Retomo o tema anterior
Sobre o hábito da crítica
Desta vez com uma fábula
De La Fontaine
Embora imitada
De Esopo e de Fedro.
É dirigida aos zoilos
Ferrenhos
Sempre prontos a denegrir
(- Ou a ignorar,
O que é bem pior
Segundo o meu parecer –)
Os que, não sendo da mesma
confraria
Seguem o próprio caminho
Com energia,
Sem pedir licença
Ao vizinho.
Assim, La Fontaine se entretém
Contra a tal crítica dos
zoilos
Como o nosso Garrett
também faria
No seu «Ignoto Deo»
de excelsa memória
Onde ele informa que o
Poeta vai
Onde ninguém mais vai ou
foi,
Cheio de reivindicações
De genialidade
E de explicitações
De originalidade,
Como se pode sempre na
obra ler
De tão excelso escritor.
Conta, pois, La Fontaine,
A fábula da serpente
Que mata o seu voraz
apetite
Roendo uma lima dura
À falta de melhor comida,
A qual só lhe partiria um
dente
Sem outro grave incidente
- (Como os da Nau
Catrineta
Que também Garrett cita) -
Segundo o sagaz fabulista
Às críticas indiferente:
«A Serpente e a Lima
Conta-se que havia
uma Serpente
Vizinha de um
Relojoeiro
- Má vizinhança,
naturalmente –
Entrou na relojoaria,
Procurando por comida,
Meio espavorida.
Não encontrou para
comer
Mais do que uma lima
de ferro
Que logo tentou roer
- (Pior que as solas de
molho,
Nem há que ver!) –
Sem se encolerizar
Esta Lima assim
falou:
«- Pobre ignorante!
Que achas que estás
a fazer?
Contra um mais forte
do que tu
Só te estás a meter!
Pequena serpente de
cabeça tonta
Antes que de mim
levasses
A quarta parte dum
óbolo
- (Peso que a quaisquer
dez grãos
É correspondente,
Leio na Internet) -
Partirias os teus
Dentes todos.
Ora eu só receio
Os dentes do tempo.»
Vê-se bem que La Fontaine
Estava escamado,
Que é como quem diz, irado,
Contra qualquer crítico
Dos de muito afã,
De muita veia,
Que às vezes até vêm
Com pezinhos de lã
Deitando abaixo,
Sem consideração,
Qualquer boa reputação.
Mas a fábula tem aplicação
Ontem, hoje e amanhã.
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