segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Deus de Ourique



Terá razão, Vasco Pulido Valente, tem-se sempre razão quando apenas nos pertence a alta responsabilidade de demonstrar ao mundo a nossa competência e a nossa inteligência. É possível que daqui a um ano, já apeados, Coelho e Portas passem a opinar, que são pessoas capazes disso – somos todos, os com qualidades elocutórias - a troco de uma batelada a mais de euros para o pé de meia. É o futuro do Governo, foi o futuro dos anteriores, que agora estão na fase de opinar, num sentido apenas, sem jamais pararem para explicar o porquê do que consideram só asnático neste, sem admitirem razões justificativas para o erro nem aceitarem os motivos da sua política arrasante das economias.
E há quem os ouça, os detractores, há até quem concorde, escondendo manhosamente os motivos do desaire em tanta austeridade, de contas a prestar com integridade. Contas que os que se esmeram agora em explicações e teorias, insistem em lavar daí as mãos impolutas. Mas tais entrevistas são, de facto, uma boa forma de acrescentar umas coroas aos vencimentos próprios, e o que a gente tem é inveja, não há dúvida. Eu, por exemplo, que não sou nada, nunca serei nada, e nem sequer tenho à parte isso todos os sonhos do mundo, consciente que sou dos entraves, das contingências, da indiferença do mundo em meu redor, além da má fortuna de que tanto se queixou Camões, nem sequer penso em invejar esses bem falantes televisivos, pois o que é bonito é mostrarmos ao mundo que somos capazes de nos exprimir com elegância, o que nem sempre sucede. É certo que outros temas poderiam ocorrer, factos da história, da filosofia, uma ou outra ensaboadela de matemática ou de língua e literatura portuguesa, ou outra próxima de nós, ou música, ou pintura, mas as audiências baixariam e não convém, temos de ser práticos, e viva o futebol, que esse sim, mete mesas redondas em todos os canais e em todas as horas. Por isso Passos e Portas acabarão a ganhar coroas nas entrevistas futuras, sucedâneas ao seu despejo governativo, afirma Vasco Pulido Valente, Tirésias clarividente e não cego como o outro, que tanto receou a oferenda do cavalo grego aos deuses também da amizade troiana, e acertou nos seus efeitos arrasadores.
Lamento que ninguém reconheça, a não ser os partidários de alma e coração, em Passos Coelho, um guerreiro de elmo e couraça, disposto a defender, qual NunÁlvares, com a espada da coragem e da determinação, um país que estava nas lonas, desacreditado e esbanjando, sem dó nem piedade, o dinheiro alheio, numa postura de megalomania perfeitamente funesta e criminosa, quando, ao que parece, nem dinheiro havia para pagar aos funcionários.
Passos Coelho fez o que pôde, em termos de resgate – pelo menos dos juros, teve companheiros nessa távola redonda que todos se esforçam por arrombar em insinuações de desavenças mais ou menos boateiras, mas que satisfazem sobremaneira a avidez fofoqueira de uns e outros. que essa conta sobremaneira.
Porquê tanto derrotismo de Vasco Pulido Valente?
 V.P.V. é inteligente, mas não é omnisciente, nem mesmo nenhum Tirésias, que, cego, adivinhava com os olhos do espírito, tal como aconteceu a Édipo, depois de cegar.
Que o Deus de Ourique dê muita força e coragem a Passos Coelho e aos seus pares. O mal nisso é que tem que contar com a grei que o cerca, o tal de rebanho segundo Pulido Valente. Espero ainda que os pastores Passos ou Portas não cumpram o destino que lhes augura o nosso Tirésias nacional. Não precisam. Nem mesmo a troco de lecas.  

O texto de Vasco Pulido Valente, Público, 19/10/14:

