domingo, 26 de julho de 2015

Potências



Sempre houve potências, em todos os tempos se falou em impérios – o império persa, o de Alexandre, o romano, os grandes do mundo ambicionando abarcar mais mundo. O maior de todos foi o britânico, por isso o Inglês é hoje a língua universal por excelência, e os Ingleses o povo de grande relevo, na sua educação e na sua pose. Um dia, talvez isso acabe, como acabou o latim, disseminado, contudo, em outras línguas da evolução social e cultural. Nas “Cartas de Inglaterra Eça, que foi cônsul em Newcastle e Bristol, muito escreveu sobre os Ingleses, por vezes com ironia, mas sem dúvida com admiração, que provinha do reconhecimento de quanto pode a cultura na construção do comportamento humano e das nações, que ele sintetizou na personagem Craft, o inglês fleumático e culto, amigo de Carlos da Maia e de João da Ega, personagens de elegante recorte, mau grado as ligeirezas de carácter específicas de qualquer humano ser que se preze.
As “Cartas de Inglaterra” são pródigas em descritivo magistral do poderio e ambição ingleses, que não pouparam os povos da Irlanda, do Afeganistão, do Egipto, que permitiram a sua arrogante ocupação e destruição insensata, e que, no retrato de Lord Beaconsfield, Benjamin Disraeli, conservador e primeiro ministro, sintetiza, como protagonista da extraordinária ênfase desse poderio segregacionista inglês:

«A sua assombrosa popularidade parece-me provir de duas causas: a primeira é a sua ideia (que inspirou toda a sua política) de que a Inglaterra deveria ser a potência dominante do mundo, uma espécie de Império Romano, alargando constantemente as suas colónias, apossando-se dos continentes bárbaros e britanizando-os, reinando em todos os mercados, decidindo com o peso da sua espada a paz ou a guerra do mundo, impondo as suas instituições, a sua língua, as suas maneiras, a sua arte, tendo por sonho um orbe terráqueo que fosse todo ele um império britânico, rolando em ritmo através dos espaços.
Este ideal, que tomou o nome de imperialismo, nos dias de glória de Lord Beaconsfield, é uma ideia querida a todo o inglês; os mesmos jornais liberais que, com tanto furor, denunciavam os perigos desta política romana, no fundo gozavam uma imensa satisfação de orgulho em proclamarem a sua inconveniência. Havia tanta prosápia britânica em conceber um tal Império, como em o condenar, e em dizer, com ar de nobre renunciamento: “Não nos convém a responsabilidade de governar o mundo”»(in “Cartas de Inglaterra”, VIII - Lord Beaconsfield)

Este domínio do mundo foi, assim, aliado a um consenso generalizado de arrogância e ambição de poder, que, se partiu de uma cabeça de judeu inteligente e célebre, teve, todavia o apoio da monarquia britânica e o apreço da rainha Vitória que o nomeou Lord. Não têm o mesmo carisma, as conquistas de Napoleão como as invasões europeias de Hitler no seu quê de sinistro e de loucura desses chefes, sobretudo do último, conquistas que naturalmente seriam fracassadas, embora não efémeras e necessariamente criminosas. O povo francês como o alemão se submeteram a esses chefes, talvez por manipulação ideológica ou naturalmente acobardada.
O certo é que os povos do centro e do norte europeus têm um poder de organização e de trabalho superiores aos do sul, talvez por factores climáticos, talvez porque assim teve que ser, é dos fados.
A Alemanha defendeu-se dos “castigos” impostos pelos povos vencedores, continuando a trabalhar em ordem e progresso e coesão e participou na aliança aparentemente generosa e táctica de união económica de povos europeus destinada a uma melhor autodefesa. A Banca distribuidora dos fundos monetários cobra taxas miseravelmente esbulhadoras, segundo se diz, donde, a impossibilidade de ressarcimento das dívidas  nos povos endividados, destruída a economia também por excesso de falcatrua de muitos dos encarregados das empresas nesses países.
O Império que se segue é, pois, favorecido pelos Bancos, como exércitos avançados dessas potências, informa o artigo de António da Cunha Duarte Justo «OS BANCOS  SÃO OS EXÉRCITOS AVANÇADOS DAS POTÊNCIAS», publicado no “A Bem da Nação”:


«OS BANCOS SÃO OS EXÉRCITOS AVANÇADOS DAS POTÊNCIAS»

«União Europeia dividida em Europa do Norte e Europa do Sul
Em termos de mentalidade e de economia a Europa encontra-se dividida em duas: a Europa do Norte e a Europa do Sul como podemos constatar a partir da luta cultural iniciada no século XVI pela reforma protestante e em parte na maneira como o império romano desabou. A norte predomina a mentalidade da cultura protestante (mais capitalista e técnica) e a sul a mentalidade católica (de caracter mais rural e natural); a primeira tem uma perspectiva mais individual (elitista) e a segunda uma perspectiva mais comunitária (popular).
Com a tragédia da segunda guerra mundial os países centrais e nórdicos começam por criar uma união económica integradora das economias. Com a queda do muro de Berlim resultante do colapso do comunismo pensou-se na organização de uma Europa económica e política sem fronteiras (1). Finda assim a época das guerras militares entre países europeus para surgir um outro tipo de guerra: a guerra económica com sanções e servidões entre as nações.
Antes as nações usavam a força dos exércitos para derrubarem principados e nações; actualmente, com uma estratégia adequada à democracia, as potências usam o seu poder financeiro internacional (Bancos) para derrubarem soberanias de economia mais fraca e para humilharem democracias. De facto, os bancos são os novos exércitos avançados das nações.
Por outro lado, os soldados mercenários da guerra foram substituídos pelos trabalhadores migrantes…
A estratégia pós-guerra da França de condicionar a União da Alemanha à criação da Moeda Única (Zona Euro) para, deste modo, a amarrar e criar uma zona de paz duradoura na Europa não parece frutificar. A Alemanha perdeu a guerra político-militar mas ganhou a guerra económico-política; e esta é a guerra do globalismo.
Como se vê da Grécia e de Bruxelas, da disputa entre o norte e o sul da Europa, as hostes avançadas e discretas da economia não arredam pé. Não há uma política económica para as nações. Em vez de uma Europa confiante vive-se numa sociedade europeia de medos. A Europa do Norte compreende-se como trabalhadora arrecadando para o seu celeiro e sofre do medo de ter de distribuir o que de todos arrecadou com suor e inteligência: A Europa do Sul teme pelo seu estilo de vida: uma existência do bom viver; “não só de pão vive o Homem”; por isso se reage veementemente não querendo ser reduzida a homo faber.
António da Cunha Duarte Justo

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