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A reestruturação da dívida foi feita pelo Costa e Centeno
COSTA REESTRUTUROU A DÍVIDA E NINGUÉM VIU
João Vasco de Almeida | jornal Tornado | 12.1.2016
Nesta segunda feira, 11, às seis da tarde, enquanto o
planeta se curvava sobre Bowie, António Costa e Centeno reestruturavam a
dívida portuguesa. Ninguém viu.
Ninguém, vírgula. André Tanque Jesus, um jovem jornalista
do Jornal de Negócios, escreveu a notícia (*), mas deixou de lado este
gigantesco pormenor.
O que aconteceu foi simples: o Estado disse ao FMI que em
vez de pagar 10 mil milhões este ano, só paga um terço. Para o ano, em vez de
6,9 mil milhões, o credor só leva 2,5. E em 2018 e 2019, anos em que não havia
pagamentos a fazer, lá se dará o resto que falta a Nova Iorque.
Passou de mansinho esta mega operação de milhares de
milhões. Numa penada, Centeno atirou para os anos em que não se sabe se o
governo ainda será do PS o pagamento gordo, ficando com a módica folga de
11.1 mil milhões de euros, que pode agora gerir com lucro para o Orçamento de
Estado. Numa penada, enquanto o mundo cantava Lazarus, Costa e Centeno
fizeram o seu Changes, entre os pingos do luto e da maçadora campanha
presidencial.
Não se discutiu nada em público, não houve terramotos nos
mercados, não se iniciou um debate onde Passos e Maria Luís teriam a tentação
de gritos lancinantes. Ninguém apontou o dedo nem o BE ou o PCP vieram a
cantar vitórias. Garcia Pereira não se manifestou contra Arnaldo de Matos nem
este escreveu no Luta Popular que o culpado era aquele.
Resumindo e concluindo: se não se souber muito, o mundo
corre e é da política o que é da política. Se é bom, isso cabe aos analistas
de economia e finanças. Andam aí muitos. Que expliquem se puderem...
OBS: Porém, há uma coisa que não precisa de explicação
porque é de fácil constatação: este governo não é de garotos canalhas e
impreparados; este governo faz prova da boa gestão dos recursos financeiros
disponíveis; este governo não lambe as nádegas a
Merkel nem a Schäuble nem lhes deve satisfações; este governo não
faz propaganda nem alarde do que tem de ser feito o que só está à altura de
quem é competente e coloca a política a dirigir a economia, e não o
contrário; e, por último, este governo não inventa "almofadas" e
outras sabujices da corja do anterior (des)governo.
Ainda me lembro dos espasmos dos profissionais do
jornalixo que houve por aí na imprensa de sarjeta e mais os comentadeiros e
paineleiros do costume nas TVs, quando Sócrates disse em Paris em Dezembro de
2011 que «Pagar a dívida é ideia de criança. As dívidas do Estado são por
definição eternas. As dívidas gerem-se» (1). Não houve quem dessas bestas
ignorantes não tivesse rido de Sócrates por ter dito que as dívidas eram para
ser geridas e não para serem pagas na totalidade pois elas serão sempre pagas
com a emissão de nova dívida.
Todavia, em Janeiro de 2014 e numa entrevista à Revista do
Expresso, à pergunta feita a Horta Osório sobre se «Portugal vai conseguir
pagar a dívida?», a resposta do banqueiro presidente do Lloyds Bank (grande
actuante no mercado) provocou um silêncio tumular aos que comentaram e riram
antes e ao mesmo tempo enormes gargalhadas - eu incluído - sobre aqueles que
tinham rido de Sócrates. E o que disse Horta Osório? Simplesmente a
mesmíssima coisa por outras palavras:
«O importante não é pagar a dívida, mas que a dívida se
mantenha dentro de rácios razoáveis em relação à riqueza criada (PIB).
Enquanto os particulares devem pagar as dívidas ao longo do seu ciclo de
vida, as empresas e os Estados, que não têm um ciclo de vida, não precisam de
o fazer. Têm é de pagar o serviço de dívida [juros]» (2)
(1)
http://expresso.sapo.pt/…/pagar-a-divida-e-ideia-de-crianca…
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