Estávamos nas conversas banais das saúdes, nossas e
dos amigos, embora com parcimónia, pois, tal como o ratinho pobre da aldeia,
que recebe o primo rico da cidade com o esbanjamento da humildade que dissimula
as suas penúrias, na versão admiravelmente dinâmica e visualizadora do nosso Sá
de Miranda, – “Dá mil voltas o
coitado / Que não põe os pés no chão “ e “Mostra bom rosto á despesa.
/Vem o outro e dissimula.” Ou estoutra: “ Estoutro pondo lhe a
mezinha, / Mesura quando ia e vinha, / Deu lhe tudo quanto tinha, / Pede perdão
por costume.” - também nós vamos
discretamente engolindo mazelas para não atrair o mau olhado de outras mazelas
piores.
A dada altura, falou-se de calvícies que, em minha
opinião, dão certo brilho às personalidades masculinas, pois tenho reparado que
as calvas profundas aparecem mais nos homens de ar poderoso, empunhadas como
distintivo de classe, em todo o seu esplendor de cabeças sem o artefacto usual dos
cabelos. E logo me surpreendeu a frase que a nossa amiga disparou, os seus
gestos amplos acompanhando o sonoro do dito:
- Os homens, mal lhes começam a cair os cabelos, eh
pá! Rapam-me os cabelos e aparecem aquelas cabeças a brilhar. Ficam muito
feios.
Desatámos a rir e nem pude exprimir a minha opinião
admirativa das calvas sugestivas de bem-estar e poder. De resto, já tinha
reparado na moda das calvícies, reais ou provocadas, e recordarei sempre a
canção da nossa mocidade “É dos carecas que elas gostam mais”, que
contraponho às palavras da nossa amiga, já dispersa noutros temas da sua
facúndia oral e gestual: - “Eles estão a anunciar um aumento de temperatura”,
o que nos lançou na tragédia do aquecimento, a acrescentar às dos Erdogans pró
Ocidente, fabricando, talvez, atentados para eliminar focos perigosos de refractários ao seu poder - o que poderá trazer alianças daquele com a
Rússia, catastróficas para a estabilidade ocidental, já tão precária, ao que se
diz. Soma e segue, nosso hábito.
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