Mais
um texto assustador, com que nos vamos ilustrando:
«Se
o Estado Islâmico for erradicado, outra coisa pior ocupará o seu lugar»
Público, 7/04/2016
Andrew Hosken, jornalista, correspondente da BBC,
escreveu o livro Império do Medo - No Interior do Estado Islâmico, editado em
Portugal pela Planeta. Explica as diferenças entre este jihadismo e a Al-Qaeda,
que tinha "um certo tipo de escrúpulos".
Jornalista Andrew Hosken escreveu o livro
"Império do Medo - no Interior do Estado Islâmico" Miguel Manso
O Estado Islâmico (EI)
é uma organização genocida, fruto de um “casamento no Inferno” entre
os radicais islamistas da Al-Qaeda e o partido Baath do Iraque, diz o
jornalista Andrew Hosken. Quanto mais territórios perderem, mais e piores
ataques terroristas lançarão no Ocidente. Se o líder for morto, emergirá outro
pior, e se forem derrotados renascerão como um cancro.
É estranho dizer isto, mas precisamente quando
começávamos a compreender a Al Qaeda, surge o Estado Islâmico. É já
possível, hoje, compreender o fenómeno?
O problema é que o EI não é uma organização conduzida
pela pura ideologia, como era a Al-Qaeda. Há a ideia do Califado, que é muito
forte, e está no Corão. Mas, além disso, o que vemos é essencialmente a
arrogância. Não há maior arrogância do que anunciar que se vai matar alguém, e
depois matar, sem nenhuma razão compreensível. Acharem que têm o direito de
tirar vidas.
Os
líderes da Al-Qaeda eram intelectuais. Sabiam explicar o que queriam.
Sim, eram capazes de atirar aviões contra edifícios,
matando milhares de civis, mas tinham limites, e um certo tipo de escrúpulos.
Por exemplo, ficaram zangados quando a chamada Al-Qaeda do Iraque, em 2004 e
2005, exibia gravações matando muçulmanos xiitas. A direcção da Al-Qaeda
escreveu-lhes dizendo que não deviam matar muçulmanos. Que tinham de parar,
porque estavam a enfurecer o mundo islâmico. Tomei conhecimento de várias
cartas que muçulmanos dirigiram à Al-Qaeda queixando-se dos abusos e do
extremismo do EI.
A
Al-Qaeda não era uma organização
genocida. O EI é. Se tiver oportunidade, matará todos os
xiitas. Só no Iraque, seriam 20 milhões de pessoas. Serão capazes de usar
qualquer tipo de arma. E o pesadelo é que já têm armas químicas. É certo que a
Al-Qada matou 3 mil pessoas em Nova Iorque, num só dia. Mas o EI já matou
dezenas de milhares, ou centenas de milhares, em 13 anos.
Mas qual é a ideologia do EI?
É
uma amálgama de islamismo com o patido Baath. É uma espécie de casamento feito
no Inferno, de dois movimentos totalitários, fascistas.
Os
generais e militares do Baath integraram as estruturas do EI apenas por
interesse, ou houve realmente uma mescla ideológica?
Sim,
o Baath é uma parte muito importante do EI.
Mas
o Baath era um partido nacionalista. Os ex-militantes já não querem saber da
nação iraquiana?
Não
querem saber, porque já não é o seu país. Está dominado pelos xiitas, e eles
foram humilhados e expulsos das instâncias do poder.
Mas
a sua ideologia era laica, arabista socialista. Como conciliam isso agora com o
islamismo radical?
Abu
Bakr al-Baghdadi disse: A Síria
não é para os sírios, o Iraque não é para os iraquianos. Essa frase é uma bela
e honesta síntese do seu pensamento. O que queria dizer era:
nós não queremos saber de nações, nem do movimento do Despertar dos sunitas no
Iraque, ou de os sunitas terem assento no Governo de Bagdad. Só queremos
saber do nosso califado. E quem se opuser é assassinado. Para os
generais baathistas, o objectivo é voltarem a ter poder. Pode ser um pouco
diferente, porque agora não podem ir beber uma cerveja livremente, embebedar-se
e abusar sexualmente de mulheres… quer dizer, isto, por acaso, até podem fazer.
Ainda mais. De resto, para eles, tudo é igual ao tempo de Saddam Hussein.
Podem mandar em tudo, matar, torturar, decapitar.
Fazem-no
em nome do EI, como dantes faziam em nome do Iraque?
Sim.
Mas não é assim tão diferente. Os media falam muito dos combatentes
estrangeiros, levam as pessoas a pensar que se trata de uma organização
transnacional. Mas não é. Há muitos estrangeiros, mas o EI é basicamente uma
organização iraquiana. É assim desde 2006, quando Omar Al-Bagdadi
declarou o Estado Islâmico do Iraque, e se auto-proclamou califa.
Eles
estão a organizar o território à semelhança do Iraque de Saddam Hussein?
Sim,
é o mesmo conceito. Baseado na violência, na tortura. É interessante verificar que quando o EI chega a um
novo território conquistado, primeiro vão os jihadistas, os combatentes, mas
logo a seguir chegam os agentes da polícia secreta, os juízes, e começam logo a
implementar os tribunais, a polícia, as prisões, os serviços de informações. Imediatamente,
isso faz logo parte da administração.
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