Terá razão, Vasco Pulido
Valente, tem-se sempre razão quando apenas nos pertence a alta responsabilidade
de demonstrar ao mundo a nossa competência e a nossa inteligência. É possível
que daqui a um ano, já apeados, Coelho e Portas passem a opinar, que são
pessoas capazes disso – somos todos, os com qualidades elocutórias - a troco de
uma batelada a mais de euros para o pé de meia. É o futuro do Governo, foi o
futuro dos anteriores, que agora estão na fase de opinar, num sentido apenas,
sem jamais pararem para explicar o porquê do que consideram só asnático neste, sem admitirem razões justificativas para o
erro nem aceitarem os motivos da sua política arrasante das economias.
E há quem os ouça, os
detractores, há até quem concorde, escondendo manhosamente os motivos do
desaire em tanta austeridade, de contas a prestar com integridade. Contas que os
que se esmeram agora em explicações e teorias, insistem em lavar daí as mãos impolutas.
Mas tais entrevistas são, de facto, uma boa forma de acrescentar umas coroas
aos vencimentos próprios, e o que a gente tem é inveja, não há dúvida. Eu, por
exemplo, que “não sou nada, nunca serei nada,
e nem sequer tenho “à parte
isso todos os sonhos do mundo, consciente que sou dos entraves, das
contingências, da indiferença do mundo em meu redor, além da “má fortuna” de que
tanto se queixou Camões, nem sequer penso em invejar esses bem falantes televisivos,
pois o que é bonito é mostrarmos ao mundo que somos capazes de nos exprimir com
elegância, o que nem sempre sucede. É certo que outros temas poderiam ocorrer,
factos da história, da filosofia, uma ou outra ensaboadela de matemática ou de
língua e literatura portuguesa, ou outra próxima de nós, ou música, ou pintura,
mas as audiências baixariam e não convém, temos de ser práticos, e viva o
futebol, que esse sim, mete mesas redondas em todos os canais e em todas as
horas. Por isso Passos e Portas acabarão a ganhar coroas nas entrevistas
futuras, sucedâneas ao seu despejo governativo, afirma Vasco Pulido Valente,
Tirésias clarividente e não cego como o outro, que tanto receou a oferenda do
cavalo grego aos deuses também da amizade troiana, e acertou nos seus efeitos arrasadores.
Lamento que ninguém reconheça, a não ser os partidários de alma e coração, em Passos Coelho, um guerreiro
de elmo e couraça, disposto a defender, qual Nun’Álvares, com a espada da coragem e da determinação, um
país que estava nas lonas, desacreditado e esbanjando, sem dó nem piedade, o
dinheiro alheio, numa postura de megalomania perfeitamente funesta e criminosa,
quando, ao que parece, nem dinheiro havia para pagar aos funcionários.
Passos Coelho fez o que pôde,
em termos de resgate – pelo menos dos juros, teve companheiros nessa távola
redonda que todos se esforçam por arrombar em insinuações de desavenças mais ou
menos boateiras, mas que satisfazem sobremaneira a avidez fofoqueira de uns e
outros. que essa conta sobremaneira.
Porquê tanto derrotismo de
Vasco Pulido Valente?
V.P.V. é inteligente, mas não é omnisciente,
nem mesmo nenhum Tirésias, que, cego, adivinhava com os olhos do espírito, tal
como aconteceu a Édipo, depois de cegar.
Que o Deus de Ourique dê muita força e coragem a Passos
Coelho e aos seus pares. O mal nisso é que tem que contar com a grei que o
cerca, o tal de “rebanho” segundo Pulido Valente. Espero ainda que os “pastores” Passos ou Portas não
cumpram o destino que lhes augura o nosso “Tirésias” nacional. Não precisam.
Nem mesmo a troco de lecas.
O texto
de Vasco Pulido Valente, Público,
19/10/14:
O futuro do governo
João
Grancho, o secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, acusado de
plágio saiu dignamente do governo por sua própria vontade. Merece os nossos
parabéns. Mas, no meio desta salvação, talvez muito merecida, é bom que se
lembre os desgraçados que, por não se precaverem com um pequeno escândalo vão
ficar onde estavam, sem nada que fazer, até ao último suspiro.
Com
o caso Crato e o caso mais sério da dra. Cruz, o primeiro-ministro criou na
coligação uma atmosfera de bunker, a que ninguém, nem o próprio Portas,
consegue escapar. Estão ali todos para defender “a obra de salvação” da troika
e do sr. Vítor Gaspar e nenhuma fraqueza é permitida. Hesitar, murmurar,
criticar, são infames formas de trair a Pátria e empanar a glória de Passos
Coelho.
