Ode Triunfal
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«À
dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! ….» |
A
única semelhança entre o que direi de mim e o que se lê no excerto da «Ode
Triunfal» é a expressão “tenho febre e escrevo”. Álvaro de
Campos, em propósito iconoclástico, grita-o, no entusiasmo da admiração pelos
efeitos transformadores que a revolução industrial trouxe aos diversos países,
em termos de desenvolvimento fabril, fazendo-o trocar a temática da poesia
tradicional inspirada na Moral e no Belo segundo o conceito aristotélico de
Arte, pelos temas grossos das coisas de utilidade, não passíveis, antes, de
evocação lírica, ou outras temáticas de violência e força e brutalidade e
desvio, causadores, todavia, de impacto psicológico no eu que reage ao mundo,
como peça desse mundo. Estava-se em pleno Modernismo, era o Futurismo a
designação dessa nova arte de desconstrução, que se reflectia na própria gramática
do verso branco, impregnados das onomatopeias desses ruídos perturbadores
naturalmente indiferentes à ordem e ao equilíbrio versificatórios.
Mas
a minha febre era real, acabava de fazer as análises e o electrocardiograma
receitados na véspera pelo médico, e no café por baixo do Centro de Enfermagem,
li pacificamente jornais menos agressivos - uma revista com uma longa entrevista
à filha de Agustina Bessa Luís, Mónica Baldaque, feita por Anabela
Mota Ribeiro, em que ficamos a saber de uma inteligência superior e ironicamente
desconcertante, que nos meus tempos de Coimbra provocou grande surpresa e
admiração com o seu livro, logo premiado, “A Sibila”, e mais tarde usado
como leitura integral, no Secundário, possibilitando referências estruturais e
semânticas de grande riqueza analítica, na originalidade dos seus mundos
independentes, face aos neo-realistas da época, domesticados segundo os seus
ideais marxistas, que repetiam à exaustão os universos sociais contrastantes no
nosso país.
Outra
revista trazida pela mão fraterna - «Fugas» - entre outros temas, e logo
na capa, um padrão com um cesto de
flores, numa álea parisiense, contendo a referência a Amália: «19e arrondissement / PROMENADE AMÁLIA
RODRIGUES - 1920-1999 – Chanteuse Portugaise»
e o dístico seguinte: Há muito Portugal pelas ruas de
Paris. No interior, o título da reportagem - «PORTUGAL ESTÁ NA MODA EM
PARIS?», com imagens e exemplos significativos, onde não falta o monumento a
Camões, na avenida com o mesmo nome, nem a estátua com o busto de Eça em Neuilly-sur-Seine, para não falar
de tantas outras referências, e mais a imagem da LIBRAIRIE PORTUGAISE & BRÉSILIENNE,
de fachada azul, os livros reluzindo dentro, «fundada em 1986 por Michel Chandeigne, um biólogo que no
início dessa década viveu em Lisboa , onde se apaixonou pela literatura
portuguesa, de quem se tornou um tradutor e editor prestigiado».
Mas em casa, ouvindo os habituais comentários
de esquerda na assembleia, ou a «Opinião Pública” da Sic, de impropérios
de falsos saberes na arrogância maldosa popularucha, ou, em reposição, o
estrondo verbal da descodificação dos comportamentos de Passos Coelho por Pacheco
Pereira, na Quadratura do Círculo, para além do «Tenho febre e escrevo», outra
semelhança comigo poderei apontar do dito excerto: «Escrevo rangendo os
dentes, fera” (não para a beleza disto) mas para a miséria e fealdade
disto. São outros os tempos, as máquinas já não entusiasmam e a perversidade actual
incomoda.
Mas
sendo dia de febre, prefiro lembrar, enquanto escrevo, António Lobo
Xavier, como elemento honrado de reconciliação desse programa
“Quadratura…”. Além de um diaporama em imagens e discursos, que o Dr. Salles me
mandou, baseado em muitas imagens e frases da filha, Clara Crabbé Rocha sobre
seu pai – Miguel Torga - Diaporama
sobre «Concepção e pesquisa de Vitália
Rodrigues e Luís Agilar, em Dez. 2007”, que tem por título «Um diamante que
ninguém conseguiu lapidar». E é de lá que retiro versos da sua grandeza,
lidos pela manhã. Com lágrimas. De encanto e tristeza.
Ter um destino
É não caber no berço
Onde o corpo nasceu.
É transpor as fronteiras uma a uma
E morrer sem nenhuma.
Finalmente, os dados
preciosos sobre a Segunda Guerra, enviados por Paula Almeida, Técnica
superior, que reescrevo, também rangendo os dentes:
1939, neste dia:
Em
Roma, Mussolini remodela o seu gabinete, substituindo os
membros pró-nazis por membros neutros. Seis ministérios e várias
secretarias mudaram. Grandi, simpatizante da causa britânica, continua a ser o
chefe do Departamento da Justiça. Estas mudanças não são vistas como
passíveis de trazer mudanças na política externa / Numa
reunião do Soviete Supremo da União Soviética, Molotov critica a Grã-Bretanha
e França por continuarem a guerra, mas não dá mais do que apoio moral à
Alemanha. Ele alega que o pacto germano-soviético prevê que a URSS deve
manter a neutralidade em caso da Alemanha estar em guerra. / Enquanto isso,
começa a primeira de três reuniões entre os soviéticos e os
finlandeses sobre as recentes exigências dos primeiros para a revisão da
fronteira entre os dois países. Os negociadores soviéticos reivindicam o
território estratégico no Istmo da Carélia, a base naval de Hangö e o
porto de Petsamo, no Ártico, em troca de território soviético ao longo da
fronteira oriental. Não foi alcançado qualquer acordo/ Na Polónia
ocupada, a pena de morte é ordenada para todos os polacos que desobedeçam à
autoridade alemã, sendo os acusados julgados nos tribunais das SS/
1940
Na Grã Bretanha, o 114ª dia da Batalha de Inglaterra assinala o fim dos raids aéreos contínuos da Luftwaffe/ - Os britânicos executam uma aterragem forçada na ilha grega de Creta/
Na Grã Bretanha, o 114ª dia da Batalha de Inglaterra assinala o fim dos raids aéreos contínuos da Luftwaffe/ - Os britânicos executam uma aterragem forçada na ilha grega de Creta/
1944
Na
Dinamarca ocupada, a sede da Gestapo, a Casa Shell em Aarhus, é
destruída por um bombardeamento levado a cabo pela RAF. O objetivo do
ataque é destruir o maior número de registros quanto possível, para ajudar os
membros da resistência/ - Na Grécia,
as forças alemãs retiraram-se de Salónica. As guarnições alemãs que
permaneceram na ilha encontram-se agora encurraladas. Durante as últimas
semanas, inúmeras tropas alemãs foram evacuadas das ilhas do mar Egeu por
pequenas embarcações, apesar das patrulhas aliadas
-
Na Alemanha ... É efetuado um bombardeamento em plena luz do dia na
área industrial do Ruhr, sendo o principal alvo a fábrica de óleo Bottrop.
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