quinta-feira, 27 de agosto de 2009

“E deixarem construir aquelas casaronas!”

Voltámos aos fósseis. Isto é, às nossas falésias mortas. A minha amiga tinha escutado a Helena Roseta na Sic.
-Só ouvi ontem aquela Roseta, ela é arquitecta, parece que faz parte de alguns serviços de conservação da natureza e diz que toda a costa algarvia está pejada, e que a natureza prega partidas. Devia haver uma lei que proibisse as vivendas riquíssimas nas arribas. Cada martelada está a abrir lá qualquer coisinha.
Eu ainda não me habituei bem às expressões da brusquidão da minha amiga. Maravilhei-me, na hipótese de descoberta de quaisquer cofres da pirataria antiga que pudessem ter aportado à costa. Mas também não se me dava que os cofres fossem mais recentes, da pirataria moderna, por causa da simplificação no câmbio.
Creio que esta minha suposição resulta da influência sherlockiana que está a passar na TV Memória, e que também o Diário de Notícias nos tem fornecido gratuitamente, para nossa informação em criminologia. Mas ela passou a minha hipótese em branco, indiferente a incompreensões descabidas na nossa gravidade panorâmica:
- Então há desleixo ou não há desleixo? Mentira! Não houve técnicos a ver falésias! O Governo diz que houve técnicos. Toda a gente sabe tudo. Não há ninguém que não saiba. Mas depois deixam cair. E não há ninguém a ir para a cadeia!
-Para quê?-
digo eu sempre conciliadora e solidária, na minha claustrofobia de nascença.
- Aquele desastre na linha do Douro! O que é aquilo senão desprezo pela conservação da natureza? Todos os engenheiros sabem. Tem que haver grande cuidado!
- Pois! Mas o dinheiro...
- Falta dinheiro? Mas então não fizessem essas estradas, por trás da linha das falésias! Até só a passagem dos camiões pode abrir fendas com a trepidação. Foram as câmaras e as rodoviárias que autorizaram. E vêm culpar o povo! Tem que ter cuidado o povo! E não apanhar combóios em escarpas, ou andar por estradas de perigo, ou abrigar-se à sombra de rochas inseguras. Senão sujeita-se. Mas quem fez as estradas fê-las para o povo. Ou não? Será que eles os das estradas vão de avioneta?
- Também se fala de um café aqui perto do Estoril, de risco, na falésia...
- O café em S. João, na Praia da Poça. Estiveram a filmar. Estive lá há poucos dias. Ninguém sabe desse perigo. Não tem medo quem lá vai. Agora usam-se redes metálicas para evitar que as pedras caiam sobre a gente incauta. Isto está perigoso!
- Mas está num belo sítio.
- Sim! Eu já não estou interessada em ir lá! Só pergunto quem é que autorizou o café a abrir, já há bons anos. Ainda bem que a TV veio mostrar. Há muitos pelo país fora. Não há é um bom trabalho. Isto dito pela Roseta, é porque é mesmo.
- Sim, ela parece séria no que diz.
- Está uma lei para sair, vamos a ver o que a lei prevê. Mas há direito? Com certeza continua tudo na mesma! E deixarem construir aquelas casaronas!...

Nenhum comentário: