domingo, 31 de janeiro de 2016

Há ainda o Avante



Vasco Pulido Valente, sabedor que é de história universal e outras, explica-nos que o PCP há muito que perdeu relevância, surgida com ênfase na época do nacional-socialismo alemão, com as suas maldades e orientação capitalista e depuradora de raças pelo extermínio, além de ocupadora danosa de nações submetidas, que foi um autêntico regabofe para a raça eleita. E isso fez que as gentes da cultura enfileirassem em doutrinas que pareciam mais humanitárias, as tais do marxismo que atribuía igualdades e os mesmos direitos a toda a gente, sem distinções, e até recordo uma peça do Sartre – “La P. respectueuse” - sobre uma mulher da vida, mulher generosa que escondeu um preto perseguido pela polícia - aliás inutilmente, pois o cinismo dos poderosos prevaleceu, o que me impressionou muito, na altura. A aura marxista era, pois, valiosa no tempo da guerra, em oposição ao fascismo, e também nós tivemos o nosso Álvaro Cunhal que partiu para a Rússia, ido de Peniche, que é o sítio dos bons camaradas segundo o nosso aforisma. Na Rússia ele aprendeu melhor como era o humanitarismo comunista, embora houvesse sempre uma grande má vontade contra os russos, do lado de cá, e sobretudo contra Estaline, e a mim, que realmente os não amava, em obediência às normas do respeito pelos ditames que seguíamos (e que mantenho, velha anquilosada que me sinto), até me perguntaram, já depois do 25 de Abril se eu também era das que acreditava que os comunistas comiam meninos ao pequeno almoço e eu confirmei. Mas foi porque estava danada com aquela movimentação tosca das nossas tropas de cravos nos canos que deitaram o governo e o país às urtigas, o que muito feriu o meu conceito de amor pátrio, embora agora já não saiba muito bem o que isso significa, depois de ter ouvido na Quadratura do Círculo desta semana José Magalhães e Pacheco Pereira apelidarem de ausência de patriotismo  a satisfação dos ganha-perde eleitorais por o OE de A. Costa ter sido sujeito a questionário de explicitação por parte de Bruxelas.
Mas é bonita a valer essa defesa constante do PC e também do Bloco de Esquerda - que o exigem igualmente do PS - dos direitos dos trabalhadores com reposição de tudo o que lhes foi tirado e até me sinto aliviada agora, pensando que vou ter direito novamente ao meu vencimento antigo, embora já tenha ouvido que só será reposto um euro, não sei se é ironia, pois gostamos sempre das boas anedotas, valha-nos isso.
O certo é que Vasco Pulido Valente afirma que o PC perdeu  dimensão e agora percebo porque é que o fosso – “décalage” é mais sofisticado, mas sou modesta no escrever - entre os ricos e os pobres, os com todos os direitos e os sem nenhuns, vai alargando mais e mais, que não há meio  de chegarmos a um consenso de equilíbrio.
Não sei se isso acontece –“e isso acontece a tanta gente que não vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece”, diria Álvaro de Campos mas por diferentes ambições de prestígio, não sei, pois, se isso do fosso entre pobres e ricos acontece pela diminuição do prestígio do PC que refere  Pulido Valente. O certo é que não penso isso, dada a influência inquisitorial com que os três partidos à esquerda do PS manietam António Costa no Parlamento, não só exigindo que ele cumpra o que lhes prometeu de reposição de fundos e normas antigas ao Zé Povo, que é hábil a mandar manguitos, como – e esta é da verde Heloísa Apolónia – exigindo que ele não seja subserviente  para com a UE, como foi Passos Coelho, ou seja, que não tenha pressa de pagar a dívida que o Estado Português contraiu com Bruxelas, coisa pouca .
Contrariamente, pois, ao que Vasco Pulido Valente define como perda de relevo do PC, eu diria que cada vez este tem mais, pelo menos cá no país, sobretudo se se tiver em conta a tripla aliança Verdes, PC e BE, juntamente com os sindicatos das reivindicações, por via da governabilidade do PS.
Eu até dou uma forcinha, extraindo da Internet o Hino do PC que estive a escutar, não para libertar os antigos heróis das masmorras, mas para erradicar a fome do mundo. Ou pelo menos do nosso país. Que as promessas são para se cumprir.  E a um euro – valemos pouco - Bruxelas não vai negar o Orçamento, ora essa!.
As desgraças do PCP
Público, 29/01/2016
O prestígio do Partido Comunista Português começou a diminuir depois da guerra, com as purgas de Estaline aos judeus da Rússia e aos “desviacionistas” da Hungria a da Checoslováquia. Sem a ameaça de Hitler, as barbaridades do Generalíssimo já não eram engolidas com a mesma credulidade. O PCP não percebeu isto e nem sequer seriamente notou como estava a ser tratado pelos seus próprios “simpatizantes”, que desprezavam a orientação dos funcionários e lhes chamavam batatulinas*. Claro que o “Partido” (só havia aquele) ainda exercia uma considerável influência sobre a vida cultural do país (pelo que ela valia) e pouco a pouco ia infiltrando e dominando o movimento estudantil. Mas já Cunhal tinha de protestar contra os movimentos “pequeno-burgueses” de “fachada socialista”, que apareciam na Universidade e um pouco fora dela.
O “25 de Abril” permitiu que o PC se apoderasse de umas dúzias de oficiais, que ele catequizara a tempo na clandestinidade ou que genuinamente se julgavam “revolucionários”. Isto que naquele tempo serviu para envolver o país numa aventura sem sentido, no fim não chegou para mais do que para legar à democracia uma constituição programática e absurda. De 1975 em diante o PC arrastou uma existência mesquinha e acabou reduzido a umas Câmaras no Alentejo, com uma população envelhecida e sem qualquer importância estratégica e a uma dúzia de sindicatos do funcionalismo público e de companhias do Estado. A sua morte natural parecia próxima.
Só que o PCP é uma máquina financeiramente pesada e, para se sustentar, precisou de uma aliança tácita com o PS. Suponho que entre os velhos militantes ninguém desculpará a Jerónimo de Sousa essa cedência ao inimigo histórico do Partido e que a gente mais nova deixou de ter qualquer razão ideológica ou sentimental para morrer agarrada a um cadáver. Chamar, como Jerónimo, uma “rapariga engraçadinha” a uma adulta de 40 anos mostra que ele passou para lá da mais modesta compreensão do mundo real. Se o PC se vai esfumar sossegadinho no seu canto ou se vai arrastar o PS na sua queda (como os “duros” querem) é o que resta apurar. Seja como for, a agonia do comunismo irá com certeza produzir uma guerra na esquerda, que pode levar o regime à ruína.
* Infelizmente, não sei a origem desta palavra, mas sei que significava “fanático burro”.

Festa com Avante
Refrão:
Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!

Ergue da noite, clandestino,
À luz do dia a felicidade,
Que o novo sol vai nascendo
Em nossas vozes vai crescendo
Um novo hino à liberdade
Que o novo sol vai nascendo
Em nossas vozes vai crescendo
Um novo hino à liberdade

Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!

Cerrem os punhos, companheiros,
Já vai tombando a muralha.
Libertemos sem demora
Os companheiros da masmorra
Heróis supremos da batalha
Libertemos sem demora
Os companheiros da masmorra
Heróis supremos da batalha

Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!

Para um novo alvorecer
Junta-te a nós, companheira,
Que comigo vais levar
A cada canto, a cada lar
A nossa rubra bandeira
Que comigo vais levar
A cada canto, a cada lar
A nossa rubra bandeira

Avante, camarada, avante,
Junta a tua à nossa voz!
Avante, camarada, avante, camarada
E o sol brilhará para todos nós!

A propósito de tão vasta dimensão do PC e satélites, extraio a seguinte notícia da Internet:

A Festa do Avante! é uma festa cultural e musical com a duração de 3 dias, realizada pelo Partido Comunista Português. É o maior evento político-cultural realizado em Portugal. Wikipédia
Datas: 4 de set - 6 de set de 2015

Devemos sentir orgulho patriótico, por muito que outros só encontrem  gorgulho no evento cultural de três dias. Faz-me cá uma raiva! - expressão de Solnado, que também era a favor.

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