Agora é que os nossos syrizas se vão
fartar de gozar o nosso Governo da austeridade que lixou muita gente, em vez de
ter tomado a pose de galaró em torno das frangas, como a que tomou
Varoufakis ou a pose de Adónis meigo, a
merecer afagos dos parlamentares europeus.
Ei-la, estou a ouvir a primeira –
Catarina Martins: nada de novo na frente ocidental. Os outros falarão a seguir,
intercalados com as notícias dos resultados, na felicidade de poderem uma vez
mais esfacelar o Governo do rebaixamento, porque cumpriu um acordo, em vez de
ter procedido com a atitude altiva e exigente dos seus parceiros trafulhas.
Já tudo se disse, de uns e de outros,
a minha opinião não conta, como, de resto, não conta nenhuma. Só desejo
manifestar, uma vez mais, o meu apreço pelo meu Governo, que seguiu
escrupulosamente o estipulado numa convenção de empréstimo, cumprindo o melhor
que pôde, segundo parâmetros de lisura que ao que parece já não fazem parte das
normas sociais.
Salles da Fonseca envolve a questão com
elementos filosóficos que enriquecem os lugares comuns, em que se tornaram os
deveres e os direitos que o tempo estratificou. Uma questão de educação não
permite que os do templo nortenho do formigueiro empreendedor aceitem como
justa a posição dos sulistas baladeiros. As generalizações são sempre erróneas,
e muitos da babel sulista também se
identificam com os princípios da rigidez kantiana e condenam os truques
olímpicos de fuga aos compromissos, das cigarras chupistas do trabalho alheio.
Eis o texto de Salles da Fonseca,
saído no A Bem da Nação, de jocosidade emparelhando com a compostura da
seriedade:
O
WALHALLA E O OLIMPO
O que é
válido para as formigas muito dificilmente o é para as cigarras. E vice-versa.
Os conceitos de vida são de tal modo diferentes que só por mero acaso pode
haver interesses comuns. Eis por que a União Europeia começa por não o ser
plenamente: europeia, sim; união, de todo.
Neste
cenário, o sentido do dever perante o formigueiro nada tem a ver com o
desenrascanço, a trapaça corriqueira, o «dolce fare niente», a «nonchalance», o
«não te rales» das cigarras cantadeiras.
O
sentido kantiano do dever perante o bem comum resulta no conceito de que o
trabalho é uma obrigação social; o individualismo, pelo contrário, assenta no
princípio de que a felicidade platónica é um direito natural em que o trabalho
não passa de um instrumento descartável – tão precário quanto possível e tanto
melhor quanto mais precário ele puder ser - para alcançar essa felicidade.
Conceitos, portanto, opostos, o de viver para trabalhar e o de trabalhar para
viver.
Outra
diferença também importante: o conceito de que o trabalho é um dever; o
conceito de que o trabalho é um direito.
Ao
empenhamento individual na prossecução do bem comum subjazem razões morais (a
questão dos princípios, que pode inclusive ter fundamentação religiosa ao
estilo luterano) e éticas (a questão dos factos, que muito naturalmente se traduz
num enquadramento jurídico construído adrede durante séculos); ao
individualismo subjazem outras razões - que divergem largamente dos conceitos
luteranos e kantianos – e conduzem a situações de todos nós, sulistas, bem
conhecidas tais como essa de enjeitar responsabilidades («eles» é que são os
culpados), de viver à custa do próximo (os ricos que paguem a crise), de recusa
do risco (um emprego na Repartição Pública é que é bom).
Tudo,
afinal, uma questão de educação.
E que
cenários tão diferentes temos na instrução e formação profissional. Nem vale a
pena aprofundar a análise: basta comparar os níveis médios de habilitações nos
países nórdicos e nos países do Sul da Europa. A Internet tem informação
estatística mais do que suficiente para que todos, sulistas, nos enchamos de
vergonha. Eu não a vou compulsar mais enquanto tivermos em Portugal um único
adulto analfabeto, desses que só sabem desenhar o nome.
Daquele
empenho generalizado de contribuir individualmente de modo instruído para o bem
comum das sociedades «formigueiras» resulta uma notável dinâmica económica
produtiva; nas sociedades «cigarreiras» há quem insinue a falácia de que o
consumo é motor do desenvolvimento.
De nada
valem invectivas contra os que são competitivos, poupam e emprestam dinheiro
aos que se habituaram à função esmoler. É politicamente incorrecto fomentar a
inveja e a burocracia; é crime navegar na corrupção; é lastimável que se
construam pesados cenários legais e regulamentações constrangedoras só porque o
legislador sempre desconfia de quem é empreendedor.
Não
acredito que o Walhalla tenha monopolizado todas as virtudes para os seus povos
apenas deixando problemas para os seus «colegas» do Olimpo mas acredito que
todos esses Deuses tenham grandes dificuldades de relacionamento.
União
Europeia? Je m'en doute.
No dia em que os Deuses do Olimpo mandam os seus devotos a referendo.
No dia em que os Deuses do Olimpo mandam os seus devotos a referendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário