Parece que Marisa Martins
andou na campanha a estender abraços e promessas de auxílio, pois no seu
discurso triunfal de ganhadora relativamente aos do PC e mais uns tantos, incluindo a frágil Maria de
Belém e o Tino de Rans, explicou que estas eleições serviram para o borbulhar ruidoso
de uma nova feição no nosso mundo político, que vai repor, por seu intermédio,
respeito humano, especialmente socorrendo
os desrespeitados. E o povo da campanha, olha-a com devoção, rapariga modesta e
bem bonitinha, ao nosso modo, que inclui inocência e muita simpatia, tal como a
Joaninha do Garrett, ajudando a avó cega a enovelar os novelos, e mantendo o
culto pelo primo Carlos, que pelas minhas contas até seria mais novo do que
ela, mas que Garrett no reencontro dos dois aquando da guerra civil, atribui mais
quinze anos, baralhando romanticamente os dados, para o fazer apaixonar-se pela
prima, mulherengo que era e sentimentalão – refiro-me a Carlos, não a Garrett,
embora este também não lhe ficasse atrás em propensão sentimental. Marisa
Martins, uma nova “menina dos rouxinóis”, na bondade e no poder de sedução, que
tudo promete, mesmo sabendo que o nosso tudo é nada, que temos de saber gerir,
pois não nos pertence, mas isso mal lhe importa, amiga de refazer os novelos
das avós ceguinhas do muito chorar.
Contrariamente à Joaninha,
todavia, embora esta também tivesse tratado as tropas feridas, na casa da tal
janela de que se enamorou Garrett na viagem a Santarém, Marisa é uma jovem
valente, que não tendo olhos verdes, julgo, como tinha a menina pura do Garrett, leu
a Constituição e fixou os direitos do povo e daí ninguém a tira, promete
actuar, pois ficou por cima do PC em votos. E do Tino de Rans. Marcelo só terá,
pois, que se precaver. Aliás, ele parece disposto a bem trabalhar com o Governo
de Costa, que me pareceu satisfeito com a vitória de Marcelo, pois no seu
discurso de felicitações ao novo presidente, o PM Costa pronunciou que “só no
quadro democrático é que se encontram respostas para as necessidades”, vê-se
que já aprendeu que os não democráticos e apenas demagogos com que formou governo
são ossos bem duros de roer e Marcelo parece ser um elemento conciliador.
Quem não acredita em milagres
é Vasco Pulido Valente, qualquer que seja o presidente eleito. Mas pode ser que
Marisa lá chegue, doce que é, e deixando antever, pois não vai desistir, embora Tino de Rans também não, tal como a pulga saltitante "amestrada" pelo clown Chaplin nas suas Luzes da Ribalta, as nossas luzes..
Desgraças
15/01/2016 - 00:05
Dia e noite a televisão e
os jornais discutem a “ideologia” e o “posicionamento” dos candidatos presidenciais.
É uma conversa fátua que despreza a realidade e obscurece a verdadeira situação
do país. O futuro Presidente não contará muito na política do país. Se for uma
das nove personagens da esquerda, não terá outro remédio senão seguir e apoiar
o governo de Costa. Se for Marcelo, também não. Nenhum Presidente pode correr o
risco de dissolver a Assembleia da República, sem a certeza de que o eleitorado
lhe devolverá uma nova maioria. Marcelo não promete ajudar o inominável Costa
porque gosta especialmente da criatura, mas porque se o mandasse embora ele
voltaria uns meses depois mais sólido e mais forte; e Belém perderia toda a
espécie de autoridade no regime e no país.
Marcelo precisa portanto para sobreviver de se dar bem
com Costa. A direita, como de costume, não percebeu isto. Tirando Paulo Portas,
que não só saiu da direcção do CDS, mas sibilinamente explicou aos restos da
coligação a razão fundamental que o movia. Disse ele que para recuperar o poder
a direita precisava de uma maioria absoluta, repito, absoluta. As manobras de
Costa, que ofereceram de repente ao PC e ao Bloco meios de acção e de
influência, dividiram Portugal ao meio; e numa época de crise, com a memória
recente de Passos Coelho, a esquerda ganharia qualquer eleição contra o regresso
da “austeridade”. Resta assim à direita esperar que o arranjo de Costa se
dissolva por si próprio e, se conseguir, enquanto espera fazer uma tentativa
para se reorganizar mental e materialmente.
De qualquer maneira, as coisas não serão fáceis, nem
Marcelo estará em posição de ajudar. Qualquer gesto de Marcelo a favor do CDS e
do PSD passaria inevitavelmente por uma intolerável provocação ao governo de
Costa e dos seus sócios. E, por outro lado, a ambiguidade interna da direita,
agora dividida e desorientada, e o desprestígio geral dos partidos tradicionais
não prometem nada de bom. As queixas dos jornais da facção, com títulos
berrantes, não transmitem uma sensação de força, muito pelo contrário,
transmitem uma sensação de impotência. As “presidenciais” têm escondido o
estado lamentável da direita, sob a capa da popularidade de Marcelo, mas quem
olhar bem verá o apodrecimento e o desespero de metade de Portugal,
temporariamente preso num beco sem saída.
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