sábado, 30 de abril de 2016

Para um trabalho em cartolina




Para melhor assentar ideias sobre o que as Ciências Naturais do 7º ano me têm dado, e porque se trata de mais um assunto relevante nesta senda de destruição em que nos digladiamos sem respeito pelo planeta azul onde quis o destino que assentássemos arraiais, ao fim de muitos milhões de anos, resolvi reunir as anotações seguintes, que no Word ficaram muito mais vistosas, com a série de imagens fornecidas pela internet e que o meu filho Luís copiou para mim. É uma súmula de dados, quase lugares comuns, mas que me aprouve reunir, por respeito por esta «bola de lama Que pelo espaço vai, leve como a andorinha, A Terra! “, segundo António Nobre, e que Álvaro de Campos, na sua angustiada consciência de finitude resume com cepticismo:

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

E todavia…  É necessário salvar a Terra. É necessário respeitar a ÁGUA.


A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA
I
Características Gerais da Água

1- A Terra, um planeta azul.

2-- Um princípio: Sem água, não existe vida na Terra.

3- A água ocupa mais de 2/3 (= 67%) da superfície da Terra.

4- A água salgada (dos mares, dos oceanos) ocupa 97,4%; a água doce (rios, lagos, reservatórios subterrâneos que originam as fontes) ocupa apenas 2,6%.

5- O corpo dos seres vivos contém mais de 70% de água.

6- Substâncias que compõem a água pura: uma molécula de oxigénio; 2 moléculas de hidrogénio (H2O).

6- Densidade da água: É dada pela fórmula: massa sobre o volume: m/v.

Curiosidade: Ao contrário das outras substâncias, a densidade da água é maior no estado líquido do que no estado sólido. Por isso o gelo flutua na água. O volume da água aumenta ao solidificar, o que significa que a sua densidade diminui. Por isso, os gelos polares formam uma camada isoladora sobre as águas mais profundas, impedindo-as de gelar, o que permite a vida nos mares, sob as camadas de gelo:

7- Sob o efeito da temperatura:
            7.1- Ponto de fusão e solidificação da água: Celsius.
            7.2- Ponto de ebulição da água: 100º Celsius.

Nota:
            a) Durante o tempo de fusão, à pressão normal, a temperatura de 0º C mantém-se constante.
            b) Durante o tempo de ebulição, à pressão normal, a temperatura de 100º C mantém-se constante:
            c) O ponto de fusão da água salgada é inferior a 0º C e o seu ponto de ebulição superior a 100º C.

8- A água é um importante meio de comunicação, desde sempre, com os meios de transporte próprios.

9- A água é fundamental nas diversas actividades humanas:
                        - Domésticas
- Agrícolas
- Industriais
- Desportivas
II
O CICLO DA ÁGUA
1- A água encontra-se na Terra nos estados sólido, líquido e gasoso.

2- MUDANÇAS DE ESTADO:
Por aquecimento:
 SÓLIDO   a  LíQUIDO:   Fusão (liquefação)  
LíQUIDO  a GASOSO:    Vaporização (Evaporação, no caso da água)
SÓLIDO a GASOSO:        Sublimação                                                                                     
                                              
Por arrefecimento:          
GASOSO  a  LÍQUIDO:     Condensação    
LÍQUIDO A SÓLIDO:        Solidificação  (CONGELAÇÃO, no caso da água)  
GASOSO A SÓLIDO:         Sublimação

3- O ciclo da água na Terra é permanente:
            - Evaporação lenta ou mais rápida (segundo o grau de aquecimento) das águas dos oceanos, rios, lagos, da transpiração dos seres vivos, formando as nuvens.
            2º-  Com o arrefecimento, o vapor de água das nuvens transforma-se em chuva (estado líquido), ou em estado sólido: neve (por arrefecimento lento), granizo, saraiva ( por arrefecimento brusco).
            3º - A precipitação (sólida ou líquida) infiltra-se na terra, regando-a ou no subsolo, através das fendas da crosta terrestre, formando reservatórios de água subterrânea, que nasce em fontes; ou cai sobre os mares, rios, lagos, repondo o equilíbrio da natureza.

E o ciclo repete-se: evaporação, condensação, precipitação….

III
Gestão da água
1- Causas da crescente escassez da água:
            - Aumento da população mundial.
            - Poluição e desperdício da água.

2- Medidas a tomar para a preservação da água:
-Diminuição da poluição das águas.
            - Aquisição de hábitos de poupança da água.
            - Tratamento das águas residuais: domésticas; agrícolas; industriais.

IV
CARTA EUROPEIA DA ÁGUA

- Do Conselho Europeu, assinada em Estrasburgo, em 6 de Maio de 1968.
- Conjunto de 12 princípios sobre a gestão da água na Terra.

1º Princípio: «Não há vida sem água. A água é um bem precioso, indispensável a todas as actividades humanas.»
10º Princípio: «A água é um património comum, cujo valor deve ser reconhecido por todos. Cada um tem o dever de a economizar e de a utilizar com cuidado.»
12º Princípio: «A água não tem fronteiras. É um recurso comum que necessita de uma cooperação internacional.»

