sábado, 8 de agosto de 2009

“Então a minha amiga naturista?”

Já falei numa amiga minha que, em vez de se sujeitar à ablação de um peito, por conselho urgente dos médicos que a radiografaram, decidiu, movida pelo horror do desconhecido e pela impossibilidade material de “adoecer”, por ter alguém doente totalmente dela dependente, e aconselhada por uma grande amiga sua que já passara por idêntico trauma, e se restabelecera sem a ablação, mas por meios homeopáticos, também a conselho de alguém amigo, decidiu, pois, seguir o conselho da amiga que a conduziu ao seu médico naturista.
Este prometeu-lhe a cura. Tratamento caro, demorado, cujo principal medicamento de reconstituição dos tecidos, reside na cartilagem de tubarão.
A verdade é que o nódulo do tumor diminuiu dois milímetros no último mês, segundo consta no relatório da última mamografia.
Aquando das primeiras, a médica que as fazia, aconselhava-a, gravemente, a reconsiderar, receosa pela minha amiga, não estivesse ela a lançar-se num despenhadeiro sem retorno. Tinha sempre uma justificação para as aparentes melhoras - ou porque os exames provinham de sítios diferentes do primeiro, ou porque de facto o tumor ainda lá estava, embora ligeiramente reduzido... Não, nunca deu esperança no tratamento naturista, nem quis ouvir disso falar.
O que dava ânimo à minha amiga era a sua amiga que passara pela mesma odisseia e estava curada após cinco anos, e lhe contava que com ela o médico que lhe aconselhara a operação urgente lhe dizia as mesmas coisas, sem querer saber do milagre ou das mezinhas da aparente recuperação sem faca nem quimioterapia.
Desta vez, a médica da minha amiga, verificando a diminuição de dois milímetros, não fez recomendações.
- Só me perguntou se eu me sentia bem. Aí, não disse mais nada.
E acrescentou abatida:
- Quem não tiver uma pessoa a dar muito ânimo, desiste, depois de falar com os médicos. O que me vale é a minha amiga, que já passou por isto tudo. Contou-me ela que, para o fim, o médico dela – o verdadeiro, o da receita da operação – quando ela lhe mostrava as mamografias gradualmente mais “limpas”, já não fazia comentários. Mas de todas as vezes que ela lhe aparecia, com os resultados dos seus exames, só lhe perguntava pelo seu bem-estar, muito bonacheironamente irónico: “Então a minha amiga naturista?”
"E esta, hein?! "
Será que não há hipótese neste país de os médicos de ambas as medicinas – oficial e alternativa – poderem trabalhar conjuntamente para benefício dos seus doentes, com idêntica comparticipação dos Serviços Sociais? Serão tão superiores os médicos dos estudos superiores que desdenhem em absoluto os das medicinas mais populares, sem curiosidade nem complacência, nem, afinal, grande perspicácia, e, menos ainda, humanidade?
Mas, houvesse colaboracionismo inteligente entre os vários participantes da Saúde e o Estado, será que a Nação não lucraria em termos financeiros, de solidariedade e de valor humano?

Um comentário:

Unknown disse...

Ser e não ser, eis a questão! Nesta República das Bananas,só há certezas, raramente dúvidas e todos têm algo para dizer. Vaidades irritadas e irritantes...