O futuro do governo

João Grancho, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, acusado de plágio saiu dignamente do governo por sua própria vontade. Merece os nossos parabéns. Mas, no meio desta salvação, talvez muito merecida, é bom que se lembre os desgraçados que, por não se precaverem com um pequeno escândalo vão ficar onde estavam, sem nada que fazer, até ao último suspiro.
Com o caso Crato e o caso mais sério da dra. Cruz, o primeiro-ministro criou na coligação uma atmosfera de bunker, a que ninguém, nem o próprio Portas, consegue escapar. Estão ali todos para defender “a obra de salvação” da troika e do sr. Vítor Gaspar e nenhuma fraqueza é permitida. Hesitar, murmurar, criticar, são infames formas de trair a Pátria e empanar a glória de Passos Coelho.
Resta que o futuro dos génios que nos pastoreiam parece duvidoso. O primeiro-ministro arranjará com certeza um lugar condigno. Pires de Lima e Paulo Macedo também. Alguns voltarão a um escritório de advogados, que é uma boa maneira de continuar na política à socapa. A maioria ficará depenada e só. E mesmo que Portas se retire para Caxias-Colombey, não pode contar que o ponham em Belém daqui a vinte anos. Felizmente, a solução já foi encontrada: a entrada em massa de suas excelências na televisão e nos jornais. Competência não lhes falta: falam bem, discutem bem e não se atrapalham excessivamente com a verdade. Com uma gravata nova e um fato escuro, ninguém dirá que não se trata de uma nova geração de comentadores. Vale sempre a pena aproveitar as lições dos mais velhos.
Hoje, por exemplo, opinam com entusiasmo na televisão um antigo primeiro-ministro (Sócrates) e um futuro primeiro-ministro (Costa); quatro chefes de partidos políticos na reforma (Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e Francisco Louçã); praticamente qualquer pessoa que dirigiu as nossas finanças, com a prudência e o brilho que o país conhece (o exótico Braga de Macedo, Bagão Félix e Ferreira Leite – outra vez). Os programas pululam de economistas (alunos, assistentes, professores, para não falar de analfabetos com essa meritória mania). Tudo grita, tudo estica o dedo, tudo repete e se repete com um fanatismo não exactamente “orçamental”. Basta ao nosso querido governo aguentar um ano de sacrifício para se juntar a esta tropa fandanga. Não notaria a menor diferença.

Hoje, 3 de novembro:
1939
  Em Moscovo, continuaram as negociações entre a URSS e a Finlândia para uma troca de territórios e alterações de fronteira, reivindicada pelos soviéticos. As contra propostas finlandesas foram apresentadas, nas quais se reconhecem as necessidades de segurança soviéticas, mas a Finlândia chegou ao limite  no que diz respeito à manutenção da sua "independência, segurança e neutralidade." Os finlandeses recusam a utilização de uma base militar na Finlândia para uso dos soviéticos /   O Senado dos EUA aprova o levantamento do embargo à exportação de armas aos beligerantes/     Na Grã-Bretanha, depois de reclamações de empregadores e sindicatos, o apagão é reduzido em uma hora, passando a acontecer de meia hora depois do anoitecer até meia hora antes do nascer do sol/   O primeiro-ministro Sul Africano, o general Smuts, promete defender as colónias britânicas na África, em caso de necessidade/ In Pretoria...
E revivamos outros tempos, de uma guerra bem mais sombria;
1940
 Bombardeamento italiano de Salónica, Grécia/  Na Grã-Bretanha, é a primeira noite desde 7 de setembro que não há bombardeamentos sobre Londres. Houve 57 noites consecutivas de ataque e depois deste dia mais 10 se seguirão. Por noite, cerca de 165 aviões atacaram a cidade, caindo 13.600 toneladas de bombas incendiárias explosivas/
1941
 Na área circundante de Leningrado, as forças alemãs do Grupo Norte do Exército continuam a tentar isolar a cidade dando Tikhvin um centro ferroviário a 100 milhas a leste da cidade. A luta é feroz e os contra-ataques soviéticos são ineficazes. Mais ao sul, Kursk cai para as unidades alemãs na junção de Grupo Central e do Grupo Sul do Exército. /  Em Berlim, Hitler ordena que Rommel não recue, apesar da escassez de combustível e de material /     No Norte de África, na Batalha de El Alamein, as forças do Eixo começam a recuar, mas são interrompidos quando a ordem de Hitler é recebida. Os italianos já estão em processo de retirada. Os britânicos são incapazes de continuar a pressionar as tropas sitiadas, para grande surpresa de Rommel, devido a dificuldades em movimentar rapidamente homens e equipamentos através dos campos minados /  500 aeronaves da Força Aérea dos Estados Unidos devastam o porto alemão de Wilhelmshaven/   Os nazis levam a cabo a Operação Festival Harvest na Polônia ocupada, matando 42 mil judeus /     Dois comandantes supremos da insurreição nacional eslovaca, Generais Ján Golian e Rudolf Viest, são capturados, torturados e depois executados pelas forças alemãs/
 Paula Almeida, Técnica Superior

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