Uma revista valiosa



Retomo a E de 16 de Abril, tantos são os textos de interesse que apresenta, desde esse da alucinante descoberta de planetas como a Terra e estrelas como o Sol que a “nova geração de telescópios” possibilita, e a conclusão de que vivem entre nós microrganismos que nos podem fornecer pistas sobre a vida extraterrestre e tudo relativizam em termos de importância. Felizmente que o sentido de humor não nos falta e deliciamo-nos com os “socos” de Clara Ferreira Alves e do Comendador Marques Correia a respeito das bofetadas de João Soares para logo, sensatamente, meditarmos e nos assustarmos com as verdades de Ana Cristina Leonardo sobre a mesma questão em «O MUNDO VIRTUAL E O OUTRO» com em epígrafe «Isto anda tudo ligado», cujo final transcrevo:
 «A violência física repugna-nos, apesar de a consumirmos em doses industriais, e em jejum se for preciso. Os odiosos castigos corporais às crianças foram devidamente proibidos, embora não saibamos que nome dar ao crescente e trágico consumo de metilfenidato pelos infantes.  Os direitos das mulheres nunca terão conhecido melhores dias (descontado talvez o tempo das Amazonas iranianas), mas há quem os invoque para reclamar para si o uso do véu integral na via pública. A liberdade de expressão diz-se sagrada, mas a Turquia acaba de pedir à Alemanha que processe um humorista alemão, por este ter insultado “Erdogan” num canal de televisão germânico… e a Alemanha vai pensar (Lenny Bruce, se fosse hoje voltavas a ter problemas) Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2020/30, a depressão será a doença mais difundida na Terra. Até 2020 os robôs farão desaparecer 5,1 milhões de postos de trabalho. No meio disto, que está tudo ligado, houve um ministro que se sentiu alvo de ataques ad hominem e ripostou com bofetadas virtuais. Caiu o Carmo e a Trindade… e o ministro.»
Felizmente que, entre pratos deliciosos e vinhos regeneradores, a E também nos redime dos murros com a magnífica entrevista de Ricardo Marques a ROGER CROWLEY - «As Antigas Civilizações estão a erguer-se» - «O historiador inglês escreve sobre um pequeno e pobre país que atravessa meio planeta à procura de riqueza e, ao fazê-lo, muda a história do mundo».
Transcrevo algumas frases que nos podem fazer subir o nível da auto-estima, em baixa sucedânea  ao borburinho das bofetadas do nosso João:
…«O que os portugueses fizeram  foi acabar com o isolamento da Europa. Colombo descobriu terras que eram, entre aspas, desconhecidas. Mas os portugueses encontraram um mundo antigo, muito culto. A Europa estava isolada do resto do mundo por uma barreira islâmica, o Império Otomano.
… «Quando olhamos cinco séculos para trás, o que mais me impressiona é que foi a viagem de Vasco da Gama a dar início ao domínio europeu do mundo. Nesses cinco séculos, toda a gente seguiu os modelos do Ocidente. Mas agora creio que chegámos a um ponto de viragem. As antigas civilizações estão a reerguer-se, e tudo isso está apenas no início. Os chineses dizem que a Europa é um museu. Mas ainda não sentimos isso. … «Repare. Os chineses estão a abrir uma universidade nova por semana» … «Era um império poderoso … todos os barcos de Vasco da Gama cabiam num junco japonês – mas não queria nada. Queriam mostrar que não precisavam de nada. Os portugueses chegam com um objectivo determinado, sabiam o que queriam e levaram os canhões de bronze. É o início do domínio europeu. Um pequeno país que controla uma parte do mundo sofisticada e velha. Como é que o fazem? A concorrência entre os países europeus é muito importante. Os portugueses partem porque se sentem ameaçados por Castela e estão excluídos dos negócios no centro da Europa. Não têm nada a perder É algo que admiro nos portugueses: estavam prontos para ir a qualquer lado e não voltar.» … Há imenso material digitalizado na Torre do Tombo e acessível online…»
«Nada foi descoberto. Aquelas pessoas estavam ali há mais de três mil anos. É uma visão eurocêntrica do mundo, que está a começar a acabar. Somos uma minúscula parte do mundo. Podemos criticar Portugal pelo que fez de errado, como as rotas de escravos no Atlântico e a disseminação de doenças, mas é legítimo sentirem-se orgulhosos do risco, da iniciativa, da inteligência. Como é que se domina um oceano como o Índico em dez anos? Há ali uma dimensão medieval, mas também há muito de conhecimento, de observação científica.»
Muitas outras notícias e informações são fornecidas pela E de 16/4, incluindo a entrevista a uma artista (escultora) britânica – Penélope Curtis – que está em Portugal a dirigir o Museu Gulbenkian nas suas colecções de Arte, entrevista reveladora de uma bonita mulher inteligente. E entre outras referências a livros e a filmes, retiro a informação sobre o «OBRA COMPLETA DE ALBERTO CAEIRO», com o excelente comentário de Luís M. Faria sobre a sofisticação em volta de um pretenso iletrado “pastor de rebanhos”, numa falsa biografia, em que os rebanhos são “os meus pensamentos”, o que retira a modéstia do título e da informação académica. Daí que, como comprovação da intelectualidade na simplicidade, transcreva o poema XXVIII de «O Guardador de Rebanhos» (In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), como homenagem a um heterónimo, parte de um todo ortónimo de uma dimensão tal que não nos faz desejar mudar de planeta, no deslumbramento por este nosso, que tais gentes mostrou ao mundo. Como outros mais povos, é claro. Mas este é nosso. Assim como o Gama, e também a “pequena casa lusitana” que “De África tem magníficos assentos/ É na Ásia mais que todas soberana/ Na quarta parte nova os campos ara, / E se mais mundo houvera lá chegara” (Lus., VII, 14).