Resta
que o futuro dos génios que nos pastoreiam parece duvidoso. O primeiro-ministro
arranjará com certeza um lugar condigno. Pires de Lima e Paulo Macedo também.
Alguns voltarão a um escritório de advogados, que é uma boa maneira de
continuar na política à socapa. A maioria ficará depenada e só. E mesmo que
Portas se retire para Caxias-Colombey, não pode contar que o ponham em Belém
daqui a vinte anos. Felizmente, a solução já foi encontrada: a entrada em massa
de suas excelências na televisão e nos jornais. Competência não lhes falta:
falam bem, discutem bem e não se atrapalham excessivamente com a verdade. Com
uma gravata nova e um fato escuro, ninguém dirá que não se trata de uma nova
geração de comentadores. Vale sempre a pena aproveitar as lições dos mais
velhos.
Hoje,
por exemplo, opinam com entusiasmo na televisão um antigo primeiro-ministro
(Sócrates) e um futuro primeiro-ministro (Costa); quatro chefes de partidos
políticos na reforma (Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Manuela Ferreira
Leite e Francisco Louçã); praticamente qualquer pessoa que dirigiu as nossas
finanças, com a prudência e o brilho que o país conhece (o exótico Braga de
Macedo, Bagão Félix e Ferreira Leite – outra vez). Os programas pululam de
economistas (alunos, assistentes, professores, para não falar de analfabetos
com essa meritória mania). Tudo grita, tudo estica o dedo, tudo repete e se
repete com um fanatismo não exactamente “orçamental”. Basta ao nosso querido
governo aguentar um ano de sacrifício para se juntar a esta tropa fandanga. Não
notaria a menor diferença.
Hoje,
3 de novembro:
1939
Em Moscovo, continuaram as
negociações entre a URSS e a Finlândia para uma troca de territórios e alterações
de fronteira, reivindicada pelos soviéticos. As contra propostas finlandesas
foram apresentadas, nas quais se reconhecem as necessidades de segurança
soviéticas, mas a Finlândia chegou ao limite no que diz respeito à
manutenção da sua "independência, segurança e neutralidade." Os finlandeses
recusam a utilização de uma base militar na Finlândia para uso dos soviéticos
/ O Senado dos EUA aprova o
levantamento do embargo à exportação de armas aos beligerantes/ Na Grã-Bretanha, depois
de reclamações de empregadores e sindicatos, o apagão é reduzido em uma
hora, passando a acontecer de meia hora depois do anoitecer até meia hora antes
do nascer do sol/ O
primeiro-ministro Sul Africano, o general Smuts, promete defender as colónias
britânicas na África, em caso de necessidade/ In Pretoria...
E revivamos outros tempos, de uma
guerra bem mais sombria;
1940
Bombardeamento italiano de Salónica, Grécia/
Na Grã-Bretanha, é a primeira noite
desde 7 de setembro que não há bombardeamentos sobre Londres. Houve 57
noites consecutivas de ataque e depois deste dia mais 10 se seguirão. Por
noite, cerca de 165 aviões atacaram a cidade, caindo 13.600 toneladas de bombas
incendiárias explosivas/
1941
Na
área circundante de Leningrado, as forças alemãs do Grupo Norte do
Exército continuam a tentar isolar a cidade dando Tikhvin um centro ferroviário
a 100 milhas a leste da cidade. A luta é feroz e os contra-ataques
soviéticos são ineficazes. Mais ao sul, Kursk cai para as unidades alemãs
na junção de Grupo Central e do Grupo Sul do Exército. / Em Berlim,
Hitler ordena que Rommel não recue, apesar da escassez de combustível e de
material / No Norte de África, na Batalha de El
Alamein, as forças do Eixo começam a recuar, mas são interrompidos
quando a ordem de Hitler é recebida. Os italianos já estão em processo de
retirada. Os britânicos são incapazes de continuar a pressionar as tropas
sitiadas, para grande surpresa de Rommel, devido a dificuldades em movimentar
rapidamente homens e equipamentos através dos campos minados / 500
aeronaves da Força Aérea dos Estados Unidos devastam o porto alemão de Wilhelmshaven/
Os nazis levam a cabo a Operação
Festival Harvest na Polônia ocupada, matando 42 mil judeus / Dois comandantes supremos da
insurreição nacional eslovaca, Generais Ján Golian e Rudolf Viest, são
capturados, torturados e depois executados pelas forças alemãs/
Paula Almeida, Técnica Superior
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