«Seis notas sobre as eleições»,
as notas
que João Miguel Tavares estabeleceu para o nosso “Bailinho” de Portugal inteiro.
Notas pessoais de apreço, dum modo geral, finalizando com uma de desprezo
relativamente à saliência alcançada por Tino de Rans nessa eleição, desprezo
pela “brincadeira” e total ausência de seriedade e civismo que constituiu não só a admissão de um tal candidato, como
os votos que mereceu, que o encorajarão sem dúvida a outras proezas futuras de
igual calibre. Quando se exigem competências nas diversas profissões e até se
submetem os profissionais a exames de aferição, parece pura estultícia e
desvergonha tal brincadeira infamante para a pátria, mesmo que o não seja para
a nação, que carece de civismo, dada a percentagem de abstenções a um acto
eleitoral pelo qual tanto se bradou. É certo que somos um povo com propensão
para a anedota, e nos resultados de Tino de Rans eu só posso ver, ou a
parlapatice do povo ignorante e amistoso com o seu patrício, ou o desprezo – e esse
bem mais desprezível que o primeiro – pela noção de pátria, votando javardamente
em Tino.
Por isso, às notas do
comentário de João Miguel Tavares, eu acrescento, como meio de evasão pela
beleza simples e melodia, as do “Bailinho da Madeira”, de Max, que a Internet
me deixou escutar nas vozes de Amália, Linda de Susa e outras versões, lembrando
quem somos, afáveis e coloridos como as saias das dançarinas do tal Bailinho.
Seis
notas sobre as eleições
1. Marcelo Rebelo de Sousa andou a fazer de morto
durante meses e conseguiu ser eleito sem nunca dizer uma palavra de direita.
Está de parabéns. As sondagens finais ajudaram: com os números em queda e a
possibilidade de uma segunda volta no horizonte, os votantes de PSD e CDS lá se
deram ao trabalho de sair de casa, temendo que o fígado de Marcelo não
aguentasse mais três semanas a frequentar tascas.
2. Vera Jardim considerou que a candidatura de Maria
de Belém foi prejudicada por uma “vaga de populismo demagógico”. Na verdade,
foi prejudicada por uma vaga de incompetência antológica, para grande
felicidade de António Costa, que se está a especializar em grandes derrotas
extremamente saborosas. Maria de Belém vingou-se decidindo dar em directo, e em
primeira mão (20h41), a notícia da eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
3. Sampaio da Nóvoa não chegou lá mas é um dos
vencedores da noite. Apresentou a campanha mais profissional, esteve bem nos
debates, cortou no açúcar e nas metáforas, e obteve um resultado ao nível de
Manuel Alegre em 2006. Tal como Manuel Alegre, não lhe vai servir para nada.
4. O Bloco de Esquerda descobriu uma Santíssima
Trindade Feminina (Catarina, Mariana e Marisa) à qual os portugueses estão a
dedicar assinalável devoção. O resultado de Marisa Matias é, de longe, o melhor
resultado de sempre do Bloco em presidenciais, vários pontos acima de São
Francisco Louçã em 2006.
5. Edgar Silva está em luta cerrada com Maria de Belém
pelo galardão de Maior Derrotado da Noite. Levar uma dobradinha de Bloco de
Esquerda e acabar a competir taco a taco com Tino de Rans é uma humilhação que não
será facilmente esquecida na Soeiro Pereira Gomes.
6. Tino de Rans venceu o campeonato dos pequeninos. O
problema é que não era só o campeonato dos pequeninos – era o campeonato da
sociedade civil e dos candidatos sem suporte dos partidos. Quando a grande
figura a emergir da sociedade civil é Tino de Rans, percebemos porque é que os
partidos portugueses podem continuar a dormir em paz.
O
bailinho da Madeira
Eu venho de lá tão longe
Eu venho de lá tão longe
Venho sempre à beira mar
Venho sempre à beira mar
Trago aqui estas codinhas
Trago aqui estas codinhas
Pr'á manhã o seu jantar
Pr'á manhã o seu jantar
Deixem passar esta linda brincadeira
Qu'a gente vamos bailar
Pr'á gentinha da Madeira
Deixem passar esta linda brincadeira
Qu'a gente vamos bailar
Pr'á gentinha da Madeira
A Madeira é um jardim
A Madeira é um jardim
No mundo não há igual
No mundo não há igual
Seu encanto não tem fim
Seu encanto não tem fim
É filha de Portugal
É filha de Portugal
Deixem passar esta nossa brincadeira
Qu'a gente vamos bailar
Pr'á gentinha da Madeira
Deixem passar esta linda brincadeira
Qu'a gente vamos bailar
O bailinho da Madeira.
E continuemos, deste modo, com os nossos jantares de codinhas…
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