Ei-lo que vai, seguro de si, sem falsas promessas, sem
jogos retóricos, num objectivo de elucidar, por meio de números e dados
realistas, no propósito de sempre: salvar o país. Sabendo que a enfermidade é
grave, e que os paliativos não ajudam à cura, e muito menos as palavras da
esperança, ou das alternativas, apenas para captar a simpatia das gentes. No seu todo, de contenção e uma seriedade grave,
onde o sorriso da afabilidade não deixa de transparecer, admiro a
impassibilidade com que, ainda jovem, respondeu sempre às agressões de tantos
que o deveriam apoiar, ao invés de o agredirem de todas as formas, creio que
com oculta admiração pela coragem que a eles faltou de assumir uma dívida como
mancha nacional que se impunha saldar a todo o custo. Tirando um vasto grupo dos
do partido que sempre o apoiou (os do escol grulhador adoptando a seca ou feroz
atitude da contundência verbal raciocinadora), além dos da coligação, tantas
vezes também enxovalhados mas assumindo a conduta que se impunha e muitos
foram, no companheirismo mosqueteiro da nobre conduta - que outra não fora
possível no contexto criado - foi atroadora a contundência do escol ou os
obstáculos criados por todos os mais da oposição ferrenha, indiferente a
valores e ao país e papagueadora dos bordões da fácil demagogia.
E daí não arreda pé, mesmo agora, que poderia tentar
reconquistar uma população que lhe foge, de um novo governo que se vai
mantendo, remendando buracos e abrindo mais fendas, sempre convicto de que não
chega a estoirar. Pedro Passos Coelho, como bem diz o Editorial do Público de
15/8, “não vive para sondagens”. Apenas porque é honesto. Muito gratos lhe
ficamos por esse exemplo aos novos e
agrado aos velhos.
Editorial
Sobre
o estilo de Passos Coelho
15/08/2016
Se há coisa que se pode dizer sobre Pedro Passos Coelho, sem
criar qualquer polémica, é que é um político que não vive para as sondagens.
O
ex-primeiro-ministro do PSD nunca se posicionou como líder que quer agradar,
que antecipa o mood nacional e diz o que os portugueses querem ouvir.
Quando
fala, percebe-se que Passos acredita no que diz e que quer dizer as coisas como
pensa que elas são, por desagradáveis e duras que se revelem. No
partido, alguns dos seus seguidores, como o jovem Hugo Soares, vice-presidente
da bancada social-democrata, vêem-no como o homem que “fala verdade aos
portugueses” e assume com orgulho os custos políticos resultantes desse estilo.
Mas
não é fácil para muitos sociais-democratas, que perderam o poder e querem
regressar a ele depressa, continuarem a ouvir o discurso negativo, técnico,
financeiro, económico, derrotista, da catástrofe e da desgraça, que Passos não
quer largar.
Marques
Mendes, que já foi líder do partido e agora tem a vida simplificada como
comentador na televisão, sugere que Passos deve “mudar o discurso”, demasiado
concentrado no passado, e propôs uma fórmula: “As pessoas querem ouvir falar no
futuro”, querem um discurso “gerador de esperança”, “mais abrangente” e voltado
para questões “sociais, culturais e científicas”. O mesmo dissera Miguel
Albuquerque no congresso de Espinho, ao perguntar “se o PSD tem a capacidade de
apontar caminhos mobilizadores para o futuro” e ao afirmar que “o PSD precisa
de mudar de registo” e de se “abrir à sociedade”.
Para
o partido, Marques Mendes quer “figuras do futuro”, Albuquerque quer um “novo
paradigma”. Muitos, sem vontade de o dizer abertamente, partilham em off esta
mesma leitura.
Passos
Coelho sabe tudo isto. E o que fez no Pontal, o primeiro tiro da rentrée
política portuguesa? O oposto. Centrou-se na economia e não falou do futuro,
nem da cultura, nem da ciência, nem dessa “luz de esperança” que o partido lhe
implora.
Mas
porque haveria Passos de mudar o discurso se ele acredita que a dose de
austeridade que infligiu a Portugal foi a certa? Se não concorda sequer com os
que, dentro do próprio PSD, criticam as medidas aplicadas aos mais pobres e aos
reformados?
Para
o bem e para o mal, que Pedro Passos Coelho seja e mostre o que é. Que não se
transforme num político demasiado artificial em nome do partido ou da
estratégia de regresso ao poder. Do mesmo modo, deixem António Costa
ser “irritantemente optimista” e Marcelo Rebelo de Sousa "demasiado
hiperactivo"
Mudem
os líderes e faça-se o debate dos programas e das ideias. Mas deixem os estilos
em paz. Se acreditam que Passos não é o que o PSD precisa - e há boas razões
para pensar isso -, substituam-no.
Os
políticos não podem mudar de personalidade quando há um novo ciclo e calçam
novos sapatos. Isso é o mínimo que lhes podemos pedir.
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