O poema XXVIII de Alberto Caeiro:
  Quem me dera que eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena... 1914

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Eros e Psique, sem mito




Dentre os excelentes artigos da «E» de 16 de Abril, retiro “Brontë no Funchal”, de Pedro Mexia, como registo literário de acontecimento recente, passado no Funchal. Não se refere o título a Charlotte ou Mary mas à Emily do “Monte dos Vendavais” que, lido na adolescência, constituiu sempre para mim estranha e complexa obra, que facilmente despromovi a favor de uma “Jane Eyre” muito mais suave e concordante com as aspirações de alma juvenis que pediam finais felizes, apesar de tantos obstáculos criados à volta de uma personagem feminina de carácter forte e determinado, mau grado a sua frágil aparência física.
Trata o escrito de Pedro Mexia, pois, do caso recente de uma inglesa de idade – Susan Brown – numa quase trágica história de desespero amoroso – ou de “surto psicótico” – em viagem de cruzeiro à Madeira com o marido – que uma zanga com aquele quase ia vitimando, deixando a dúvida sobre o seu estado mental, ao lançar-se a nadar atrás do barco, tendo perdido o rasto do marido no aeroporto, finalmente salva por uns pescadores, e talvez pelos médicos que a acompanharam.
Da elegante argumentação de Pedro Mexia, a que não falta o sentido de humor, transcrevo a parte final que alia referências literárias e conceitos psicológicos a opiniões mais realistas dos exigentes do rigor técnico, além de  concluir em tirada reveladora de extrema sensibilidade analítica:

«O “surto psicótico”, por seu lado, tanto pode ter sido causa como consequência: um desespero amoroso que fez perder a lucidez, ou um colapso mental que a levou a uma atitude tresloucada. Para ser camoniano, diria que “segundo o amor tiverdes”, tereis o entendimento deste episódio. Há pessoas para quem isto é uma extraordinária história amorosa, enquanto outras cépticas, preferem conhecer o boletim clínico. Todos nós, que vivemos histórias destas, menos públicas, menos psicóticas, observamos com interesse as reacções de empatia e de desconfiança. Projectamos em casos como os de Susan Brown a nossa temperatura emocional e a daqueles de quem gostamos, tão alta como a de um alucinado ou tão gélida como a dos mares à meia noite.
A história de Susan é muito evocativa porque quase tudo bate certo em termos romanescos, um casal no estrangeiro, uma ilha, a Madeira da imperatriz Sissi, um barco chamado “Marco Polo”, uma Ofélia afogada como a de John Everett Millais, o “Titanic”. Até a idade deles, pouco habitual nas histórias de amor mais celebradas, ou o aspecto dela, uma reformada frágil, contribuem para a estranheza e o fascínio. É verdade que tudo pode não ter passado de uma querela doméstica, de um caso mental, mas queremos imaginar Susan Brown como uma figura de um romance de Emily Brontë. Imaginá-la a dizer: “Mesmo que ele amasse com todas as forças do seu ser enfezado não conseguiria amar tanto em oitenta anos como eu num só dia.”

Das minhas evocações sobre os amantes na bela ilha da Madeira, retiro também o caso , talvez lendário, que Dom Francisco Manuel de Melo refere na sua «Epanáfora Amorosa» - a história de Machim e de Ana de Arfert, como primeiros habitantes da Madeira, (anteriores, pois, a Gonçalves Zarco), que uma tempestade desviou para lá, quando fugiam num barco com amigos, para França, para se unirem em profundo amor, contrariado pelos nobres parentes ingleses de Ana, e onde morreram, na fragilidade dos condicionalismos sofridos.
Mas, para responder ao “entendimento dos meus versos”, citado por Mexia, e porque o seu belo texto mo pede, concluo também com Camões, o maior aprofundador da dualidade desse sentimento de alma - o amor como pura ideia platónica - que o corpo, feito de “matéria simples” aspira concretizar na realidade dos sentidos, respondendo assim à perplexidade sobre essa definição de cariz platónico, que o sujeito poético naturalmente rejeita:

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.