Estava ainda a remoer na questão posta pela nossa
amiga, a propósito da “dona disto tudo” segundo ela, a filha do Eduardo
dos Santos sobre cujo nome tivemos as três uma branca até que a minha irmã se
lembrou do nome “Isabel”, nome que ela achou até bonito e pertença também de
uma nossa prima de que perdemos o rasto, que era a mais velha e a mais bonita das
primas, filha do mais velho e bonito irmão da nossa mãe, o tio Carlos, que fez
carreira brilhante em Moçambique, mas morreu em 44, pouco antes da nossa
partida para lá, para junto do nosso pai. Lembro-me bem da dor da minha mãe por
essa altura, agarrada à prima de Aveiro, que o amara em jovem, as duas prostradas
no chão da sala, onde caíram abraçadas. Tendo a nossa mãe ido esperá-la à
estação, em grande tristeza emudecida, lenço preto na cabeça, coisa inabitual, só
aclarou a notícia quando chegaram à nossa casa, por notícia recebida de África,
que fez a minha mãe chamar a prima, que chegou nesse dia, de Aveiro, para lhe
suavizar o choque da aflição comum, no abraço fraterno, escondido do mundo. Uma
grande senhora, a nossa mãe, são gestos destes e outros que perduram na minha
saudade para sempre. As conversas são como as cerejas, e os pensamentos mais
ainda, mas estava eu a acabar a frase da nossa amiga - Como não rebentam com
tanto dinheiro? – a propósito da, segundo ela, “dona disto tudo”,
com pormenores explícitos, quando o meu
ouvido foi seguidamente alertado para mais um diálogo redutor, muito cheio de
risadas da minha irmã com ela, que logo transcrevi noutro guardanapo, que são
coisa relativamente em conta que a minha irmã paga com a gorjeta opípara:
-É pena o mundo estar coiso- dizia a nossa amiga.
- Sempre esteve coiso – respondeu a minha irmã.
- Mas agora está mais coiso. Temos o
mosquito…
A minha irmã opinou com o paludismo do mosquito
anterior que nos fazia tomar quinino e com a malária, mais grave ainda, como prova
de que sempre no mundo houve catástrofes e eu não quis deixar de referir a
praga dos gafanhotos lá dos tempos do Moisés, e a peste bubónica e outras epidemias
com que a Terra se vai defendendo do excesso de fertilidade humana e animal, em,
por vezes autênticas hecatombes, sem contar as do fabrico humano. Mas esta do
Zika e o seu vírus é tão pavorosa que todas nos arrepiámos com a retracção do
cérebro dos bebés, abortos sem culpa.
Entretanto,
a minha irmã voltou a falar nos sumos que o seu neto mais velho lhe leva todas
as noites, feitos numa máquina slow juicer, cuja propaganda extraio da net:
«Slow
Juicer / Extractor de Sumos »
«A
nova forma de obter sumos, de frutos, raízes, vegetais e folhas, que vem
revolucionar a alimentação do novo século. O slow juicing é um movimento que
permite a extração do sumo dos alimentos de forma perfeita, sem aquecimento e
consequente destruição dos nutrientes. O resultado é um sumo homogéneo, com
muito sabor e extremamente ...»
-Aquilo
é uma limpeza, diz a minha irmã, cujas suas últimas análises de sangue revelaram
tudo perfeito, em questão de tensão, hemoglobina, etc, etc. Sumos à base de
espinafres, beterraba, agrião, erva de trigo (relva), rúcula, aipo, sumo de
laranja, de maçã…
Uma
mistela, que me fez lembrar, por espírito de oposição a estas modas vegetarianas
destruidoras dos prazeres gustativos, o palmier coberto de doce de ovos e
açúcar de calda que pesquei ontem no café, de comer e chorar por mais.
Mas
deixo aqui a receita do André, que nada come com glúten, muito atento ao seu
físico…
Cá
por mim, para usar do pleonasmo, entendo que a comida serve para alimentarmos
corpo e alma, sem excessos mas também sem exageros de precauções ou picuinhas
de pormenor e modernidade, sabendo que tanta gente há a morrer de fome por esse mundo fora…
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