segunda-feira, 6 de julho de 2015

Mama



Agora é que os nossos syrizas se vão fartar de gozar o nosso Governo da austeridade que lixou muita gente, em vez de ter tomado a pose de galaró em torno das frangas, como a que tomou Varoufakis  ou a pose de Adónis meigo, a merecer afagos dos parlamentares europeus.
Ei-la, estou a ouvir a primeira – Catarina Martins: nada de novo na frente ocidental. Os outros falarão a seguir, intercalados com as notícias dos resultados, na felicidade de poderem uma vez mais esfacelar o Governo do rebaixamento, porque cumpriu um acordo, em vez de ter procedido com a atitude altiva e exigente dos seus parceiros trafulhas.
Já tudo se disse, de uns e de outros, a minha opinião não conta, como, de resto, não conta nenhuma. Só desejo manifestar, uma vez mais, o meu apreço pelo meu Governo, que seguiu escrupulosamente o estipulado numa convenção de empréstimo, cumprindo o melhor que pôde, segundo parâmetros de lisura que ao que parece já não fazem parte das normas sociais.
Salles da Fonseca envolve a questão com elementos filosóficos que enriquecem os lugares comuns, em que se tornaram os deveres e os direitos que o tempo estratificou. Uma questão de educação não permite que os do templo nortenho do formigueiro empreendedor aceitem como justa a posição dos sulistas baladeiros. As generalizações são sempre erróneas, e muitos da babel  sulista também se identificam com os princípios da rigidez kantiana e condenam os truques olímpicos de fuga aos compromissos, das cigarras chupistas do trabalho alheio.
Eis o texto de Salles da Fonseca, saído no A Bem da Nação, de jocosidade emparelhando com a compostura da seriedade:

O WALHALLA E O OLIMPO
O que é válido para as formigas muito dificilmente o é para as cigarras. E vice-versa. Os conceitos de vida são de tal modo diferentes que só por mero acaso pode haver interesses comuns. Eis por que a União Europeia começa por não o ser plenamente: europeia, sim; união, de todo.
Neste cenário, o sentido do dever perante o formigueiro nada tem a ver com o desenrascanço, a trapaça corriqueira, o «dolce fare niente», a «nonchalance», o «não te rales» das cigarras cantadeiras.
O sentido kantiano do dever perante o bem comum resulta no conceito de que o trabalho é uma obrigação social; o individualismo, pelo contrário, assenta no princípio de que a felicidade platónica é um direito natural em que o trabalho não passa de um instrumento descartável – tão precário quanto possível e tanto melhor quanto mais precário ele puder ser - para alcançar essa felicidade. Conceitos, portanto, opostos, o de viver para trabalhar e o de trabalhar para viver.
Outra diferença também importante: o conceito de que o trabalho é um dever; o conceito de que o trabalho é um direito.
Ao empenhamento individual na prossecução do bem comum subjazem razões morais (a questão dos princípios, que pode inclusive ter fundamentação religiosa ao estilo luterano) e éticas (a questão dos factos, que muito naturalmente se traduz num enquadramento jurídico construído adrede durante séculos); ao individualismo subjazem outras razões - que divergem largamente dos conceitos luteranos e kantianos – e conduzem a situações de todos nós, sulistas, bem conhecidas tais como essa de enjeitar responsabilidades («eles» é que são os culpados), de viver à custa do próximo (os ricos que paguem a crise), de recusa do risco (um emprego na Repartição Pública é que é bom).
Tudo, afinal, uma questão de educação.
E que cenários tão diferentes temos na instrução e formação profissional. Nem vale a pena aprofundar a análise: basta comparar os níveis médios de habilitações nos países nórdicos e nos países do Sul da Europa. A Internet tem informação estatística mais do que suficiente para que todos, sulistas, nos enchamos de vergonha. Eu não a vou compulsar mais enquanto tivermos em Portugal um único adulto analfabeto, desses que só sabem desenhar o nome.
Daquele empenho generalizado de contribuir individualmente de modo instruído para o bem comum das sociedades «formigueiras» resulta uma notável dinâmica económica produtiva; nas sociedades «cigarreiras» há quem insinue a falácia de que o consumo é motor do desenvolvimento.
De nada valem invectivas contra os que são competitivos, poupam e emprestam dinheiro aos que se habituaram à função esmoler. É politicamente incorrecto fomentar a inveja e a burocracia; é crime navegar na corrupção; é lastimável que se construam pesados cenários legais e regulamentações constrangedoras só porque o legislador sempre desconfia de quem é empreendedor.
Não acredito que o Walhalla tenha monopolizado todas as virtudes para os seus povos apenas deixando problemas para os seus «colegas» do Olimpo mas acredito que todos esses Deuses tenham grandes dificuldades de relacionamento.
União Europeia? Je m'en doute.
No dia em que os Deuses do Olimpo mandam os seus devotos a referendo. 

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