Leio
agora um texto antigo, um texto sério
Que
não posso deixar de transcrever.
Recorda-me
imagens que passaram
Tempos
que se viveram
De
maior sobriedade e exigência
- Apesar
das fugas que se cometiam -
Pois
sempre ilicitudes existiram
Num
mundo onde antigos fabulistas
Usavam
animais que exemplificavam
As
tolices que os homens praticavam.
Fábulas que, afinal, não resultaram
Com o aumento das prisões
nem dos juristas
Ou sequer dos moralistas,
Que parece até que apresentam
Efeito contraproducente.
E aqui estamos nós a
discutir
Se é lícito não pagarmos à
Europa
Aquilo que a Europa
confiante
Nos emprestou em tempos de penúria.
Mas leio no Público outra
notícia
Que prova que pagar
Para nós não é relevante:
«Multas, nos transportes, por cobrar
50 milhões de euros ultrapassaram»
50 milhões de euros ultrapassaram»
Não, não há solução
Quando falta educação
- Além da outra penúria -
Na nossa idiossincrasia.
E, embora sem eficácia
O texto de A. B., de impaciência,
Aqui está, com a minha concordância.
As dívidas da Pátria
António Barreto
DN, 10 /7/16, - «Sem emenda»
Já
hoje sofremos sanções e não é pouco! Os juros que pagamos são superiores aos
dos outros países. Os investimentos, nacionais e estrangeiros, caíram a pique.
Continua a exportação de capitais para países mais seguros e bancos mais
honestos. Nos mercados, o dinheiro para Portugal é escasso ou muito caro. Os
credores internacionais têm dúvidas. Todas estas realidades têm
nomes mais técnicos e suaves, mas são verdadeiras sanções. Parece que não
chegam! Ainda são precisas mais!
Como
é evidente, devemos pagar sanções. E ser punidos. É bom que assim seja. A
impunidade é um defeito grave. Quem não faz o que deve tem de assumir as
consequências. Em última análise, quem sofre com as sanções são os
contribuintes. Sabemos isso. Por isso as sanções podem ser injustas. Mas são
instrumentos necessários a pôr os políticos em ordem e a obrigá-los a ter
disciplina. Sobretudo é o modo de informar os eleitores que os seus políticos
governaram mal, tomaram decisões erradas, gastaram o que não é deles e não
fizeram contas porque queriam ser eleitos. As sanções são uma condição
necessária à formação de um juízo racional dos eleitores. Sem sanções, não há
políticos a despedir, não há governantes indisciplinados a castigar, não há
mentirosos a punir nem há demagogos a contrariar!
Distribuir
o que não há, gastar a mais e não pagar dívidas merece castigo! Mentir nas
contas, gerir mal e favorecer a corrupção deve ser punido! Decretadas pelas
autoridades competentes, as sanções servem para tornar evidentes aos eleitores
os erros e os defeitos dos seus políticos.
Por
isso é confrangedor o actual debate sobre sanções, assim como a onda de
patriotismo bacoco que o governo e os seus apoiantes fomentam. É ridículo
declarar guerra à União Europeia e à Alemanha! É idiota invocar a pátria para
aumentar a dívida! É infantil tentar camuflar os erros políticos sob as
roupagens da dignidade nacional! O patriotismo sempre foi o refúgio dos
demagogos, dos ditadores e dos aldrabões.
Estamos
a chegar lentamente ao país dos crédulos: nós temos sempre razão, eles, nunca!
Os debates parlamentares resumem-se a isto. Os fiéis de um culto só
acreditam no seu sacerdote. Os simpatizantes de um partido só confiam nele. O
pensamento é o do rebanho. Inteligência, informação, razão e rigor são
dispensados. Estas semanas de futebol só vieram agravar os espíritos. O que
importa é ganhar, nem que seja com a mão, dizia alguém na televisão. A lógica é
a mesma. Com argumentos nacionalistas, que as esquerdas envergonhadas
designam por patrióticos, com emoções patetas e com sentimentos totalmente
deslocados, pretende-se manter aliados e iludir eleitores. Sendo que os
apoiantes comunistas e bloquistas querem mais do que isso. Querem mesmo dar
cabo do Euro, do Tratado Orçamental e desta União. Para o que esperam
evidentemente pela cumplicidade pacóvia dos socialistas e pelos sentimentos
patrióticos dos Portugueses vexados na sua dignidade nacional!
Verdade
seja dita que os outros intervenientes não se portam melhor. O que faz com que
seja difícil compreender o que realmente se passou e está em causa. Portugal
infringiu ou não as regras? Quando? Por quanto? Quem foram os responsáveis? E
os outros países da União? Esta trata todos da mesma maneira, como diz, ou
com parcialidade, como parece? A União ainda não conseguiu demonstrar
que, na questão dos défices, está a ser justa e equitativa. O PSD não provou
que a sua gestão ficou abaixo do défice. O governo não conseguiu demonstrar que
a sua actuação não agrava os défices. Chegámos ao ponto do inferno das emoções,
próprio do patriotismo: o que fizemos é bem, porque fomos nós. O que eles
fizeram é mau, porque foram eles. Ao que nós chegámos!
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