sexta-feira, 8 de abril de 2016

Diz-me com quem andas



Mais um texto assustador, com que nos vamos ilustrando:

«Se o Estado Islâmico for erradicado, outra coisa pior ocupará o seu lugar»
Público, 7/04/2016
Andrew Hosken, jornalista, correspondente da BBC, escreveu o livro Império do Medo - No Interior do Estado Islâmico, editado em Portugal pela Planeta. Explica as diferenças entre este jihadismo e a Al-Qaeda, que tinha "um certo tipo de escrúpulos".
Jornalista Andrew Hosken escreveu o livro "Império do Medo - no Interior do Estado Islâmico" Miguel Manso


O Estado Islâmico (EI) é uma organização genocida, fruto de um “casamento no Inferno” entre os radicais islamistas da Al-Qaeda e o partido Baath do Iraque, diz o jornalista Andrew Hosken. Quanto mais territórios perderem, mais e piores ataques terroristas lançarão no Ocidente. Se o líder for morto, emergirá outro pior, e se forem derrotados renascerão como um cancro.
É estranho dizer isto, mas precisamente quando começávamos a compreender a Al Qaeda, surge o Estado Islâmico. É já possível, hoje, compreender o fenómeno?
O problema é que o EI não é uma organização conduzida pela pura ideologia, como era a Al-Qaeda. Há a ideia do Califado, que é muito forte, e está no Corão. Mas, além disso, o que vemos é essencialmente a arrogância. Não há maior arrogância do que anunciar que se vai matar alguém, e depois matar, sem nenhuma razão compreensível. Acharem que têm o direito de tirar vidas.
Os líderes da Al-Qaeda eram intelectuais. Sabiam explicar o que queriam.
Sim, eram capazes de atirar aviões contra edifícios, matando milhares de civis, mas tinham limites, e um certo tipo de escrúpulos. Por exemplo, ficaram zangados quando a chamada Al-Qaeda do Iraque, em 2004 e 2005, exibia gravações matando muçulmanos xiitas. A direcção da Al-Qaeda escreveu-lhes dizendo que não deviam matar muçulmanos. Que tinham de parar, porque estavam a enfurecer o mundo islâmico. Tomei conhecimento de várias cartas que muçulmanos dirigiram à Al-Qaeda queixando-se dos abusos e do extremismo do EI.
A Al-Qaeda não era uma organização genocida. O EI é. Se tiver oportunidade, matará todos os xiitas. Só no Iraque, seriam 20 milhões de pessoas. Serão capazes de usar qualquer tipo de arma. E o pesadelo é que já têm armas químicas. É certo que a Al-Qada matou 3 mil pessoas em Nova Iorque, num só dia. Mas o EI já matou dezenas de milhares, ou centenas de milhares, em 13 anos.
Mas qual é a ideologia do EI?
É uma amálgama de islamismo com o patido Baath. É uma espécie de casamento feito no Inferno, de dois movimentos totalitários, fascistas.
Os generais e militares do Baath integraram as estruturas do EI apenas por interesse, ou houve realmente uma mescla ideológica?
Sim, o Baath é uma parte muito importante do EI.
Mas o Baath era um partido nacionalista. Os ex-militantes já não querem saber da nação iraquiana?
Não querem saber, porque já não é o seu país. Está dominado pelos xiitas, e eles foram humilhados e expulsos das instâncias do poder.
Mas a sua ideologia era laica, arabista socialista. Como conciliam isso agora com o islamismo radical?
Abu Bakr al-Baghdadi disse: A Síria não é para os sírios, o Iraque não é para os iraquianos. Essa frase é uma bela e honesta síntese do seu pensamento. O que queria dizer era: nós não queremos saber de nações, nem do movimento do Despertar dos sunitas no Iraque, ou de os sunitas terem assento no Governo de Bagdad. Só queremos saber do nosso califado. E quem se opuser é assassinado. Para os generais baathistas, o objectivo é voltarem a ter poder. Pode ser um pouco diferente, porque agora não podem ir beber uma cerveja livremente, embebedar-se e abusar sexualmente de mulheres… quer dizer, isto, por acaso, até podem fazer. Ainda mais. De resto, para eles, tudo é igual ao tempo de Saddam Hussein. Podem mandar em tudo, matar, torturar, decapitar.
Fazem-no em nome do EI, como dantes faziam em nome do Iraque?
Sim. Mas não é assim tão diferente. Os media falam muito dos combatentes estrangeiros, levam as pessoas a pensar que se trata de uma organização transnacional. Mas não é. Há muitos estrangeiros, mas o EI é basicamente uma organização iraquiana. É assim desde 2006, quando Omar Al-Bagdadi declarou o Estado Islâmico do Iraque, e se auto-proclamou califa.
Eles estão a organizar o território à semelhança do Iraque de Saddam Hussein?
Sim, é o mesmo conceito. Baseado na violência, na tortura. É interessante verificar que quando o EI chega a um novo território conquistado, primeiro vão os jihadistas, os combatentes, mas logo a seguir chegam os agentes da polícia secreta, os juízes, e começam logo a implementar os tribunais, a polícia, as prisões, os serviços de informações. Imediatamente, isso faz logo parte da administração.


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