quinta-feira, 9 de julho de 2015

Percursos



Vasco Pulido Valente escreve a sua última página no Público – 28 de Junho – até Setembro. Grande prejuízo para os leitores seus fãs que contam com os seus textos como hóstia sagrada de missa dominical para pacificação interior, que nos dá o trajecto dos seus escritos pela actualidade, em analogia com os caminhos do passado, segundo a fórmula queirosiana “A história é uma velhota que se repete sem cessar”, lugar comum do século XVIII segundo Eça afirma em Cartas de Inglaterra, a propósito da intervenção da Inglaterra nos destinos do Afganistão e da Irlanda, esta última referência ajudando à decifração do extraordinário filme «A filha de Ryan», no seu contexto histórico.
Mas Vasco Pulido Valente anda cada vez mais sombrio, no tocante à esperança num mundo liberto de pesadelo e o seu humor perde o sabor picante da mordacidade anterior, a favor de uma visão assustadora de um presente cada vez mais soterrado nos desastres de um mundo em que o futuro parece irremediavelmente condenado.
Este último artigo – «Pelo deserto» - é sobre António Costa e o seu provável governo próximo. Eu concordo com Vasco Pulido Valente sobre o deserto das suas passeatas, viradas exclusivamente contra o Governo, no atamancamento de receitas sem doutrinação que preste, nem justificação das mezinhas que poderão resultar antes em retorno aos males anteriores.
Só tenho pena que Vasco Pulido Valente não assuma, quando critica o PS, um honesto reconhecimento pelo trabalho do Governo e pelo discurso sóbrio e certeiro de Passos Coelho, a sua educação e coragem no arrostar das provocações maldosas dos seus opositores, a sua inteligência no desmascarar das suas intenções e frustrações. Não sabemos se, quando condena António Costa, afinal deseja o retorno de Passos Coelho, pois quando sobre ele se pronuncia é para o denegrir também.
Mas eu desejo umas boas férias a Vasco Pulido Valente, um intelectual de prestígio e humor bem nosso, como já o fora o Padre António Vieira, de diferente estilo mas com desconcertante e paradoxal conceito, por vezes, o que, aliás, só demonstra uma grande fantasia criativa, nem sempre abonada com a impecabilidade da demonstração.
“Pelo deserto”, intitulou Vasco Pulido Valente o seu artigo, referindo as passeatas obtentoras de votos de António Costa.
Mas Portugal é, antes, um lindo país, já o disse Mário Gil. E é nesse sentido – e não no metafórico de Pulido Valente – que o transcrevo enquanto o vou escutando na Internet, no desejo de amenizar as angústias de António Costa, caso lesse o que aqui vai escrito. E, afinal, também as férias de Vasco Pulido Valente, no mesmo pressuposto – modestamente céptico, evidentemente:

Pelo deserto
Público, 28/06/2015
Imaginem que um dia António Costa tem mesmo de formar governo: ou seja, escolher 15 pessoas para sentar à volta de uma mesa e governar o país.
Há primeiro o problema político. A esquerda e a extrema-esquerda nunca aceitarão dar a cara, sem concessões que inevitavelmente só podem arruinar o minucioso equilíbrio programático do novo PS. A direita da coligação (a única que existe) nunca aceitará um conúbio, que dividirá o PSD e que talvez torne o CDS numa força considerável, se não decisiva. Por outras palavras, Passos Coelho e o misterioso Marco António mandam mais do que Manuela Ferreira Leite, de quem os militantes não gostam. Costa ficará assim de mãos vazias quer se vire para um lado, quer se vire para o outro. Não será, como ele gostaria, um centro de atracção, será um centro de repulsão.
Mas, como a Constituição o impede de deixar vazia a mesa do Conselho de Ministros, acabará por ir procurar os seus sequazes ao “socialismo”, definido como uma mancha vaga de gente com cartão e sem cartão. A de cartão e, às vezes, com assento na Assembleia da República, não se distingue pela sua alta qualidade. O velho e bom Ferro Rodrigues está a pedir reforma. A geração seguinte não tapa o vazio da derrota de Sócrates. Portugal não olhará com muita confiança para um governo de João Galamba, Jorge Lacão e Sónia Fertuzinhos. Claro que António Costa já arranjou com certeza quatro ou cinco dos “sábios”, que lhe andaram a escrever papéis, mas que o público não conhece e em que naturalmente não confia. E o que sobra entre a emigração para o Parlamento Europeu e os “negócios” da crise preferiu ficar de fora.
O socialismo não enfraqueceu só politicamente, perdendo pelo mundo inteiro deputados, maiorias, governos, presidências. Pior do que isso, o regresso ao desemprego de massa e o fracasso anunciado do Estado Social transformaram um programa e uma doutrina numa escaramuça de retaguarda em defesa do funcionalismo público (da administração ou de qualquer EP), como se dele dependesse a salvação da humanidade. Hoje, por grande que fosse a indignação com Coelho e Cavaco, ninguém iria escolher essa pífia causa como fim e direcção da sua vida política. Basta ver televisão ou ler os jornais para constatar a distância que separa o cidadão comum do que por aí gritam os “jovens” do partido. António Costa anda por esse país a ser abraçado, mexido, beijocado. Anda sem ninguém: como quem atravessa um deserto.

Pelos Caminhos de Portugal
Refrão:
Pelos caminhos de Portugal
Eu vi tanta coisa linda
Vi um mundo sem igual
Eu vi Estoril,
Eu vi Sintra, eu vi Cascais,
Da Batalha eu fui a Fátima
Onde a fé vive bem mais.
Eu vi Coimbra
Terra de muito aconchego
De Viseu fui pra Lamego,
Cheguei a Vila Real.
Em Trás-os-Montes
Com carinho eu vi Bragança
Terra cheia de amizade
De amor e de esperança.
E vi aldeias
Vi o Parâmio e vi o Zeire
Onde nasceu minha mãe
E uma infância feliz teve.
Estive em Chaves,
Vi o Bom Jesus em Braga,
De Monção fui pelo Minho
Onde a beleza não se acaba.
Fiquei contente
Em Viana do Castelo
E de Póvoa de Varzim
Ao Porto que eu tanto quero.
Meu rico Espinho
Meu rico Aveiro
E depois fui por Figueira da Foz
E de Leiria
Nazaré, Alcobaça,
Fui por Caldas da Raínha
E Santarém logo após
Lá em Peniche
Comi boa caldeirada
Em Sesimbra foi sardinhas
E em Setúbal só uma olhada.
Val de Lobo
Lá no Algarve, Portimão,
Em Tavira e em Faro
Eu deixei meu coração.
Serra da Estrela
Que é tão célebre,
A boa Évora e a linda Portalegre,
Castelo Branco,
Covilhã e já não tarda
A terra do meu pai
A tão querida Guarda.
Tenho que ir
À Madeira e aos Açores
À procura de belezas.
Sei que me falta ver
Muita coisa e boa
Porém, já estou contente

Pois vi o céu, eu vi Lisboa,
Eu vi o céu, eu vi Lisboa.

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