Já tínhamos falado com indignação sobre as histórias
de um país com enorme percentagem de doenças do foro mental, na véspera escutáramos
um programa com neurologistas, psicólogos, e doentes dos nervos, vulgo,
depressões, e ouvimos histórias desses doentes encerrados na sua tristeza infinita
e nos seus medos, nos objectos de que se rodeiam, como companhia da sua solidão,
nas crianças que desde cedo são “sedadas” para concentrarem a sua atenção ou
para limitarem a sua excitação de meninos desatentos – hiperactivos se lhes
chama – a quem hoje, por vezes, se dá irresponsavelmente – eu diria mesmo criminosamente
- medicação substituta da educação. Um caso desses nos passa à beira, alguém
que não suporta frustrações, e cuja medicação psiquiátrica transformou num zombie
– mas apavorado e pedindo socorro – que se mexe devagar e treme com as pernas,
graças a uma injecção mensal e outras drogas que diariamente deve ingerir. O programa
mereceu a nossa discussão, eu achei que os hospitais psiquiátricos tinham
bastante responsabilidade no panorama grave de um país com tantos casos de
doenças mentais. Falei por mim, a quem uma pretensa depressão resultante de
muita pressão vivida a certa altura me pôs a tremer graças à medicação de
efeito antidepressivo. Mas abandonei as drogas, não podia suportar a minha
própria imagem de tremuras que me punham num farrapo de tristeza e velhice,
quando sentia a cabeça a trabalhar razoavelmente, como sempre fora, apesar das
falhas de memória. Larguei as drogas, agora vou envelhecendo normalmente, venci
o medo e o cansaço. Mas a nossa amiga, impressionada, como todas nós, com o programa
do Canal I da véspera, concluiu que não havia acordo entre psiquiatras e
psicólogos e convinha explorarem essa questão. «Não é caso para um estudo
sério? » – dizia ela. «Será que nos outros países a carga medicamentosa
para o cérebro ou os nervos desarranjados é assim tão explosiva como no
nosso país?” interrogo-me eu há muito, desde que me apercebo da realidade
que me envolve.
E a propósito do excelente desempenho e da excelente
caracterização dos actores do DDT – anteontem com especial relevo para Ana Bola,
no papel de Lady Betty, e Joaquim Monchique no de José Castelo Branco, falei da
peça “Romeu e Julieta” em termos entusiásticos, que vira no 2º canal, de
actores principais jovens e excelentes, especialmente a protagonista de Julieta.
De cortar a respiração, também pelo extraordinário do discurso shakespeariano,
de imagens e conceitos geniais.
Mas a minha Paula chegou entretanto,
alegre e optimista, e pouco depois ouço mais uma explosão da nossa amiga, toda
retorcida para a Paula, que generosamente mas com convicção se saíra da
seguinte forma - «Vocês não parecem nada ter essa idade». E a nossa
amiga retorcida, ainda eu estava a digerir a satisfação da presença da Paula:
«- Olha, valeu a pena ela vir, para ouvirmos esta». A minha irmã ria,
também feliz, e contou logo um caso de
alguém que lhe disse coisa semelhante comparando-a com outra pessoa mais nova e
mais acabada. Eu nada comentei, embora também já tivesse ouvido ditos
semelhantes, com que concordo quando me vejo num espelho a certa distância. E ainda por cima vejo mal.
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