruinar o minucioso
equilíbrio programático do novo PS. A direita da coligação (a única que existe)
nunca aceitará um conúbio, que dividirá o PSD e que talvez torne o CDS numa
força considerável, se não decisiva. Por outras palavras, Passos Coelho e o
misterioso Marco António mandam mais do que Manuela Ferreira Leite, de quem os
militantes não gostam. Costa ficará assim de mãos vazias quer se vire para um
lado, quer se vire para o outro. Não será, como ele gostaria, um centro de
atracção, será um centro de repulsão.
Mas,
como a Constituição o impede de deixar vazia a mesa do Conselho de Ministros,
acabará por ir procurar os seus sequazes ao “socialismo”, definido como uma
mancha vaga de gente com cartão e sem cartão. A de cartão e, às vezes, com
assento na Assembleia da República, não se distingue pela sua alta qualidade. O
velho e bom Ferro Rodrigues está a pedir reforma. A geração seguinte não tapa o
vazio da derrota de Sócrates. Portugal não olhará com muita confiança para um
governo de João Galamba, Jorge Lacão e Sónia Fertuzinhos. Claro que António
Costa já arranjou com certeza quatro ou cinco dos “sábios”, que lhe andaram a
escrever papéis, mas que o público não conhece e em que naturalmente não
confia. E o que sobra entre a emigração para o Parlamento Europeu e os
“negócios” da crise preferiu ficar de fora.
O
socialismo não enfraqueceu só politicamente, perdendo pelo mundo inteiro
deputados, maiorias, governos, presidências. Pior do que isso, o regresso ao
desemprego de massa e o fracasso anunciado do Estado Social transformaram um
programa e uma doutrina numa escaramuça de retaguarda em defesa do
funcionalismo público (da administração ou de qualquer EP), como se dele
dependesse a salvação da humanidade. Hoje, por grande que fosse a indignação
com Coelho e Cavaco, ninguém iria escolher essa pífia causa como fim e direcção
da sua vida política. Basta ver televisão ou ler os jornais para constatar a
distância que separa o cidadão comum do que por aí gritam os “jovens” do
partido. António Costa anda por esse país a ser abraçado, mexido, beijocado.
Anda sem ninguém: como quem atravessa um deserto.
Pelos
Caminhos de Portugal
Refrão:
Pelos caminhos de Portugal
Eu vi tanta coisa linda
Vi um mundo sem igual
Pelos caminhos de Portugal
Eu vi tanta coisa linda
Vi um mundo sem igual
Eu vi Estoril,
Eu vi Sintra, eu vi Cascais,
Da Batalha eu fui a Fátima
Onde a fé vive bem mais.
Eu vi Coimbra
Terra de muito aconchego
De Viseu fui pra Lamego,
Cheguei a Vila Real.
Eu vi Sintra, eu vi Cascais,
Da Batalha eu fui a Fátima
Onde a fé vive bem mais.
Eu vi Coimbra
Terra de muito aconchego
De Viseu fui pra Lamego,
Cheguei a Vila Real.
Em Trás-os-Montes
Com carinho eu vi Bragança
Terra cheia de amizade
De amor e de esperança.
E vi aldeias
Vi o Parâmio e vi o Zeire
Onde nasceu minha mãe
E uma infância feliz teve.
Com carinho eu vi Bragança
Terra cheia de amizade
De amor e de esperança.
E vi aldeias
Vi o Parâmio e vi o Zeire
Onde nasceu minha mãe
E uma infância feliz teve.
Estive em Chaves,
Vi o Bom Jesus em Braga,
De Monção fui pelo Minho
Onde a beleza não se acaba.
Fiquei contente
Em Viana do Castelo
E de Póvoa de Varzim
Ao Porto que eu tanto quero.
Vi o Bom Jesus em Braga,
De Monção fui pelo Minho
Onde a beleza não se acaba.
Fiquei contente
Em Viana do Castelo
E de Póvoa de Varzim
Ao Porto que eu tanto quero.
Meu rico Espinho
Meu rico Aveiro
E depois fui por Figueira da Foz
E de Leiria
Nazaré, Alcobaça,
Fui por Caldas da Raínha
E Santarém logo após
Meu rico Aveiro
E depois fui por Figueira da Foz
E de Leiria
Nazaré, Alcobaça,
Fui por Caldas da Raínha
E Santarém logo após
Lá em Peniche
Comi boa caldeirada
Em Sesimbra foi sardinhas
E em Setúbal só uma olhada.
Val de Lobo
Lá no Algarve, Portimão,
Em Tavira e em Faro
Eu deixei meu coração.
Comi boa caldeirada
Em Sesimbra foi sardinhas
E em Setúbal só uma olhada.
Val de Lobo
Lá no Algarve, Portimão,
Em Tavira e em Faro
Eu deixei meu coração.
Serra da Estrela
Que é tão célebre,
A boa Évora e a linda Portalegre,
Castelo Branco,
Covilhã e já não tarda
A terra do meu pai
A tão querida Guarda.
Que é tão célebre,
A boa Évora e a linda Portalegre,
Castelo Branco,
Covilhã e já não tarda
A terra do meu pai
A tão querida Guarda.
Tenho que ir
À Madeira e aos Açores
À procura de belezas.
Sei que me falta ver
Muita coisa e boa
Porém, já estou contente
Pois vi o céu, eu vi Lisboa,
Eu vi o céu, eu vi Lisboa.
À Madeira e aos Açores
À procura de belezas.
Sei que me falta ver
Muita coisa e boa
Porém, já estou contente
Pois vi o céu, eu vi Lisboa,
Eu vi o céu, eu vi Lisboa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário