sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Entrevista com Judite de Sousa

Mais uma vez, ao ouvir Manuela Ferreira Leite, me deixei fascinar pela sua presença de contenção elegante, e pela sua voz de discurso não empolado em retórica favorecedora de esperança, como aquela em que temos vivido mergulhados, mas um discurso simples que alerta para o perigo, deixando antever soluções, não mirabolantes mas sensatas.
Em todo o caso, há muito quem a acuse de não ter um discurso político, habituados que estamos ao falazar estentóreo do nosso Primeiro Ministro, que ataca e promete, que promete e não cumpre, e volta a prometer e a mal cumprir e vai adiando o que promete, alguma coisa fazendo – alguma coisa havia de fazer – publicitando o que vai fazendo, em grande alarde, calando o que não fez, ocultando o que fez mal, exagerando o que realizou, na deferência geral do seu vasto círculo apoiante.
Manuela Ferreira Leite apenas afirma, singelamente, que não promete – em caso de vir a ser governo – nada que não seja exequível. Nem para conquistar votos promete mais do que isso. Tem um discurso modesto, sim, mas a mim parece-me forte e preciso, ao informar sobre o que não fará, ao expor sobre o que fará, certamente que no respeito pelos cidadãos da sua Pátria, e não no espezinhar dos seus direitos.
Não tem em mãos todos os cordelinhos da acção – não é governo – mas, sem empolamento, apresenta dados sobre realizações futuras plausíveis, sobre a forma de recuperar do défice – em função do desenvolvimento económico, com vista ao aumento de exportações – sobre a recusa em continuar políticas económicas suicidárias, quais as dos transportes megalómanos esbanjadores, em opção pelo apoio às pequenas e médias empresas, factores do desenvolvimento económico nacional.
Há muito que sentimos o terror de um futuro sem perspectiva para os que nos seguem na escala do tempo, no buraco cada vez mais fundo e negro de um país a cada hora mais endividado, num mundo que parece todo ele ruir sem sentido, com cada vez mais gente sem emprego, cada vez mais gente na opulência, cada vez mais gente na prevaricação e na fraude, cada vez mais cavado o fosso entre ricos e pobres...
Quando ouvimos Sócrates, sentimos – desde sempre – o calor da confiança, na convicção altissonante das suas realizações. Mas a pouco e pouco fomos duvidando. Porque, em vez de responder, ataca, em vez de citar, acusa. E quando, em via de eleições, acentua as suas realizações, é na base da megalomania, na presunção de uma grande obra feita. Mas a grande obra não correspondeu à promessa, porque, como diz Ferreira Leite, não foi assente num estudo prévio. Prometeu 150.000 postos de trabalho - podia ter prometido menos, podia ter prometido mais. Não disse como.
É a adivinha da meia: “Uma meia meia feita, outra meia por fazer, diga lá minha menina, quantas meias vêm a ser?” Sócrates também só fez meia meia e não se espera que acabe o par. Porque na meia meia gastou o novelo inteiro.
Não é o único culpado, sabemo-lo bem. Nós todos somos culpados. Somos chorões, pedinchões, trapalhões, não temos muitas vezes adequadas formações, muitos de nós somos burlões.
Por isso, não podemos esperar muito de Ferreira Leite. No seu círculo de apoiantes também haverá muitos da mesma igualha que nós, mas esperemos que, como ela, sensatos, honestos e determinados, também haja, além de competentes.

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