segunda-feira, 31 de agosto de 2009

E assim vamos ardendo

São belas as palavras cantadas por Mireille Mathieu na canção que tanto se ouviu no mundo inteiro, creio que nos anos sessenta “Paris en colère”. Revelam orgulho nacional, amor pelo seu Paris, amor correspondido pelo mundo inteiro. Festejavam o alvorecer de uma nova época, uma época de liberdade readquirida após a guerra e o domínio alemão:
“Attention, ça va toujours loin / Quand Paris se met en colère / Quand Paris sonne le tocsin / Ça s’entend au bout de la Terre. / Et le monde tremble / Quand Paris est en danger / Et le monde chante / Quand Paris s’est libéré »
E isso é bem verdade, creio que o mundo inteiro sente desejo de cantar sabendo que a “Cidade das Luzes” vai continuar a iluminar o mundo inteiro. E quando ouvimos a mesma Mireille Mathieu cantar “La Marseillaise” com tanto ardor da sua voz vibrante, escutamo-la e ao grupo coral e musical – via Internet - com igual emoção e entusiasmo. Porque também La Marseillaise representou um apelo à vitória contra o dominador alemão, tornando-se, a breve trecho, o Hino Nacional Francês.
No nosso país, não podemos aspirar a cânticos de igual amplitude. Temos o da Grândola, de libertação, é certo, mas dos próprios irmãos de raça, não de jugo estrangeiro. Quando andávamos na escola, conhecíamos o Hino da Restauração – “Lusitanos é chegado o dia da Redenção...” que nos demarcavam do domínio de Espanha de sessenta anos. Também a Maria da Fonte - “a mulher lá do Minho que da foice fez espada” originou um hino popular de uma revolução popular contra o domínio ditatorial de Costa Cabral. Grândola, a “vila morena”, não deixa de estar na continuidade reivindicativa daquela, só que mais apurada na metáfora, e aparentemente substituindo um regime ditatorial por outro, o do povo “que mais ordena”, embora nas utópicas referências à fraternidade e à igualdade. Quanto ao Hino Nacional, também ele resultou inicialmente de um cântico de contestação contra o que se considerou forte roubo dos Ingleses de territórios portugueses ultramarinos. Daí a linguagem de orgulho nacional e apelo à luta e revitalização da consciência nacional, tornando-se, na República, o nosso Hino Nacional.
Tudo, pois, sem grande dimensão, produto interno dos nossos interesses particulares, que não deixam de ter a sua beleza. Aliás, como os hinos futebolísticos ou outros que se fabricam em causas específicas.
Não, não temos a pretensão de ombrear com as luzes das outras nações, nem nunca poderemos sequer atingir as do espaço europeu a que pertencemos.
Acabamos de ler um texto trazido pela Internet sobre o movimento “Novas Oportunidades” criada pelo Governo de Sócrates. Assinado pela Drª Marta Oliveira Santos, ele descobre a irracionalidade que presidiu à cedência de certificados escolares, do 9º ano, do 12º, em que as exigências formativas são perfeitamente anedóticas e irrelevantes, sem passar por nenhuma das competências do âmbito escolar por enquanto obrigatório. Vale a pena consultar o texto que tem por título “A ignorância certificada” e que mereceu o seguinte comentário da pessoa que mo enviou: “Pondo a fasquia muito baixa até a tartaruga salta!”
Mas temos os fogos a limpar as florestas. São um bom meio de libertação de encargos – encargos de limpeza, durante o resto do ano, na floresta calcinada, encargos de produtividade, já que as exportações baixaram, encargos de educação reduzidos a três meses para os que não tiveram oportunidade antes e que estão a recuperar do atraso...
Paris brûle-t-il?” Pois nós também, ao nosso jeito.

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