domingo, 16 de março de 2014

Venha o diabo e escolha



Mais uma voz de sensatez, de formiga consciente das invernias a chegar, que tenta explicitar razões teóricas para aplicação prática, criticando igualmente actuações da nossa madracice e da nossa esperteza saloia, como seja a actuação traiçoeira desses setenta importantes – notáveis, talvez pela traição – por muito que os argumentistas - não de meia tigela mas de meias tintas, na delicadeza do savoir faire democrático, timorato de se comprometer - se esforcem por mostrar que, não os achando oportunos, em todo o caso não lhes parecem condenáveis - o ideal democrático da liberdade os inocenta. Como, aliás, inocenta os incendiários, entre os mais exemplos.

Eis a voz de Henrique Salles da Fonseca, no A Bem da Nação, no seu artigo

«MARGINAIS E MADRAÇOS», de Março de 2014 
Foi David Ricardo (1772 – 1823) que imaginou a teoria do marginalismo cujo exemplo clássico consistia em saber até que ponto interessava utilizar terras agrícolas marginais, ou seja, menos produtivas do que as mais ricas. A conclusão apontava no sentido de que a exploração de campos marginais (mais custosos por unidade produzida) teria o preço unitário de venda do produto que se estudasse como limite do nível do custo médio unitário das produções totais. Esse ponto quantitativo definiria o maior lucro global.
Outra figura do marginalismo que ficou célebre consiste na propensão marginal à poupança, ou seja, quanto se poupa (e, complementarmente, quanto se investe) por cada unidade monetária a mais disponível no rendimento.
E de conceito em conceito, colhe meditarmos sobre a propensão marginal à importação: por cada unidade monetária a mais disponível no rendimento, quanto dela se destina a comprar produtos importados (e, complementarmente, quanto dela se destina a comprar produtos nacionais)?
É claro que logo assalta a pergunta sobre o que terão estas questões a ver com a actual realidade portuguesa quando o que está em causa não é uma unidade monetária a mais disponível no rendimento mas sim várias unidades a menos. A resposta é simples: nada obriga a que a conjuntura se tenha de equiparar à teoria na certeza, porém, de que a interpretação das realidades estruturais ou conjunturais se torna mais fácil quando teoricamente enquadrada.
E qual é a realidade? Pois bem, ao contrário do que por aí propalam 70 destacados maus pagadores, a dívida externa bruta está em vias de redução e em especial a da banca (“Outras Instituições Financeiras Monetárias, em «economês») está mesmo em clara redução. 
Daqui resulta que os bancos estrangeiros já reduziram o cepticismo com que até há relativamente pouco tempo olhavam para os seus homólogos portugueses e já lhes voltaram a dar crédito. Sim, porque uma grande parte da quebra nas importações se deveu ao facto de os bancos nacionais terem perdido o crédito externo de que usaram e abusaram para financiarem as importações de tudo e mais alguma coisa, o perverso crédito ao consumo desenfreado.
E quando o perverso «modelo de desenvolvimento» que nos atirou para a desgraça começa a ser substituído por um modelo virtuoso que nos poderá tirar da falência, logo começam as importações a ganhar terreno e a Balança Corrente a aproximar-se dos saldos nulos
BALANÇAS CORRENTE E DE CAPITAL (....)
Parece que, para além desses 70, anda muito mais gente por aí que não aprendeu nada com a crise por que passámos e que se mantém apostada na nossa desgraça colectiva.
Perante gente desta, para quê análises rebuscadas de teoria económica se o que se mostra necessário é um cabaz de medidas administrativas que impeça o dislate?
David Ricardo teve muitos méritos, nomeadamente este de inspirar os marginais portugueses que, de madraços, só pensam nas férias consumistas e desprezam a vida efectivamente produtiva. Dá vontade de dar um murro na mesa e bradar em uníssono com Camilo Lourenço: -SAIAM DA FRENTE

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