Enviou-me o meu filho Ricardo o seguinte texto de Mia Couto sobre Maputo, a velha Lourenço Marques, cantada com tanto encanto por Tudela, e que revemos nas fotos que a Internet nos apresenta. Uma cidade bonita que vai sendo devorada pela miséria, pela guerra intestina, pela selvajaria, pelo terrorismo que se previa, terra descomandada, sem ordem, que já foi uma cidade tranquila, tal como outras, que se vão desfazendo em Moçambique. Mas Mia Couto não está a mudar de opinião. Foi um puro desabafo de receio actual, jamais previsto, que a descolonização era ponto assente, na sua obra.Texto de Mia Couto - A Cidade que nos resta |
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Perguntava-me um amigo estrangeiro, acabado de chegar a Maputo,
em que ruas ele podia circular à vontade.
- À vontade? Perguntei, apenas para ganhar tempo.
O fulano ficou olhando o meu rosto pensativo. Poucos anos
antes eu teria respondido sem muita hesitação. A cidade mantinha áreas de
relativo sossego, onde o pacato cidadão podia circular sem riscos. Mas naquele
dia eu acabava de receber a notícia que um colega meu do serviço, em plena Rua
Joaquim Lapa, a escassos metros da Esquadra, tinha sido assaltado à mão-armada,
em pleno dia. No dia anterior, assim rezava o jornal, uma mulher fora violada
na marginal. Não acontecera no lusco-fusco. Sucedera à luz do dia. Na noite
anterior eu escutara no noticiário televisivo bairros inteiros reclamando
contra o reino de terror da bandidagem. Na semana anterior, um estrangeiro que
visitava a nossa empresa, próximo do Hotel Polana, tinha sido agredido por um
grupo de jovens. Nós tínhamos informado esse mesmo consultor que o bairro era
tranquilo e que ele podia caminhar pelas redondezas sem problema. Horas depois,
estávamos visitando o pobre homem no Hospital.
- Ora caminhar à vontade... - Ruminei eu, já consciente do
preço da minha demora.
O visitante salvou-me do embaraço, decidindo filosofar
sobre a tendência universal do aumento da criminalidade. Eu acreditava que o
mau momento passara quando ele lançou nova interrogação:
- E conduzir?
- Conduzir?
Ao menos, eu fizesse uso de mais imaginação. A repetição
da pergunta era um estratagema que ameaça saturar.
- Sim, conduzir um carro? Acha que posso?
- Claro que pode, se tiver carta de condução.
- Tenho, sim. Mas é seguro?
- Bem... Quer dizer... É preciso ter alguns cuidados...
- Como, por exemplo… por exemplo...
Desta feita, as imagens cruzaram-me a mente com a velocidade de
um chapa cem. Como explicar ao pobre turista que nos semáforos não se arranca
quando abre o verde. Como explicar que, em certas esquinas, o vermelho
corresponde ao verde e só se para no amarelo? Que em outros cruzamentos o verde
corresponde ao amarelo? Como esclarecer que os chapas nunca param nos semáforos
e param sempre no meio da estrada?
O estrangeiro entendeu a demora na minha resposta. Deve ter ficado
a matutar: a pé não podia, de carro não devia. Como usufruiria ele da cidade?
E a mim mesmo eu me questionei: que cidade nos resta a nós,
cidadãos de Maputo? Não podemos oferecer a cidade aos outros porque ela está
deixando de ser nossa.
- Deixe estar, disse ele para me tranquilizar. Eu vou
ficando no Hotel.
Num impulso eu quase dizia: eu também me vou mudar para o seu
Hotel. E enquanto conduzia o meu amigo rumo ao seu alojamento eu fui
olhando Maputo e pensando se como o cidadão está perdendo a cidade, como nos
restam de Maputo as sobras daquilo que a voragem do caos não está ainda
dominando.
NOTÍCIAS DA SEGUNDA GUERRA
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28 de novembro/
1934
¾ Winston Churchill
avisa o primeiro-ministro britânico Stanley Baldwin para não subestimar o poder aéreo
alemão.
1939
¾ O governo soviético
renuncia ao pacto de não-agressão com a Finlândia, assinado em 1932. São
alegados disparos feitos por tropas finlandesas sobre as tropas soviéticas em
torno de Leningrado. Enquanto isso, são emitidas ordens ao Exército Vermelho
para invadir a Finlândia a 30 de novembro.
¾ Na Polónia ocupada,
Hans Frank ordena a criação do Judenrat (Conselho Judaico) em cada gueto, para
fazer cumprir as ordens nazis.
¾ O governo britânico
declarou que todas as exportações alemãs são contrabando.
1941
¾ Na África Oriental,
são aceites os termos de rendição italianos e 22.000 tropas italianas
rendem-se. Termina o Império Romano de Mussolini nesta região.
1942
¾ Na frente oriental,
continuam os avanços soviéticos na área ao redor de Rzhev, nos arredores de
Moscovo.
¾ As Forças Francesas
Livres ocupam a ilha de Reunião, no oceano Índico.
1943
¾ 0Confer
1944
¾
Na
frente oriental, as forças soviéticas chegam ao Rio Danúbio a norte da
confluência do rio Drava.
¾
O
primeiro comboio aliado chega a Antuérpia, na Bélgica libertada.
1946
¾ Anton Mussert, um
reputado nazi holandês, é condenado à morte por alta traição. Anton Adriaan
Mussert foi um dos fundadores do Movimento Nacional-socialista dos Países
Baixos e seu líder formal. Por essa razão, foi o nacional-socialista mais
proeminente da Holanda antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o
conflito, conseguiu manter esta posição devido ao apoio que recebeu dos
alemães.
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