sábado, 25 de julho de 2015

Quixotismos




Publicou o “A Bem da Nação” série de artigos da Investigadora Linguística, Maria Manuela Barros Ferreira, sobre a oposição ao AO90, artigos breves mas bem documentados, dos quais apenas retiro o último - nono -, de argumentos conclusivos para rebate das consciências dos que governam e que decididamente parecem indiferentes a este crime de lesa-pátria que se comete, numa estulta pretensão de simplificação da escrita que não é mais que machadada sobre a lógica da construção da língua. Admiro quem luta ainda contra os moinhos de vento de insensatez e da mediocridade que se impõem airosamente no céu da pátria, admiro quem continua a explicitar os porquês do desacerto a olhos cegos  e a ouvidos surdos,  admiro o autor deste blog “A Bem da Nação”, que descobre e publica os textos daqueles, abelha obreira numa colmeia esfrangalhada, Quixote vencido, tal como o são os investigadores linguísticos, perante o estupor dos Sanchos, escudeiros ineficientes e apenas lacrimejantes. Ou apostrofantes, de resultado idêntico, no estatelar dum povo passivo na pátria enxovalhada:


O ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 – 9
Qualquer crítica – e qualquer defesa – que se baseie sobretudo em chamar nomes aos defensores e aos críticos, não é crítica nem defesa: é mero desabafo, auto- regozijo pela certeza que transborda da alma de cada um. Não vale nada.
Por isso não me atrevo a ser contra a adopção do Acordo Ortográfico de 1990 sem apresentar as razões em que me baseio.
Os argumentos que se seguem são de ordem operatória, fonológica, morfológica, de linguística histórica, sociológica, diplomática, económica e de preservação histórica.
Há mais, porém fico por aqui.

Argumento da preservação da História

É natural que uma língua que se começou a escrever há relativamente pouco tempo – o galego, no século XIX, ou o mirandês, no fim do século XX – não tenham qualquer obrigação de respeitar formas neológicas que os portugueses inventaram no fim da Idade Média e séculos seguintes.

Porém, a mim pareceme que todos nós, portugueses, que temos uma língua escrita desde, pelo menos, D. Afonso II, temos obrigação de manter, quando existem, as marcas históricas das palavras.

Ao modificar a escrita, com base numa (suposta) maior facilidade da sua aprendizagem, estabeleceuse uma enorme confusão nessa mesma escrita e perdeu-se a possibilidade de jovens e menos jovens compreenderem os mecanismos de formação de palavras.

Perdeuse o nexo entre elas.

Para terminar:

A grafia portuguesa já, em tempos, renunciou a algumas marcas históricas: o “ph” e o “ll”, por exemplo, que eram, de facto desnecessárias.

Porém o AO 90 vai longe demais, ao afectar de modo evidente a leitura das vogais não acentuadas e a conexão lógica que existe dentro de cada paradigma vocabular.

E outra coisa deve ser tida em conta: ao renunciar de modo cego às marcas históricas, a aprovação deste “acordo” inserese num movimento geral, mundial, de apagamento da memória e de negação da História.

Terrível movimento, que cada dia se torna mais evidente e que vai deixar sem raízes, sem passado, uma série de povos, se não a maioria. E que já está deixando o mundo à deriva, presa dócil de todas as tiranias.
Admiramo-nos do modo como estão sendo destruídos monumentos, museus, cidades, inúmeras etnias.
Esse desrespeito, esse crime, que hoje nos parece abrupto, começou devagar, por coisas aparentemente insignificantes. É inelutável. Será?

Manuela Barros Ferreira

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