quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

ARCOBALENO



Um breve texto, antes diria comentário, de António da Cunha Duarte Justo, publicado no «A Bem da Nação», que me pôs a pensar na densidade do pensamento que pretende atingir uma santa perfeição, na sua posição intermédia, a virar neutralidade, ao analisar os fanatismos da direita e os da esquerda, mais os primeiros do que os últimos, todavia, merecendo, os extremistas daquela, um rigor crítico mais castigador, conotados, ao que parece, com a cor preta – se é que o preto constitui cor – o vermelho sendo marca há muito definida para simbolizar a esquerda, além de enfurecer os touros.
Na sua posição de compreensão infinita, a sugerir as santas palavras do papa Francisco, que abre os braços a todos os humanos, como já fazia Cristo, mas mais com as criancinhas, pois até foi duro com outros pecadores, como os vendilhões do templo, Duarte Justo lembra aos extremistas de direita - os tais conotados com o negro temeroso - que não devem ser tão densamente fanáticos nas suas acusações à esquerda, devem abrir os braços e aceitar todas as cores, e sobretudo as do arco-íris. Creio que foi nessa referência inspirado na canção cantada pela Judy Garland no “Feiticeiro de Oz”, menina sonhando com um lugar onde a felicidade existe, coloridamente, por trás do arco-íris, que transponho da Internet, por via de uma demonstração exemplificativa do meu pensamento sem fanatismos de cor nenhuma:

«Somewhere over the rainbow
Way up high
There's a land that I heard of
Once in a lullaby

Somewhere over the rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare to dream
Really do come true

Some day I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far behind me
Where troubles melt like lemondrops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
Birds fly over the rainbow
Why then, oh why can't I?
Some day I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far behind me
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly
Birds fly over the rainbow
Why then, oh why can't I?

If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I? »

A tese de Duarte Justo, para além de se centrar no colorido do tal arco, simbólico de beatitude, e desfazer no fanatismo, avalia este na sua densidade - o da esquerda, muito esbatido,  em confronto com o da extrema direita, mais avivado, pela pobreza própria do pensamento que carrega em si e atribui aos outros, com presunção e sem nenhum pudor.
É uma tese como qualquer outra, mas a demonstração, partindo de uma hipótese já maculada de parti pris, ou seja de subjectividade, não parece atingir o grau de racionalidade necessário a uma perfeita análise, que parece, em nome das cores da solidariedade e da paz, querer pôr-nos a esperar a abertura de braços fraternos a todos os jihads de cutelo em punho ou aos poderosos rebentando a Terra à bomba, ou assando os homens nas câmaras de gás para apuramento das raças e outros desígnios. Deles também é o reino dos céus, segundo a bondosa tese.
Quanto a mim, o “A Bem da Nação” apresenta a melhor resposta para ela, através da citação que nele se faz do discurso do sábio Dante Alighieri, o autor da “Divina Comédia” que, esse sim, revela um perfeito saber humanista, conhecedor dos homens e das mulheres de todas as cores do seu tempo:
«Os lugares mais quentes do Inferno estão reservados para aqueles que, em tempos de crise moral, mantêm a sua neutralidade.»

O texto de António da Cunha Duarte Justo:

FANATISMOS: UMA QUESTÃO DE DENSIDADE!
O fanatismo ideológico da esquerda encontra-se bem distribuído por toda ela; por isso, embora obsessivo, não se nota tanto. Faz parte do seu sustento.
O fanatismo da direita concentra-se na sua extrema, sendo aí muito visível mas menos presente na massa. Cada um combate nos outros, à sua maneira, a pobreza que traz dentro de si. É um encurtamento do pensamento quando se reduz a realidade ao vermelho ou ao preto esquecendo que as cores do arco-íris são o que torna a vida mais bela.
Os pensamentos por mais contrários que pareçam, tal como as cores são complementares e como tal amigos e não adversários. A liberdade da cultura tal como a multiplicidade da natura precisam de todos, dos mais à esquerda até aos mais à direita! Discutam-se as ideias mas aceitem-se as pessoas que as têm.
Vivemos em tempos de crise económica e cultural, o que híper sensibiliza a percepção dos problemas, sejam eles económicos, políticos, sociais ou de imigração. Talvez por isso se ganha a impressão que a opinião pública se parece mover entre um dogmatismo tradicional e um republicanismo jacobino. Os dois fomentam o radicalismo e a intolerância. A tolerância recíproca é a solução para o bom conviver, como reconhecia Lessing no “Nathan, o Sábio”. A opinião segura mas aberta é o pressuposto para o desenvolvimento e a paz.

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