sábado, 1 de agosto de 2009

A haplologia na deficiência vocabular da nossa competitividade deficiente

Trata-se de um palavrão elegante, este da haplologia, de origem grega, vocábulo que também poderia ter sofrido o fenómeno fonético de síncope silábica (haplogia), por simplificação, que o seu significado traduz, e só tal não aconteceu por ser de origem erudita, pouco conhecido e menos usado.
Outros termos, mais gastos pelo uso, de duas sílabas contíguas semelhantes ou iguais, suprimiram a primeira das sílabas, exemplo do adjectivo saudoso, que, formado a partir de saudade, deveria dar em saudadoso, tais como bondadoso, maldadoso, piedadoso. Da mesma forma idololatria convergiu em idolatria, mineralologia em mineralogia, formicicida em formicida.
São fenómenos fonéticos provenientes do uso corrente, que justificam outros casos de elisões que todos praticamos: (“inda” por "ainda", “bora” por “embora” , etc.), obedecendo ao princípio muito humano da lei do menor esforço, que está na origem de tantos fenómenos de adulteração dos sons das palavras, propiciando a sua evolução, para só nos determos na prática da língua, desprezando outras práticas redutoras do esforço, que, com boa vontade, até podem conduzir à estagnação.
É este fenómeno de haplologia que justifica, certamente, a redução da “competitividade” a “competividade”, pronunciada por gente de formação superior, que nos bombardeia sem tréguas com a supressão de uma das sílabas -ti- indiferentes à maculação da língua, na sua ânsia, talvez, de expandir o fenómeno em causa - a competitividade com os países estrangeiros.
No caso de saudoso, bondoso, etc, são os substantivos - saudade, bondade, piedade, maldade - que estão na origem dos adjectivos, a que se acrescentou o sufixo -oso. No exemplo citado acima é do adjectivo competitivo que se formou o substantivo com a junção do sufixo -(i)dade.
Temos assim que, de competitivo + (i)dade se formou competitividade, e não há estômago que se não contraia de asco, pela repetida supressão de uma das sílabas repetidas, na pressa inútil, talvez, de atropelar verdades e iludir os crédulos.
Se não sabemos sequer utilizar os termos com que pretendemos enriquecer o nosso país na área económica, como podemos, de facto, incrementar os esquemas ideológicos que poderiam tornar mais real a nossa competitividade?

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