Quando as coisas correm a favor dos nossos ideais, as
sondagens até que nos dão descanso e podemos dizer coisas amáveis, ou, pelo
menos, aparentemente isentas. Mas as sondagens ultimamente mostram vantagens
para a Coligação e a Quadratura do Círculo revelou-se
extraordinariamente assomadiça, no que toca a Pacheco Pereira e a Jorge Coelho,
via-se bem que estavam irados aquando das explicações rancorosas de tal
descalabro em que nenhum deles quer acreditar, Jorge Coelho explicando que só
no dia 4/10 é que se decide o ganhador, Pacheco Pereira, com ar modestamente iluminado,
de quem descobriu a pólvora - que Lobo Xavier, aliás, desmascararia como coisa
explicável pelo conhecido - (não de mim, confesso) - método de hondt - munido
de papel e marcador vermelho, dividindo um rectângulo em duas partes desiguais
– direita e esquerda – com vantagem para a esquerda, contendo todos os grupos
da não governação, estranhando que num país nitidamente virado à esquerda, pois
passou a incluir nela o PS, sem ressalvas, era uma escassa direita que
governava. Lobo Xavier também achou que era cedo para triunfalismos, e que a
tendência das sondagens era para um empate técnico, o que, aliás, Jorge Coelho
igualmente corroborou, mais desanuviado. Mas Pacheco Pereira via-se que estava extremamente
nervoso, falando na empáfia do PSD e acusando Paulo Portas de ser afrontoso
para o país, ao percorrer os estaleiros de Viana como território ocupado,
embora Lobo Xavier desmascarasse a perfídia de Pacheco, lembrando que essas
passeatas são vulgares nas campanhas eleitorais e que, se o passeio fosse do PS
já isso faria sentido para Pacheco Pereira…
Enfim, eu estava a ouvir meio abananada, e logo comentei
com o meu marido a atitude de “mau perder” de P.P, embora nem sequer houvesse
motivos para crer em derrota do PS, num país de tantos PPs presunçosos e não
seguidores do lema latino que os três ou quatro mosqueteiros seguiam, já nos
tempos de Richelieu - «Unus pro omnibus, omnes pro uno» -
cada um avaramente apenas seguidor da sua própria pessoa, de um modo geral. E o
meu marido falou naqueles outros heróis antigos, dos princípios da revolução –
Freitas do Amaral, Basílio Horta … - que já foram CDS e agora apoiam Costa, com
todo o peso das suas importâncias, chamariz de outros amigalhaços. Como se pode
mudar assim? Nesses tempos da Revolução eu era jovem, Freitas fora meu herói,
ele sabia dizer coisas equilibradas, que eu precisava de ouvir, na revolta
contra a destruição pátria que vivia. Mas realmente, nunca Freitas se
pronunciou sobre o meu “Cravos Roxos” que lhe enviei, com o calor da minha
admiração de então. Os cravos para ele nunca foram, de facto, roxos, tal como
para os manobradores da nova pátria.
Quanto
a Pacheco Pereira, ainda nos interrogámos sobre se ele faria parte do mesmo
grupo apoiante de Costa, mas achámos que não. Também ele mudara, diz-se, de MRPP para PSD, mas as
suas flutuações levam-no indiscutivelmente, por dever de consciência – talvez quadrada
- ao primitivo grupo revolucionário. Ou, definitivamente, a si próprio.
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