segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Como um refrão



O ponteiro virou de rumo. Os atentados terroristas são produto não de uma trupe fanática islamista, ou jihadista, que descendem também dum hábito ancestral, já patente na Bíblia, desde Caim e Abel, de bulha constante pela posse de terras,  reforçado, nos novos tempos de tanta convulsão, com a criação relativamente recente do Estado de Israel à custa da Palestina, que nos tornavam, aos da direita xenófoba e racista, apoiantes da criação desse Estado, indemnizador dos sacrificados judeus às mãos abjectas dos nazis, e admiradores dos americanos e outros povos europeus protectores do mesmo Estado, e combatentes das esquerdas, que esses palestinianos representavam, como outros antes deles - os terroristas que pretendiam retomar as suas terras aos colonizadores europeus, industriados por Moscovo com as directrizes da sua cartilha, que já tanto os servira, aos «moscovitas», alastrando pelo mundo. Em meio disso, relembro o demoníaco aiatola Khomeini substituto do xá do Irão, Reza Pahlavi, o que a todos nós causou muita pena, porque ocidentalizara o seu país e tivera uma beldade infeliz por esposa, que, por ser infértil, se vira obrigado a substituir por outra esposa também bela, que lhe deu lindos filhos, para a continuação do seu governo, divórcio que fora inútil, depois se viu.
Mas o artigo  de Alberto Gonçalves só se foca nos ataques terroristas de agora, europeus, que por serem tantos e inesperados e do continente, já os democratas começam a atribuir aos da direita antidemocrática, que não querem cá essas trupes fanáticas e despudoradas do novo Estado Islâmico, e por isso lhes atribuem sentimentos de racismo contra a falta de integração dos migrantes, daí que pratiquem muitas dessas barbaridades, tese que Alberto Gonçalves desfaz, numa espécie de discurso argumentativo poético, em que a expressão extrema-direita xenófoba e racista funciona como estribilho de troça, embora muitos actos tresloucados possam, de facto, pertencer a vinganças de indivíduos tresloucados ou falhados na vida.
E o segundo texto, avesso a Obama, defensor de Trump, revela facetas deste que o impõem como possível herói, num país de facto grande, mas sem a certeza dos resultados, caso seja escolhido, num mundo extremamente complexo.

Uma falsa ameaça
Alberto Gonçalves
DN, 3177716
É absurdo atribuir à extrema-direita xenófoba e racista os recentes atentados na Europa. Embora os autores dos atentados alegadamente exibam um passado de militância na extrema-direita xenófoba e racista, e movimentos da extrema-direita xenófoba e racista os reivindiquem, é preciso não confundir estes elementos radicalizados com a extrema-direita xenófoba e racista em geral. Felizmente, a vasta maioria da extrema-direita xenófoba e racista é constituída por gente pacífica que não se revê em acções violentas. Uma ocasião, aliás, até vi um líder da extrema-direita xenófoba e racista condenar estes excessos.
A maior ameaça que o continente hoje enfrenta não advém da extrema-direita xenófoba e racista, mas justamente dos populistas que, aqui e ali, apelam à respectiva discriminação e, quiçá, erradicação. É fundamental que o discurso do ódio não prevaleça sobre a concórdia entre indivíduos de todas as crenças e convicções. Uma civilização tolerante não pode tolerar uma existência subordinada à desconfiança e à mentira. Falemos da mentira.
Há um factor que desmonta imediatamente a "narrativa" (desculpem) que responsabiliza a extrema-direita xenófoba e racista pelas matanças em curso. De acordo com as informações reveladas pelas autoridades, é notório que os protagonistas de esfaqueamentos, degolações, explosões e atropelamentos em série pertencem a um de dois grupos: a) sujeitos com problemas psiquiátricos, leia-se doentes carenciados da atenção que, evidentemente, a medicina não lhes prestou; b) sujeitos com problemas de integração, leia-se vítimas de governos incapazes de responder com políticas de apoio aos anseios dos filhos da extrema-direita xenófoba e racista. Vamos acusar a extrema-direita xenófoba e racista pelas proezas de pobres malucos e marginais que nós, enquanto sociedade, não soubemos tratar e acolher? Não faz sentido.
O que faz sentido? Antes de mais, importa conciliar discursos. Se defendemos que as chacinas não estão relacionadas com a extrema-direita xenófoba e racista, é chato, principalmente para a coerência argumentativa, defender em simultâneo que a extrema-direita xenófoba e racista se limita a reagir a intervenções abusivas dos poderes ocidentais.
Depois, para não publicitar os ideais de organizações autodenominadas de extrema--direita xenófoba e racista - e que, escusado acrescentar, não representam a extrema-direita xenófoba e racista - é necessário proibir a divulgação de notícias de novos atentados. Sempre que um infeliz, convencido de que é membro da extrema-direita xenófoba e racista, aviar meia dúzia de transeuntes a golpes de catana, os media terão de guardar segredo do caso sob pena de pesada multa. Mesmo as testemunhas sobreviventes estarão obrigadas ao silêncio, o que, dado que à cautela o melhor é nem chamar os paramédicos, não será difícil. Por fim, o Estado enviará às famílias dos falecidos uma cartinha a informá-las de que os ditos emigraram sem bilhete de regresso.
Se a coisa correr bem, os assassinos/ doentes/estigmatizados em causa continuarão a dizimar quem lhes surgir pela frente, numa sucessão de incidentes inexplicáveis que, em prol da convivência sadia, serão ignorados sem piedade. Em vez de perder tempo com irrelevâncias, o jornalismo passará exclusivamente a cobrir a engraçada caça aos Pokémons, a pré-época da bola e, mediante reportagens na praia, a curiosa circunstância de o Verão ser uma época quente. É verdade que, pelo meio, haverá centenas ou milhares de inocentes mortos, e um pavor sem remédio. Porém, é um pequeníssimo preço a pagar pelos valores multiculturais, multi-ideológicos e multiusos que nos definem. A extrema-direita xenófoba e racista merece o nosso respeito. E um abraço amigo.
Sexta-feira, 29 de julho
Dois socialistas, uma comédia
Enquanto comentava o atentado de Munique, Barack Obama largou uma graçola sobre a emancipação das filhas. O vasto currículo de participações em talk shows e rábulas cómicas habilitou-o a proezas assim. Infelizmente, nem sempre o habilita a discorrer sobre assuntos graves. E se é verdade que o sr. Obama deixa a América em estado razoável, convinha apurar se isso acontece graças ao seu intervencionismo ou apesar dele. As almas com "consciência social" acham que é graças a ele, e não graças ao país que, para pavor dos sensíveis, é bem capaz de eleger Trump. Contas feitas (55 mil dólares de PIB per capita; desemprego abaixo dos 5%), os americanos são umas bestas.
Fica por explicar a aversão que os sensíveis daqui dedicam a Trump. O homem parece acreditar piamente nos benefícios do investimento estatal, do incentivo ao consumo e das obras públicas. O homem é protecionista na economia. O homem, avesso a aventuras militares no exterior, é caseirinho em política externa. O homem desconfia da Europa e da NATO. O homem desfila a dose bastante de anti-semitismo. O homem tem todas as características de um socialista, restando apenas apurar se, como o socialista a que possivelmente sucederá, está a brincar com coisas sérias. Ou se, como os nossos socialistas, leva a sério brincadeiras.
O facto é que, lá e cá, Trump é odiado pelos seus semelhantes e, sobretudo lá, venerado por quem devia odiá-lo. O mundo é um lugar complicado. E, frequentemente, desagradável.

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