“O
Zero” de Vasco Pulido Valente, vem – para mim – na sequência de um
pequeno apontamento de Bagão Félix no mesmo jornal Público de 1/11/14 – “Poluição televisiva” – que bem
demonstra o inócuo de uma programação televisiva alargada a onze
telenovelas diárias, segundo cômputo do próprio
Bagão Félix, demonstrativa de um país preguiçoso, enovelado em ficções e
fantasias artificiosas, de pura diversão, arrastada, desprezando valores
indiscutivelmente mais formativos, como seria a leitura progressivamente aberta
a outros mundos de reflexão e enriquecimento cultural. Ao que parece,
exceptuado o segundo canal, de fraca audiência, tal não é o propósito de quem
gere as televisões, essencialmente viradas para um povo anódino, que
acrescenta, às horas perdidas com os aparelhos de jogos e telemóveis, as tais
programações que lhes ditam realidades nem sempre inofensivas. E eis porque um
público passivo obedece às ordens sindicais
nem sempre pautadas pelo bom senso e pela educação, como se tem visto,
em classes cuja responsabilidade educacional exigiria mais equilíbrio e compostura.
Onze
telenovelas diárias é de facto, obra, obra de um país de zombies, de quem passa
pela vida sonhando, presa de artifícios que, muitas vezes, ao pretenderem
retratar a vida, mais não fazem que deformá-la em trejeitos deseducativos,
geradores de rebeldias e violências que se reflectem no próprio panorama
social.
“O
Zero”, diz Vasco Pulido Valente, perfeitamente descrente do actual
Primeiro Ministro, mas sem confiança nenhuma no próximo, ciente de que quem põe
e dispõe é a Sr.ª Merkel, descendente que é de conceitos de autoridade e força
colhidos no leite materno, em cadeia antiga várias vezes demonstrada em analepse, e resultante de um povo carismático, trabalhador e ambicioso, que
por esse motivo poderoso, de vez em quando desfralda a sua bandeira potente com
determinação e eficácia.
Não,
Vasco Pulido Valente não acredita em ninguém cá da praça. Um povo que recebe de
mão beijada onze telenovelas diárias é um povo sem energia, a não ser para colher
os fracos benefícios de um subsídio de desemprego, que às vezes até lhe basta.
Ao que nós chegámos!
Não
me refiro, é claro, à maioria trabalhadora, perfeitamente fora desta questão,
que trabalha e estuda e acompanha os filhos, em trabalho quantas vezes exaustivo.
O apontamento de Bagão Félix:
Poluição televisiva
Há
dias, contei o número de telenovelas transmitidas nos três canais televisivos
abertos (excluo a boa excepção que é a RTP 2). São 11, num total de cerca de 9
horas diárias! É fartar, gente!
Se
a isso acrescentarmos essa indigência cultural e moral que dá pelo nome de um
qualquer big brother ou casa dos segredos, teremos 12 horas diárias (ou seja,
mais de 80% do prime time!). O resto é quase o deserto, por vezes preenchido
por overdoses de futebol antevisto, visto, revisto e entrevisto. A
estupidificação alienante em marcha acelerada.
Agora
que se fala em fiscalidade verde ou ambiental, seria uma tentação lançar uma
taxa sobre a poluição televisiva e uma sobretaxa sobre essa indignidade nojenta
e ultrajante (desde logo para quem participa) das “casas de segredo” passadas
em horário nobre (?). Seria bem aplicado aqui o princípio fiscal do
poluidor-pagador e evitar-se-ia onerar a vida decente das pessoas comuns com
outras taxas ora criadas.
O artigo de Vasco Pulido Valente:
O zero
Se a discussão do Orçamento na Assembleia da República
não serviu para muito, serviu pelo menos para mostrar o estado a que chegaram
os partidos da República. Não se ouviu um argumento sério, uma crítica nova. De
um lado ao outro, foram repetidas as diatribes do costume, com umas graçolas de
mau gosto pelo meio.
Isto
não teria importância de maior, se Portugal não precisasse daqui a um ano (ou
mais cedo ainda) de um governo que verdadeiramente desse ao indigenato um
módico de ordem e de razoabilidade. Mas ordem e razoabilidade são coisas que
não existem num parlamento dedicado ao berro, à insinuação e ao insulto; e que
ainda hoje se ocupa, como se essa fosse uma questão central, dos méritos
relativos de Manuela Ferreira Leite e do falecido Sócrates.
O
dr. Passos Coelho, enquanto promete fantasias, parece ocasionalmente decidido
ao martírio. Apresentou um orçamento indiferente (que pode ser anulado com três
riscos por quem lhe suceder), atrapalhou as contas por causa de uma polémica
com Paulo Portas, resolveu ameaçar com mais cortes para o funcionalismo em
2016. A única razão imaginável para este masoquismo é a de que se tenciona
imolar à sra. Merkel, como o perfeito exemplo da fidelidade. A sra. Merkel
agradece, mas suspeito que não está especialmente interessada. Por cá
ficarão os restos do que foi o PSD, com duas dúzias de autarquias e a história
destes quatro anos: quem vai votar nele, depois da inexcedível Paula Teixeira
da Cruz, de Nuno Crato e do caos que Passos Coelho conseguiu estabelecer no seu
próprio Conselho de Ministros?
Fica
o PS. Ou não fica? Embora saudável, a remoção de António José Seguro não
basta para tornar um grupinho de amigos num partido político. Mesmo num PS
entusiasmado e miraculosamente unido, a raiva e as facções não desapareceram
sob capa de suaves discordâncias ideológicas. Quem observa de fora aquele
formigueiro percebe o objectivo essencial do camarada Costa. Votos de
moderados, de radicais, das pequenas seitas da extrema-esquerda e até do PSD.
Em princípio, a ideia não choca. Sucede que há três grandes dificuldades no caminho.
Primeira: como, depois de Sócrates, persuadir os portugueses a entregar a
direcção da economia aos “socialistas”? Segunda, como pôr de acordo um
eleitorado que viveu 20 anos de se guerrear? E terceira: como convencer a
sra. Merkel, que este mês já liquidou as fanfarronadas da Itália e da França, a
fazer a vontade ao dr. Costa? O dr. Costa, se é capaz, devia pensar.
Finalizo com os dados da Segunda Guerra em
tradução de Paula Almeida, Técnica Superior:
5 de Novembro:
1937
Hitler
organiza uma reunião secreta onde apresenta os seus planos para alargar o
espaço vital do povo alemão.
1939
Depois de conspirar com Halder e Beck para prender Hitler, a menos que este recue no plano para uma ofensiva ocidental, o Comandante-em-Chefe do Exército alemão, von Brauchitsch, reúne-se com Hitler para discutir os planos para um ataque a oeste. Brauchitsch argumenta que não deve ocorrer como programado, a 12 de novembro, devido a fragilidades no exército. Hitler perde a paciência durante a reunião e não se deixa convencer pelos argumentos. Brauchitsch perde a paciência e regressa ao OKH (Alto Comando do Exército), onde a conspiração desmorona.
Depois de conspirar com Halder e Beck para prender Hitler, a menos que este recue no plano para uma ofensiva ocidental, o Comandante-em-Chefe do Exército alemão, von Brauchitsch, reúne-se com Hitler para discutir os planos para um ataque a oeste. Brauchitsch argumenta que não deve ocorrer como programado, a 12 de novembro, devido a fragilidades no exército. Hitler perde a paciência durante a reunião e não se deixa convencer pelos argumentos. Brauchitsch perde a paciência e regressa ao OKH (Alto Comando do Exército), onde a conspiração desmorona.
1940
O
Presidente Roosevelt é eleito para um terceiro mandato-
1942
O general Eisenhower chega a Gibraltar para estabelecer o seu quartel-general para a Operação Torch, a invasão da África do Norte francesa. O general Doolittle e o British Air Marshall Welsh vão comandar as forças aéreas.
O general Eisenhower chega a Gibraltar para estabelecer o seu quartel-general para a Operação Torch, a invasão da África do Norte francesa. O general Doolittle e o British Air Marshall Welsh vão comandar as forças aéreas.
1943
O
Vaticano é bombardeado.
1944
Forças
britânicas forçam a aterragem em Salónica, Grécia.
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