Publicou
o “A Bem da Nação” série de artigos da Investigadora Linguística, Maria
Manuela Barros Ferreira, sobre a oposição ao AO90, artigos breves
mas bem documentados, dos quais apenas retiro o último - nono -, de argumentos
conclusivos para rebate das consciências dos que governam e que decididamente
parecem indiferentes a este crime de lesa-pátria que se comete, numa estulta
pretensão de simplificação da escrita que não é mais que machadada sobre a lógica
da construção da língua. Admiro quem luta ainda contra os moinhos de vento de
insensatez e da mediocridade que se impõem airosamente no céu da pátria, admiro
quem continua a explicitar os porquês do desacerto a olhos cegos e a ouvidos surdos, admiro o autor deste blog “A Bem da Nação”,
que descobre e publica os textos daqueles, abelha obreira numa colmeia
esfrangalhada, Quixote vencido, tal como o são os investigadores linguísticos,
perante o estupor dos Sanchos, escudeiros ineficientes e apenas lacrimejantes. Ou
apostrofantes, de resultado idêntico, no estatelar dum povo passivo na pátria enxovalhada:
O ACORDO ORTOGRÁFICO DE
1990 – 9
Qualquer
crítica – e qualquer defesa – que se baseie sobretudo em chamar nomes aos
defensores e aos críticos, não é crítica nem defesa: é mero desabafo, auto-
regozijo pela certeza que transborda da alma de cada um. Não vale nada.
Por isso
não me atrevo a ser contra a adopção do Acordo Ortográfico de 1990 sem
apresentar as razões em que me baseio.
Os
argumentos que se seguem são de ordem operatória, fonológica, morfológica, de
linguística histórica, sociológica, diplomática, económica e de preservação
histórica.
Há mais,
porém fico por aqui.
Argumento
da preservação da História
É
natural que uma língua que se começou a escrever há relativamente pouco tempo –
o galego, no século XIX, ou o mirandês, no fim do século XX – não tenham
qualquer obrigação de respeitar formas neológicas que os portugueses inventaram
no fim da Idade Média e séculos seguintes.
Porém, a
mim parece‐me que
todos nós, portugueses, que temos uma língua escrita desde, pelo menos, D.
Afonso II, temos obrigação de manter, quando existem, as marcas históricas das
palavras.
Ao
modificar a escrita, com base numa (suposta) maior facilidade da sua
aprendizagem, estabeleceu‐se uma enorme confusão nessa mesma
escrita e perdeu-se a possibilidade de jovens e menos jovens compreenderem os
mecanismos de formação de palavras.
Perdeu‐se
o nexo entre elas.
Para
terminar:
A grafia
portuguesa já, em tempos, renunciou a algumas marcas históricas: o “ph” e o
“ll”, por exemplo, que eram, de facto desnecessárias.
Porém o
AO 90 vai longe demais, ao afectar de modo evidente a leitura das vogais não
acentuadas e a conexão lógica que existe dentro de cada paradigma vocabular.
E outra
coisa deve ser tida em conta: ao renunciar de modo cego às marcas históricas, a
aprovação deste “acordo” insere‐se num movimento geral, mundial, de apagamento
da memória e de negação da História.
Terrível
movimento, que cada dia se torna mais evidente e que vai deixar sem raízes, sem
passado, uma série de povos, se não a maioria. E que já está deixando o mundo à
deriva, presa dócil de todas as tiranias.
Admiramo-nos
do modo como estão sendo destruídos monumentos, museus, cidades, inúmeras
etnias.
Esse
desrespeito, esse crime, que hoje nos parece abrupto, começou devagar, por
coisas aparentemente insignificantes.
É inelutável. Será?
Manuela Barros Ferreira
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