Parece que foi Tales de Mileto
– Leio na Internet –
Que viveu nos séculos seis
e sete
(Antes de Cristo),
- Mais logicamente sete e
seis
Se andarmos para cá e não
para lá,
Para o caos dos tempos -
Que caiu ao poço, distraidamente.
Enquanto procurava nos
céus
Uma qualquer estrela
Da sua mira.
Por seu lado La Fontaine,
De dez séculos posterior,
Desprezava a astrologia
Que achava parlapatice
A qual pretendia transformar,
Com limitada consciência,
Coisas que só a Deus
deviam pertencer
Na sua omnisciência.
Eis a fábula de La
Fontaine sobre o poço
Onde caiu Tales de Mileto
Buscando a sua Estrela
Ou o seu Teorema:
«O Astrólogo que
se deixa cair num poço»
|
«Um dia um Astrólogo no
fundo dum poço se deixou cair.
Todos disseram: Pobre tolo,
Quando apenas podes ver
À distância dos teus
pés,
Por cima da tua
cabeça pensas ler?
Sem irmos mais adiante,
esta aventura
Pode servir de lição à
maior parte dos homens
De maior ou menor
envergadura.
Entre todos os muitos que na terra somos,
Poucos haverá
Que não gostem de ouvir
dizer
Que no Livro do Destino
os mortais poderão ler.
Mas esse Livro que
Homero e os seus cantaram
O que é, senão o acaso, para a Antiguidade
O que é, senão o acaso, para a Antiguidade
E para nós a
Providência?
Ora do acaso não existe uma ciência :
Ora do acaso não existe uma ciência :
Se houvesse, seria
tolice
Chamar-lhe acaso, ou
fortuna ou sorte,
Tudo coisas muito
incertas.
Quanto às vontades
soberanas
D’Aquele que tudo faz e
nada faz sem propósito,
Quem as conhece a não
ser Ele Mesmo?
Como o Seu espírito
reconhecer?
Terá Ele impresso na fronte das estrelas
O que a noite dos
tempos encerra nos seus véus?
Com que utilidade? Para
o espírito exercitar
Daqueles que sobre a
esfera e o globo foram escrever?
Para males inevitáveis
nos fazer evitar?
Para nos tornar, nos
bens, incapazes de prazer?
E provocando desgosto
por estes bens previstos
Convertê-los em males
antes de os ver surgir?
É um erro, ou antes, um
crime supô-lo.
O firmamento move-se; os
astros fazem o seu curso,
O sol brilha todos os
dias,
Todos os dias a
claridade sucede à sombra escura,
Sem que possamos algo
mais inferir
Do que a necessidade de
brilhar e iluminar,
Trazer as estações, as
sementes amadurecer,
Lançar sobre os corpos
a sua influência de ternura.
De resto, em que é que ao
destino pode corresponder
O percurso sempre igual
que o universo faz mover?
Charlatães, fazedores
de horóscopos,
Deixai de ler os
destinos dos príncipes da Europa;
Levai convosco, duma só
vez, os videntes.
Vós não mereceis mais
fé do que essas gentes.
Estou-me a exceder;
voltemos à história
Desse Astrólogo que no
poço foi forçado a beber.
Além da vaidade da sua
arte presunçosa,
É a imagem daqueles que
se espantam de quimeras
Quando são eles que estão
em perigo deveras
Não só para si como
para os seus negócios
E até para os seus
ócios.»
Por aqui se vê quanto La
Fontaine, sendo um homem antigo,
Tem tanto de moderno e
mesmo de visionário,
Pois, se fosse hoje que
vivesse, concordaria
Quanto é fácil cair nos
poços, sobretudo
Nos da nossa calçada, onde
ainda outro dia
A D. Graça caiu, minha
vizinha,
Ao desviar-se dum sujeito
Que ia no mesmo passeio
estreito,
- E não de qualquer
estrela que no alto procurasse -
Pois temos sempre que nos
precaver,
Cautelosamente,
Olhando para baixo para
não tropeçar,
O que ela se esqueceu de
fazer.
Até acho que hoje em dia
Com a descoberta das
galáxias
Que umas das outras se vão
afastando
E o universo dilatando,
Assustadoramente,
Até caírem no tal buraco
negro,
É melhor não pensarmos nas
estrelas
Nem sequer nos poços,
Mas antes nos buracos
Quer os dos passeios, quer
os vários
De que falam os nossos
Noticiários.
No fundo - não de nenhum
poço, todavia -
O que eu desejei mesmo,
Foi iniciar este ano de
2016 em alegria,
Lembrando buracos e
lembrando estrelas
E homenageando La Fontaine
Que tão bem soube contar
Coisas do seu presente e
do passado
Que o seu futuro também revelaria.
Na nossa realidade, de
verdade,
Como tudo isso é actual -
Buracos, estrelas, quedas…
Tal e qual.
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