quinta-feira, 4 de agosto de 2016

“Ficam muito feios”.



Estávamos nas conversas banais das saúdes, nossas e dos amigos, embora com parcimónia, pois, tal como o ratinho pobre da aldeia, que recebe o primo rico da cidade com o esbanjamento da humildade que dissimula as suas penúrias, na versão admiravelmente dinâmica e visualizadora do nosso Sá de Miranda,  – “Dá mil voltas o coitado / Que não põe os pés no chão “ e “Mostra bom rosto á despesa. /Vem o outro e dissimula.” Ou estoutra: “ Estoutro pondo lhe a mezinha, / Mesura quando ia e vinha, / Deu lhe tudo quanto tinha, / Pede perdão por costume.” - também nós vamos discretamente engolindo mazelas para não atrair o mau olhado de outras mazelas piores.
A dada altura, falou-se de calvícies que, em minha opinião, dão certo brilho às personalidades masculinas, pois tenho reparado que as calvas profundas aparecem mais nos homens de ar poderoso, empunhadas como distintivo de classe, em todo o seu esplendor de cabeças sem o artefacto usual dos cabelos. E logo me surpreendeu a frase que a nossa amiga disparou, os seus gestos amplos acompanhando o sonoro do dito:
- Os homens, mal lhes começam a cair os cabelos, eh pá! Rapam-me os cabelos e aparecem aquelas cabeças a brilhar. Ficam muito feios.
 Desatámos a rir e nem pude exprimir a minha opinião admirativa das calvas sugestivas de bem-estar e poder. De resto, já tinha reparado na moda das calvícies, reais ou provocadas, e recordarei sempre a canção da nossa mocidade “É dos carecas que elas gostam mais”, que contraponho às palavras da nossa amiga, já dispersa noutros temas da sua facúndia oral e gestual: - “Eles estão a anunciar um aumento de temperatura”, o que nos lançou na tragédia do aquecimento, a acrescentar às dos Erdogans pró Ocidente, fabricando, talvez, atentados para eliminar focos  perigosos de refractários ao seu poder -  o que poderá trazer alianças daquele com a Rússia, catastróficas para a estabilidade ocidental, já tão precária, ao que se diz. Soma e segue, nosso hábito.

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